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A mostrar mensagens de maio, 2020

AMOR INTOCÁVEL

AMOR INTOCÁVEL André, Hesitei muito antes de colocar no papel estas palavras. Esta confissão dá vida a um sentimento que vivia escondido no cofre do inconsciente e isso obriga-me a lidar com ele. É verdade, confessar, ainda que seja a uma folha de papel, é trazer do mundo dos sonhos para o real, algo que vivia apenas no nosso imaginário. Mas a verdade é que este sentimento é tão arrebatador que não consigo calá-lo por mais tempo. Consome-me este fogo sem chama, mais voraz do que se lavrasse em floresta seca. Todos os dias tento submergi-lo num oceano de deveres e obrigações, mas ele arranja forma de se manter vivo. Sobrevive a tudo e a todos e contra todas as probabilidades. A tua imagem não me sai do pensamento e a vontade de estar contigo consome as minhas forças. O som da tua voz deixa o meu coração em sobressalto, ainda que seja do outro lado da linha. Quando oiço os teus passos, ao fundo do corredor, todo eu me exalto, leda, na antecipação de te ver. O baque do coração, quan

A JORNALISTA | PARTE VI | CAPÍTULO 10

A JORNALISTA | PARTE VI | CAPÍTULO 10  – Bluff noturno A ascensão meteórica devia-se a duas razões: a sua posição e o facto de ter eliminado uma boa parte da concorrência. Estava de pé a olhar o mar. O último piso do edifício antigo, em Copacabana, no Rio de Janeiro, conferia-lhe esse privilégio. Era a partir daí que comandava o seu novo império. Nenhum dos homens o conhecia pessoalmente. Quando os recebia ativava a camuflagem. Estava sempre do outro lado de um vidro, à prova de bala, na penumbra e com a voz disfarçada. Adorava Bruce Springston, por isso se tinha intitulado a si próprios de “O Boss”. As notícias não podiam ser piores. «Os homens não conseguiram tirar nada dele.» Informou um dos sicários. «Como é possível? Nunca vi tanta incompetência num interrogatório?» Disse num tom cortante. «O homem devia ter algum problema. Morreu com a primeira descarga elétrica.» Silêncio. Os homens mexeram-se nervosos. Quando o chefe se calava isso era mau augúrio para alguém. Desejar

A QUARENTENA

A QUARENTENA O vírus estendeu os seus tentáculos a uma velocidade nunca vista. O CARVLOC-32 propagava-se a uma velocidade dez vezes superior ao CORVID-19, que há doze anos tinha assolado o planeta. O mundo ensimesmou-se e o Brasil não foi exceção. A lei marcial foi imposta com a aprovação unânime do Congresso e do Senado e os governadores de estado alinharam pelo diapasão do presidente. Em nome da saúde a democracia foi colocada na gaveta. Rapidamente e de forma gradual, os cidadãos perderam direitos e os estados autonomia, sem que houvesse qualquer oposição. O presidente, Rios Ferraço, era um herói e o homem todo-poderoso do Brasil. No entanto, quando, para contrariar a desinformação que vinha do exterior, ele cortou o acesso a qualquer informação externa a revolta bateu à porta, tendo origem no próprio governo. A remodelação foi feita a uma velocidade relâmpago: Agora ele era incontestado, pelo menos por alguém que tivesse verdadeiramente poder. Todos os dias ele falava ao país. Um

