A AMIGA DO IRMÃO Amélia era a todos os títulos o melhor partido da aldeia. Filha de um abastado proprietário, dividia o património com a irmã mais velha, sorte que o pai lamentava, pois sempre tinha querido um filho varão. Isso não o impedia de amar as duas filhas ao ponto de as idolatrar. Queria que elas tivessem uma sorte diferente da sua, a começar pela educação, pelo que eram das poucas moças da aldeia que estudaram até ao sétimo ano do liceu. A universidade era outra história: ele não estava preparado para as deixar ir, sozinhas, para o Porto, cidade mais próxima de Vila Real, onde a podiam frequentar. A irmã nunca quis estudar, mas Amélia ainda tentou, mas mesmo com o apoio da mãe, uma mulher com visão, foi tudo em vão. «Não quero sequer imaginar a minha filha sozinha, no meio do bando de galifões, que são estes pretendentes a doutores!» Manuel conheceu Amélia quando estava no quinto ano. A primavera tinha começado e ele fazia o caminho entre a casa e a escola a pé, com o irmão.