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A mostrar mensagens de novembro, 2018

UMA GOTA DE CHUVA

UMA GOTA DE CHUVA A massa de ar frio avançava com lentidão. Não tinha pressa, vagueava pelos céus sem destino. Subitamente sentiu que ganhava altitude. «O que se passa?» Pensou. Quando olhou para baixo percebeu o que lhe tinha acontecido. O choque com o ar quente fê-la subir de forma vertiginosa. A nuvem adensou-se, tornando-se negra como o breu. O seu seio agitou-se e começou a dividir-se em pequenas partículas. Estava prestes a tornar-se o berço de milhões de pequenas gotas. Era a condensação! A agitação era enorme. Os milhões de gostas disputavam entre si a primazia de ser a primeira a saltar. Todas elas tinham um sonho: dar um segundo salto. Um sonho baseado numa lenda muito antiga. Contava a lenda que uma gota que tinha voltado a evaporar-se e saltara pela segunda vez sob a forma de granizo e uma terceira, como floco de neve. Os locais por onde havia passado e as aventuras vividas povoavam o imaginário de todas as gotas. Abriram-se as comportas. Os milhões de gotas, de vá

ISEG

Partilho convosco este marco histórico para o qual, como docente na área da avaliações Imobiliárias e ética, também dei o meu contributo. Parabéns  ao ISEG e a todos os docentes! ISEG–Universidade de Lisboa Earns AACSB International Accreditation Tampa, Fla., USA (25 November 2018) — AACSB International   (AACSB)  announces that Universidade de Lisboa   has earned accreditation for its  Instituto Superior de Economia e Gestão   ( ISEG–Lisbon School of Economics & Management ) . Founded in 1916, AACSB is the longest-serving global accrediting body for business schools, and the largest business education network connecting students, educators, and businesses worldwide. “AACSB Accreditation recognizes institutions that have demonstrated a focus on excellence in all areas, including  teaching, research, curricul

O PAI VEIO NO NATAL

O PAI VEIO NO NATAL Filipe tinha regressado a Portugal fazia três meses. Todos os dias ele prometia a si próprio que no dia seguinte contactaria a filha e a neta. Todos os dias ele quebrava a promessa. Não tinha coragem. Vinha-lhe à memória tudo o que a mulher o fizera passar, com a ajuda do irmão que o odiava. Um ódio estúpido que tinha nascido no dia em que não o apoiou no desenvolvimento de um negócio que entendia ser ruinoso. Fora esse mesmo negócio que tinha levado os dois irmãos à falência, logo após o seu divórcio. Filipe tinha quarenta anos quando se apaixonou por uma mulher dez anos mais nova. A única filha do casal tinha doze anos e o divórcio foi desastroso. Filipe nunca se tinha perdoado por se ter afastado da filha, mas a mulher não lhe deu outra opção. Juntamente com o irmão tinham fabricado uma agressão em que Lurdes era a vítima e ele o agressor. Ele ficou proibido de se aproximar da família. Não aguentou viver perto da filha sem a poder ver e emigrou. Foi viver

INTERJEIÇÕES DO ÓBVIO

INTERJEIÇÕES DO ÓBVIO As imperfeições do traço faziam realçar ainda mais a beleza do nu artístico. A inquietude da imagem, desenhada a carvão sobre a tela, parecia o reflexo da ansiedade que o dominava. Tal como a imagem, estática, presa à tela, parecia querer saltar da parede para o seu colo, ele queria desaparecer daquele local. As quatro paredes do escritório sufocavam-no, oprimiam-no, dando-lhe vontade de gritar. Gritar por liberdade, gritar por uma oportunidade, por um local onde pudesse ser quem era. O matraquear da chuva na vidraça cativou a sua atenção. Ignorou o quadro. Levantou-se e caminhou de um lado para o outro. Estava cansado. Não era um cansaço físico, era algo mais profundo, mais incomodativo. Era uma interrogação sobre o verdadeiro sentido da vida. O sentido da sua vida! A sua ascensão, em termos profissionais, tinha sido meteórica. Aos trinta e sete anos era vice- presidente de um grupo segurador, mas isso, ao invés de lhe dar a satisfação que havia antecip

A ESTAGIÁRIA

A ESTAGIÁRIA Margarida virou-se de rompante, perdeu o equilíbrio e sentiu que se ia estatelar no meio do chão. No último instante sentiu-se flutuar, amparada por uns braços fortes. O odor a perfume masculino inundou-lhe as narinas. Inspirou profundamente e, para além do perfume, sentiu o odor masculino, forte, intenso e excitante. Ficou inebriada! Foi preciso algum esforço de auto controlo para não se agarrar ao pescoço dele e cobri-lo de beijos. Ela era apenas uma estagiária, mas já tinha conquistado a admiração de toda a empresa. A verdade é que conseguia combinar, com excelência, dois grandes atributos: O físico e o intelectual. O administrador financeiro era um homem de quarenta anos de idade, um metro e oitenta de altura e com um charme muito próprio. Era o tipo de homem que fazia suspirar as mulheres que com ele se cruzavam. Era um homem alegre e bem disposto, mas o processo de divórcio porque estava a passar tornaram-no reservado. Estava um homem completamente diferent

O PAI NATAL TEM ASAS

O PAI NATAL TEM ASAS Idaleuza saiu apressada do condomínio, o seu terceiro emprego e correu para apanhar o ónibus. O chiar dos travões fê-la saltar para o lado. «Nem na passadeira?» Tinha que pegar o Julinho, na casa da mãe e fazer o jantar para os três. Sendo mãe solteira, com dois filhos para sustentar, tudo era planeado ao pormenor, desde a forma de gastar o parco rendimento ao próprio tempo. Setenta e cinco minutos depois estava em São Conrado. Após uma hora de caminhada ingreme, a subir a ladeira da favela Rocinha, já com a criança ao colo, estava em casa. As paredes de tijolo nu e madeira e o teto de zinco ofereciam uma proteção mínima. Quando chovia apenas a zona da cama ficava mais ou menos seca. O marido, preso por se ter envolvido com os barões da droga, tinha morrido fazia um ano. A casa, oferecida pelo chefe do bando, tinha sido a única ajuda que recebeu. Sendo uma mulher interessante tinha recebido algumas propostas. «As crianças ficam com a tua mãe ou são entr

A TEMPESTADE

A TEMPESTADE O dia amanheceu lindo. O sol brilhava sob um céu azul resplandecente. Adivinhava-se um dia de inverno frio, mas luminoso. Com a aproximação do fim da manhã apareceram as primeiras nuvens. O dia tinha-se transformado de forma radical. A meio da tarde o céu tinha escurecido de tal forma que o dia se confundiu com a noite. A aragem, que antes alisava o mar, deu lugar a um vento forte que   o encapelou. Quando a noite finalmente caiu, o breu cobriu totalmente a região. O mar e a montanha fundiram-se num só. Eram uma enorme massa negra. O uivo do vento, que nascia no mar, ecoava pela montanha de uma forma sinistra. O vento crescia, multiplicava-se, rodeava cada pico, envolvendo-o de uma forma que parecia querer arrancá-lo do chão. Começou a chover. As gotas grossas caiam furiosamente no chão: como pedradas. A violência do vento arremessava as gotas da chuva conta os troncos dos pinheiros, descascando-os. Os ramos desfaziam-se em destroços e voavam pelo