A JORNALISTA | PARTE VI | CAPÍTULO 9

A JORNALISTA | PARTE VI | CAPÍTULO 9  – O motim O pior tinha acontecido. Jair ainda não estava em si. Como era possível ter passado de uma pessoa importante e respeitado a um reles prisioneiro. Os seus inimigos tinham muita influência, só assim se justificava o facto das autoridades brasileiras o tratarem daquela forma. O facto de estar num bloco especial apenas tinha a ver com o acordo de deportação, doutra forma estaria junto com a população geral. Tinha de reativar os contactos antigos. Colocou os seus homens em campo e a busca deu os seus frutos. Quando contou as espingardas, percebeu que ainda havia esperança. Tinha conseguido um telemóvel e encenou uma conversa. Fê-lo de forma a que fosse ouvida por quem ele queria. No dia seguinte, o mundo do crime saberia que ele tinha provas que incriminavam várias pessoas, nomeadamente os assassinos da família de Maria Eduarda. Tinha conseguido juntar meia dúzia de homens que lhe deviam muito, alguns até a própria vida. Era hora de cobran

POR AMOR

POR AMOR Sentado na cadeira da varanda, insensível à beleza que a natureza exibia, de forma exuberante, naquele início de primavera, com a cabeça ente as mãos, ele chorava copiosamente. Tinha perdido tudo. Não se referia aos seus bens, mas aquilo que realmente importava na vida: as pessoas que amava! O desgosto tinha tomado conta dele e incapaz de controlar a dor deixou que ela se esvaísse em lágrimas.   Tudo tinha começado há mais ou menos cinco anos. O advogado do grupo hoteleiro anunciou a sua saída, devido a um convite irrecusável. Diogo, o CFO, entendia as razões dele, mas isso não obviava o problema que tinha entre mãos. A solução apareceu-lhe em cima da secretária, como por milagre. Estavam a terminar a negociação para adquirir um hotel insolvente e era necessário decidir os trabalhadores com que aceitavam ficar: era necessário ficar com pelo menos um, para garantir a qualificação como aquisição de estabelecimento. Sara, a advogada do hotel que estavam a adquirir, embora n

A ACEITAÇÃO

A ACEITAÇÃO No domingo Emília acordou mais cedo do que o Pedro, embora, na verdade, não fosse assim tão cedo. O relógio, silencioso mas desperto, na sua posição de guardião do tempo, ditava as horas, de cima do criado mudo: eram nove horas. Emília sentia-se, simultaneamente, vitoriosa e receosa. Perceber que tinha conseguido encontrar a razão de muitas das suas reações era uma vitória, cujo brilho era toldado pela dificuldade em interiorizar essa conclusão. Racionalmente a conclusão parecia clara e lógica, mas quando se olhou ao espelho surgiram as primeiras dúvidas. O corpo que ela via não correspondia à imagem que guardava de si. Aquela não era a Emília  que queria ver. Pedro aproximou-se sem que ela percebe-se e abraçou-a. Estava colocado por trás dela e, ao mesmo tempo que lhe beijava o pescoço, acariciou-lhe o abdómen. As mãos deslizaram, gentilmente pelo corpo e pararam nos seios, acariciando-os com delicadeza. O rosto dele era o espelho do prazer e ela deixou-se contagiar, vir

A JORNALISTA | PARTE VI | CAPÍTULO 8

A JORNALISTA | PARTE VI | CAPÍTULO 8  – Jair As provas eram claras: Jair tinha feito entrar em Portugal dinheiro cuja origem não conseguia justificar. O crime não era suficientemente grave para o manter preso por muito tempo, mas, dava tempo às autoridades Brasileiras para o acusar de crimes bastante mais graves e solicitar a sua extradição. As autoridades portuguesas apenas necessitavam de o manter preso o tempo suficiente para as brasileiras instruírem o respetivo processo. Os advogados de Jair tentaram tudo para evitar a prisão preventiva, mas os esforços foram inglórios. Entretanto, aconteceu um milagre. As autoridades Brasileiras emitiram um mandato de prisão internacional, em três dias. «Alguém com muito peso no Brasil está interessado na prisão de Jair para a justiça ser tão eficiente.» Comentou Mónica. «Isso não nos diz respeito. O mandato vai ser apreciado e se os tribunais decidirem aceitá-lo ele será deportado. Com alguma sorte, muito em breve ele deixará de ser resp