QUANDO O PASSADO TE ENCONTRA Desceu as escadas do metro cambaleante. Sentia-se vazio. O álcool era a sua única companhia. Tudo na sua vida se tinha esfumado. O emprego fazia um ano que se tinha eclipsado. Era a crise, diziam! O mercado tinha-lhe colocado a sua chancela: aos quarenta e nove anos, era considerado velho. A brilhante carreira de gestor era irrelevante. Tudo na sua vida dele era irrelevante. Ele também era irrelevante. Pelo menos foi aquilo que a mulher lhe disse, essa manhã, antes de o abandonar e após alguns meses de críticas e cobranças, que tornaram a vida um suplício. Ele tinha deixado de ter condições para lhe dar aquilo que ela queria. Tinha investido tudo nela, mas o investimento revelara-se mau. «Não foi para ter este tipo de vida que casei contigo!» Dissera Filipa, ao partir. Tinha sido uma despedia cruel. Porque não a conseguia odiar? Como podia amá-la depois de tudo? O mesmo amor que o tinha ajudado a manter a cabeça erguida iria conduzi-lo às profun