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A JORNALISTA | PARTE VII | CAPÍTULO 3

A JORNALISTA | PARTE VII | CAPÍTULO 3 – Marcus 


Mónica era uma mulher exuberante que possuía um corpo escultural. Apesar disso, escondia-o atrás de roupas práticas que, não a beneficiando, não conseguiam anular o impacto que tinha no sexo oposto. Estava pronta. Olhou-se ao espelho e sorriu. Estava na hora. Apesar de ter uma cópia da chave decidiu bater à porta. Perestrelo viu o rosto dela pelo óculo e abriu a porta. Ficou embasbacado a olhar para ela, de tal forma que não lhe franqueou a entrada. 

«Posso entrar?» Disse Mónica com um sorriso zombeteiro. 

«Claro… Desculpa!»  

Perestrelo afastou-se para ela entrar, mas continuava boquiaberto. Mónica envergava um vestido vermelho, de tecido, que se ajustava às formas dela como uma luva. O decote, generoso, deixava os seios espreitar como se quisessem libertar-se da prisão que este representava. O colar de pérolas enfeitava-lhe o colo dando um toque de classe ao vestido. Os sapatos de salto alto e a mala de toalete, em pele, complementavam a indumentária. 

«Deixa-me ver-te melhor.» Disse depois de recuperar a presença 

Mónica rodopiou de forma graciosa num passo de dança estudado. 

«Tu és uma mulher bonita, mas hoje estás divinal!» 

«Gostas? É tudo para ti.» Disse coquete. 

«Se gosto? Adoro!» 

Foi um jantar muito agradável. Seduziram-se mutuamente, com Perestrelo completamente rendido. O desejo consumia-o e os seus olhos diziam isso de forma insistente. Quando ela trouxe os cafés para a mesa, ele agarrou-a pela cintura e beijou-a. Ela colou o corpo ao dele, mostrando-lhe o quanto o desejava com um estremecimento. Entretanto, o desejo deve manifestava-se de forma mais evidente. Ela roçou o corpo no dele olhando-o com malícia. Aquilo era demais! Tomou-a nos braços e levou-a para o quarto. Era a primeira vez que estavam juntos, mas entendiam-se tão bem que pareciam conhecer-se fazia muitos anos. Ele gostava de comandar e ela de ser conduzida, reagindo a cada toque dele como se adivinhasse o que este pretendia. Ele foi tudo aquilo que ela tinha sonhado e ela realizou os sonhos dele. Ora meigos e carinhosos, ora selváticos e desesperados, eles foram de Vénus a Sodoma, sem sair do leito. Depois de saciados ficaram abraçados estremecendo de prazer e saboreando o contacto físico. Falaram sobre eles e sobre a vida. Fatalmente falaram sobre a investigação. Nessa altura ele lembrou-se que tinha algo para lhe contar. 

«A Maria Eduarda foi a Genebra, hoje, levantar uns documentos no banco. Eu segui-a e os documentos estão na minha posse.» 

«A forma como obtiveste os documentos pode prejudicar o processo, uma vez que tu foste constituído assistente.» Disse ela de forma séria. 

«Os documentos não interessam para o processo da jornalista. Dizem exclusivamente respeito ao Jair de Lins.» 

Passaram os documentos em revista e delinearam uma estratégia para divulgação dos mesmos. 

«Estás muito pensativo. Existe algo mais que me queiras dizer.» 

«Apenas que te amo.» Disse ele em tom brincalhão 

Ela sorriu e olhou para ele aguardando pacientemente. 

«A Maria Eduarda não tinha de correr o risco de ir levantar estes documentos. Ela está a esconder alguma coisa e, pelo seu comportamento, estava receosa que esta mala tivesse documentos que a comprometessem.» 

Mónica ficou calada o olhar para ele, durante alguns instantes. 

«És capaz de ter razão, mas a verdade é que não há aqui nada que a comprometa.» 

Perestrelo encolheu os ombros e não disse nada. 

«Não me digas que incluis Maria Eduarda na lista dos nossos suspeitos?» 

Ele abanou a cabeça afirmativamente e sorriu. 

Estava decidido Perestrelo iria ao Brasil entregar os documentos ao detetive Marcus. A judiciária tinha conhecimento do facto, mas optou por não fazer uma entrega oficial dos documentos. Assim, não os quis receber deixando ao detetive o ónus da entrega. Os Brasileiros apenas sabiam que os documentos seriam entregues por um detetive particular, desconhecendo o envolvimento formal da judiciária. Mónica fez o contacto e Perestrelo partiu para o Brasil. 

Marcus recebeu Perestrelo nas instalações da polícia, embora estivesse sozinho. Tinha sido promovido a comandante da secção de grandes crimes, graças à prisão de Jair. Era o “homem do momento” no Brasil. Depois de assinar um recibo comprovativo de recebimento pegou no volumoso envelope e retirou os papéis. Perestrelo olhou para ele de forma incisiva. Se o instinto não o enganava, Marcus estava nervoso, embora conseguisse disfarçar o facto muito bem. No entanto, pouca coisa escapava ao olhar aguçado de Perestrelo. A confirmação das suspeitas veio sob a forma de uma pergunta. 

«Está tudo aqui?» 

«Naturalmente. Porquê, estava à espera de algo mais?» 

«Não e simNa verdade, não podia estar à espera de mais porque não fazia ideia de que informação se tratava. No entanto, estava à espera de encontrar, em algum momento, algo sobre a rede de Jair de Lins. 

Perestrelo sorriu e acenou afirmativamente. Foi um sorriso enigmático, mas Marcus não o conhecia, por isso não percebeu. «Será que estavas à espera de alguma coisa que te comprometesse?» Pensou. 

«Estou muito agradecido por ter vindo entregar-me pessoalmente estes documentos. Se existir algo que possa fazer por si é só dizer.» Disse Marcus levantando-se e estendendo a mão. 

Perestrelo agradeceu e abandonou o espaço. Ao fim do dia já estava no avião de regresso a Lisboa. 

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