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O BANCO SANTO E O GESTOR BENTO





O BANCO SANTO E O GESTOR  BENTO

Estamos em pleno Agosto, supostamente na Silly season, que de tola não tem nada, a não ser o papel que muitos Portugueses desempenham durante a mesma. Na verdade, durante este verão, que todos desejaríamos calmo e tranquilo, tem acontecido uma verdadeira hecatombe de acontecimentos financeiros, económicos e políticos, que não têm deixado os Portugueses descansar, não do stress do trabalho, porque o não têm, mas da azáfama da busca de um emprego, ou pelo menos de uma forma de conseguir o sustento da família.
Perante tamanha ebulição dou comigo a pensar que nos dias que correm é difícil sentirmos o orgulho de ser Português, que tão importante é na condução estratégica deste país, num contexto universal. Não quero dizer com isso que os nossos governantes tenham alguma vez dado indícios de sentir esse orgulho, pois sempre  evidenciaram uma desesperante ausência deste. O que pretendo dizer é que eu costumava senti-lo e exortar os outros a alinhar pelo mesmo diapasão, mas dei comigo a pensar o quão difícil é encontrar argumentos que suportem esse nobre sentimento.
Qualquer Português, que reflita um pouco sobre os acontecimentos recentes (basta olhar para aquilo que se passou nos últimos três ou quatro meses!), se depara com um conjuntos de factos e decisões incompreensíveis. É como se os decisores vivessem num mundo “faz de conta” e tomassem decisões na convicção de que estas não têm um impacto real, mas apenas afectam um qualquer mundo virtual onde a situação económica, financeira e política do país pudesse ser simulada. Senão vejamos:
Governo e oposição digladiam-se tal qual dois passageiros que disputam o melhor assento numa carruagem, ignorando que o comboio segue a toda a brida para o abismo, ao invés de unirem esforços para alterar a sua rota. Será que não percebem que também eles acabarão no fundo do abismo? Ou então, estão a preparar o salto para o comboio europeu, ignorando paulatinamente o desastre que espera os restantes portugueses?
 Sendo certo que todos eles têm responsabilidades  a assumir, quanto ao estado a que chegamos, porque não têm a coragem de procurar, em conjunto, um solução?
O Tribunal constitucional toma decisões, com carácter urgente (naturalmente que querem ir de férias descansados!), suportando-as em razões de ordem política e esquecendo que a sua competência é exclusivamente constitucional. Estamos perante a perversão dos princípios da ordem e da legalidade, por isso as decisões são tomadas por frágeis maiorias e não por maiorias alargadas ou por unanimidade!
As entidades reguladoras (Banco de Portugal e CMVM), depois de falharem redondamente na prevenção, não evitando o descontrole que culminou no colapso de várias entidades financeiras, impõe soluções, ditadas pelo Banco Central Europeu, onde Portugal mais uma vez é utilizado como cobaia, mas mais grave do que isso fica isolado na assunção dos eventuais custos financeiros da solução, ilibando o sistema financeiro europeu. Eis um bom exemplo da ausência da tão apregoada solidariedade europeia! Depois venham-me cobrar a ajuda da Europa a Portugal!
A cereja no topo do bolo, bem amarga por sinal, foi a queda do Banco Espírito Santo, cujas consequências ainda estão verdadeiramente por determinar e cujo impacto na economia será seguramente significativo, não apenas em termos económicos e financeiros mas sobretudo em termos de confiança. O Banco de Portugal, empurrado pelo homólogo europeu, tirou da cartola uma solução de fim-de-semana, que tendo sido acordada num domingo, que é dia do Senhor, só pode ter sido adoptada na expectativa de produzir um milagre, até porque se trata de um Banco que era Santo para onde foi enviado um Gestor que é Bento. O meu problema é que por mais competente que seja o Prof. Vitor Bento, e todos sabemos que é, eu duvido que ele tenha o Dom de fazer milagres!
Para fechar a contagem temos os inúmeros casos de corrupção que são um sintoma de uma sociedade sem ética e com uma crise profunda de valores.
Como podemos então ter orgulho Nisto, quando Isto é o pais que temos?
Como podemos exigir aos nossos jovens que sejam os obreiros do futuro, quando o exemplo que lhes damos é de destruição dos fundamentos que eram supostos ser os pilares desse mesmo futuro?
Portugal está em crise, mas mais grave do que a crise económica e financeira é a crise de valores, é a crise da falta de atitude, da falta de ação. Precisamos de reinventar o futuro e para isso temos que nos reinventar as nós próprios, bem como a todas as instituições que regem este país!

Quero voltar a sentir orgulho em ser Português!

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