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A mostrar mensagens de janeiro, 2020

QUANDO O PASSADO TE ENCONTRA

QUANDO O PASSADO TE ENCONTRA Desceu as escadas do metro cambaleante. Sentia-se vazio. O álcool era a sua única companhia. Tudo na sua vida se tinha esfumado. O emprego fazia um ano que se tinha eclipsado. Era a crise, diziam! O mercado tinha-lhe colocado a sua chancela: aos quarenta e nove anos, era considerado velho. A brilhante carreira de gestor era irrelevante. Tudo na sua vida dele era irrelevante. Ele também era irrelevante. Pelo menos foi aquilo que a mulher lhe disse, essa manhã, antes de o abandonar e após alguns meses de críticas e cobranças, que tornaram a vida um suplício. Ele tinha deixado de ter condições para lhe dar aquilo que ela queria. Tinha investido tudo nela, mas o investimento revelara-se mau. «Não foi para ter este tipo de vida que casei contigo!» Dissera Filipa, ao partir. Tinha sido uma despedia cruel. Porque não a conseguia odiar? Como podia amá-la depois de tudo? O mesmo amor que o tinha ajudado a manter a cabeça erguida iria conduzi-lo às profun

A JORNALISTA | PARTE V | CAPÍTULO 4

A JORNALISTA | PARTE V | CAPÍTULO 4  – O correio Tal como diz o ditado “Depois de casa roubada, trancas à porta”. Foi isso que eles fizeram. Colocaram um alarme nos escritórios e reforçaram as portas e fechaduras. Não resolvia o passado mas prevenia o futuro. «Continuo sem perceber o que procuravam os ladrões.» Disse Perestrelo. «Efetivamente é estranho. Eles reviraram tudo e acabaram por não levar nada.» Disse Anabela. Era um mistério. O mais irónico de tudo é que os documentos mais relevantes do processo estavam nas respetivas casas e não no escritório. Coincidências!   Estavam os dois no escritório de Perestrelo e tinham acabado de passar em revista os relatórios sobre os vários casos que tinham em mãos. Perestrelo tinha voltado a aceitar casos não patrocinados por ela e isso tinha provocado uma reação negativa por parte dela. Anabela entendia que ele deveria trabalhar, em exclusivo, para ela, fazendo disso uma condição para a continuidade da relação. Ele via as cois

O BEIJO

O BEIJO O teu coração secou! Diziam as amigas. Raquel sentia-se vazia. Ele tinha partido, balbuciando algumas justificações sem sentido. Reteve apenas uma, arrancada a ferros: a outra tinha dinheiro. Tinha sido trocada por uns euros! As amigas diziam-lhe que ela era muito mais mulher e que a outra era dez reis de gente, mas Raquel não quis saber. Doía-lhe demasiado e quando a ferida é muito profunda devemos evitar mexer nela. Tinha procurado muitas formas de acabar com a dor, mas nada a conseguia aplacar. Ela teimava em continuar aninhada no seu peito. Tinha-se aconchegado ali e recusava-se a partir. Amara-o tanto que que se sentia incapaz de amar mais alguém. A verdade é que tinha perdido a fé nos homens. As amigas tinham tentado tudo mas, estivesse onde estivesse, os momentos de verdadeira distração eram fugazes. Rapidamente se fechava sobre si e se isolava do mundo. Fazia mais de um ano que estava só o que para uma jovem bonita, de trinta e dois anos, não e

O SALTO

O SALTO Medo, raiva, fúria, medo outra vez! Estava febril de sentimentos, incapaz de ver o que estava à frente dos seus olhos. Incapaz de ver a inocência! Os olhos esgazeados e raiados de sangue eram o resultado de uma mistura explosiva: álcool e sede de vingança. Não conseguia ver solução, apenas a faca inerte sobre a mesa. Brandiu-a e espantou-se com a facilidade com que ela penetrava a carne. A mancha de vermelho espalhava-se rapidamente pela mesa. Seria vinho ou sangue? O vermelho tingiu a tela por completo. Não conseguiu suportar a visão. Subitamente odiava aquela cor! Levantou-se e jogou a mesa pelo ar, com violência. Viu-a aterrar sobre o corpo inerte e sentiu a pancada como se fosse ele a recebê-la. Pontapeou o banco e a porta. Estava escuro como breu. As gotas grossas da chuva pareciam pedradas, agredindo-lhe o corpo. Isso aliviou-lhe a dor por instantes. Os relâmpagos sucediam-se ao som aterrador dos trovões, iluminando a noite, de forma fantasmagórica. Medo? Medo d

A JORNALISTA | PARTE V | CAPÍTULO 3

A JORNALISTA | PARTE V | CAPÍTULO 3  – Barricado A mulher desceu diretamente para o piso das salas de conferências e misturou-se com eles, aproveitado o facto de muitos se irem render ao vício da nicotina. Ainda bem que estava disfarçada pois cruzou-se com um rosto que conhecia muito bem. No exato momento em que ela saía para a rua, tranquilamente, o empregado do room service fazia a entrega da refeição solicitada, no quarto 1220. Quando chegou ao quarto estranhou o facto da porta estar aberta. Por precaução bateu e chamou, sem que tivesse obtido qualquer resposta. Alguém estava a tomar banho, pois o ruído do chuveiro era perfeitamente audível. Provavelmente só existia um hóspede e estando na casa de banho não o ia ouvir chamar, mas as regras impediam-no de entrar sem o consentimento, dos hóspedes, desde que estes estivessem no quarto. Decidiu espreitar lá para dentro. A porta da casa de banho estava aberta e a água do chuveiro parecia correr sem que ninguém a utilizasse.

Take 3 - amor envergonhado

Take 3 - amor não desejado Quando descobri que a carta que te tinha escrito não estava na gaveta entrei em Pânico. O meu coração adivinhou aquilo que mais tarde a minha irmã me confirmou: A carta estava em teu poder. Fiquei zangada com a minha irmã, mas mais do que isso fiquei com medo de sair à rua, para não correr o risco de te encontrar. Imaginei mil vezes o teu sorriso de gozo ao saberes da minha confissão. Depois de um dia de agonia, apenas ultrapassada pela curiosidade de conhecer a tua resposta, a minha irmã fez-me chegar a tua carta. Ao fim de uma dezena de linhas tive de interromper a leitura, pois as lágrimas que me banhavam os olhos turvaram-me a vista. Todo o meu corpo tremia de emoção e chorei de forma incontrolável. Chorei de felicidade. Como era possível? Tu, um homem sempre rodeado de mulheres bonitas, gostares de mim daquela forma. O meu coração batia tão forte que parecia querer sair do peito e correr ao teu encontro. Era tarde e tive de me cont