Paula, Faz uma semana que recebi a tua carta: a tua missiva lançou a minha vida num turbilhão. Apesar disso, não quero que sintas qualquer responsabilidade por esse facto. Na verdade, a tua carta apenas veio questionar os fundamentos da minha atual relação. Há um ano atrás, a ausência de resposta da tua parte deixou o meu orgulho ferido, mas aceitei-a pois sabia que escrever uma carta de amor a uma mulher casada era uma grande ousadia, sujeita a uma não resposta. Nunca imaginei que estivesses a passar por um processo de divórcio, caso contrário não teria saído do teu lado. Apesar disso, recebi a tua carta com um sentimento de raiva que nem eu consigo explicar. Vinha trezentos e sessenta e cinco dias atrasada. Exatamente o número de dias que eu tinha gasto a procurar esquecer-te. Decidi nem sequer a ler. O mais provável era tratar-se de um “sermão”, que era aquilo que menos precisava na minha vida. Ao invés de a jogar no lixo, deixei-a dentro do livro que e