A PRISÃO O granizo pintou de branco a paisagem. Não durou mais de meia hora, mas a intensidade da saraivada foi tal, que o gelo se acumulou sobre o tereno molhado. O verde resplandecente foi substituído pelo branco baço. Estávamos em Fevereiro, por isso o sol, rapidamente, colocou a cabeça de fora. Era como uma jovem loira, afastando os cortinados para espreitar a rua. Brilhou intensamente. O branco ofuscou. Policarpo arrastou o corpo e veio sentar-se no pequeno jardim. O sol aquecia-lhe os membros entorpecidos pelo frio, que a idade aconchegava em vez de repelir. O andarilho ajudou-o a dar dez trôpegas passadas, até chegar ao seu poiso. Sentou-se. O chapéu de palha protegia-lhe a cabeça e ensombrava o rosto e o corpo rejuvenescia, aquecido pelo sol. Os filhos partiram para longe, espalhados pelo país e pelo estrangeiro, com exceção do mais novo com quem vivia. Ligavam quase todos os dias e vinham quando podiam, mas não era como se vivessem ali ao lado, como nos tempos de anti