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A mostrar mensagens de setembro, 2018

O PASSAGEIRO

O PASSAGEIRO Sentada na coxia da fila nove ela viu-o assim que ele entrou no avião. Não era um homem bonito mas algo despertou nela um interesse que não conseguia definir. Tratava-se de um jovem alto e musculado, com ar duro e aparência robusta. Apenas a ligeira proeminência abdominal destoava na figura atlética. «Partilhamos os prazeres da mesa!» Pensou ela. O seu coração bateu ligeiramente mais acelerado quando percebeu que ele se iria sentar a seu lado. - Dá-me licença por favor? A voz dele era máscula, mas suave como uma carícia. Ela levantou-se para ele se sentar junto à janela. Ao rodar para lhe dar passagem não se afastou o suficiente e o braço dele roçou-lhe o mamilo direito. Uma descarga elétrica percorreu-lhe o corpo. - Desculpe! Disse ele com um sorriso. Ela corou. Assentiu com a cabeça esboçando também um sorriso. A viagem para São Paulo iria demorar dez horas pelo que se ajeitou no assento tentando ignorar o companheiro de viagem e dormir.

O JULGAMENTO

O JULGAMENTO Sentado na sala do tribunal, ladeado pelos restantes réus, sentia que estava no local errado. «Como é que eu puder deixar que me colocassem nesta situação?» Interrogou-se. O advogado de acusação acabava de expor os factos e solicitar a condenação. Ele era acusado de violação. «Violar quem ou o que? Como posso ser acusado com a fundamentação de que estive ausente?» Pensou. Olhou à sua volta para se certificar de que aquilo era real. As feições dos restantes réus estavam crispadas. Espelhavam o medo que lhes enchia a alma! Não era um sonho, ele estava mesmo a ser julgado. Tudo tinha começado com a candidatura ao curso de engenharia informática do Instituto Superior Técnico, em Lisboa. Apesar da média excepcional tinha entrado à tangente. As médias de entrada para o curso de informática tinham aumentado de forma abrupta e imprevisível. A verdade é que o curso se tinha tornado um dos cursos com mais saída, em termos profissionais, mas isso não era uma coisa rec

Entre o Sono e o Sonho

Mais um lançamento da Antologia de Poesia Portuguesa Contemporânea, da Chiado Editora, onde participo com um poema da minha autoria, com o título "Vida"

PRAIA

A PRAIA Ele estava física e mentalmente esgotado. Pronto para desistir. O pequeno canavial e a sombra da figueira do pequeno oásis pareceram-lhe um paraíso. Sentou-se e deixou-se vencer pelo cansaço. A viagem tinha começado algum tempo atrás. Depois de um ano muito difícil e trabalhoso, o último ano do curso, ele necessitava de férias. A ideia surgiu de forma espontânea sem se saber bem de quem. O grupo de amigos iria fazer um atravessamento do deserto. Era uma semana de caminhada, a pé, até ao mar. O penúltimo dia começou cedo. Para melhor apreciarem o nascer do sol, já caminhavam fazia duas horas, dispersaram-se ao longo da duna. A tempestade surgiu do nada e apanhou-os em pleno ato de observação do astro rei. Ele encontrava-se numa das extremidades do grupo e tentou aproximar-se dos restantes, durante a tempestade. Enfrentá-la e caminhar durante a mesma,  foi um erro tremendo que poderia vir a revelar-se fatal! Quando a tempestade amainou ele percebeu que tinha cami

VIDA

VIDA Sobre o leito fino de uma folha do canavial, Em madrugada fria, ainda tardava a aurora… Para dar vida a um ser cristalino e angelical, Fundem-se aos milhares as partículas, noite fora. Que suave embalo, por doce folhear acompanhado! Sonhas acordada, com um mundo belo e encantado. Em harmonioso balanço, por entre laivos prateados, Uma simples resposta ao brilho ofuscante do luar. No topo das dunas, por muralha de canas rodeado, Admiras o reflexo da lua que se espelha no mar. Entre as ameias oscilantes, formadas pelo canavial, Vives como uma princesa, refugiada no teu pedestal! Esconde-se a lua, mergulha o teu mundo na escuridão! Adormece a natureza, embala-te a brisa da madrugada. Raia a aurora, entram os elementos em ebulição, Acordas em sobressalto, abres os olhos apavorada. Era perene a vida que desejavas, de desespero é o momento. O fino leito que outrora idolatravas, é agora motivo de desalento. Tremulam as canas, são moment