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A mostrar mensagens de agosto, 2018

A JANELA DA CORTINA VERMELHA

A JANELA DA CORTINA VERMELHA O julgamento com falta de conhecimento é o pior dos julgamentos Ela era apenas uma sombra cosida com a cortina translúcida. Era a única cortina vermelha. Ele vigiava a janela constantemente, mas sem qualquer resultado. Todos os dias, de manhã e à noite, Rui abria a janela do seu quarto na expetativa de ver aparecer a face que ele ansiava por conhecer. Tudo tinha começado há dois meses atrás. Rui era um jovem pacato, que frequentava o curso de engenharia e que dedicava mais atenção ao estudo, aos jogos de computador e aos filmes, do que às raparigas. No início, isso tinha feito alguma confusão aos pais, mas rapidamente se habituaram à ideia. O amor parecia despontar mais tarde do que na geração anterior. Fruto dos tempos! Era, no entanto, um jovem muito interessante: tinha um metro e oitenta de altura, cabelos castanhos e uns olhos que mudavam de cor consoante o humor e que eram a perdição das mulheres. Naquela manhã de sábado ele estava

NONAGENÁRIA

NONAGENÁRIA Num orgulhoso carrapito, finos, leves, ostentas cabelos alvos. O rosto, doce e afável, pelas navalhas da vida foi recortado. O olhar, calmo, doce e meigo, poisas em nós. Estamos salvos! Com a força da mente moves o corpo já velho e cansado. Com serenidade, sobes mais um degrau, na escada da vida. Com simplicidade, colhes o afeto de uma família agradecida De olhos abertos, sonhaste com a felicidade dos teus filhos. Nos sonhos, em sobressalto, abriste mil portas para o futuro. Em silêncio, rezaste para os livrar de trabalhos e sarilhos. No peito, um desejo ardente: Que estejam sempre seguros. Saudosa da chegada, sofres por antecipação a nossa partida. Efémero é o momento, mas muita é a alegria sentida. No peito, um sentimento que não se esgota: é o amor de mãe. Em doses infinitas, simultâneas, puras e de insana equidade. Dedicas aos sete filhos que no ventre geraste e o mundo tem. A todos por igual, sem reservas, sem l

SER MÃE

SER MÃE Ser mãe é amar, porque mãe é igual a amor. Eu não sei o que é ser Mãe! Eu não sei o que é ser mãe, porque não sei o que é gerar sete filhos. Trazê-los no ventre nove meses e depois ter de os lagar no mundo. Sentir que por mais que os ames, deixaste de ter a capacidade de os proteger, como só uma mãe sabe fazer. Eu não sei o que é ser mãe! Eu não sei o que é ser mãe, porque não sei o é vê-los chorar com um sorriso tranquilizador, enquanto por dentro choras com eles. Porque não sei o que é vê-los sofrer, dando-lhes amor e carinho, desejando sofrer por eles, para lhes aliviar a dor. Eu não sei o que é ser mãe! Eu não sei o que é ser mãe, porque não sei o que vê-los partir, ainda que regressem ao fim do dia. Não sei o orgulho que sentes ao vê-los regressar inchados com novos conhecimentos. Convencidos que tudo sabem e tu consciente do muito que têm para aprender. Eu não sei o que é ser mãe! Eu não sei o que é ser mãe, porque não sei o

LINHAS TROCADAS

LINHAS TROCADAS Ciúme: o veneno do amor Luísa e Madalena eram duas gémeas, filhas de um coronel militar de temperamento austero. Apenas aos dezoito anos ganharam alguma liberdade para sair, mas mesmo assim sentido o controle apertado do pai. Madalena era a mais bonita, mas as ambas tinham o cabelo castanho claro, olhos azuis e um corpo de guitarra. O que lhes faltava em perfeição física era compensado em jovialidade e boa disposição. Onde elas estivessem não tinha lugar a tristeza. Fazia algum tempo que Madalena namorava com o Jorge, embora Federico disputasse também o seu coração. Jorge era um rapaz simples e de origens humildes, que subestimava quer o seu aspeto físico, quer as suas capacidades. Por sua vez, Frederico era um jovem nascido numa família abastada, jogador de rugby, baixo e entroncado, com espírito conflituoso, mas convencido que era o maior. Apenas graças à arte do Jorge, em evitar conflitos, não tinham ainda chegado a vias de facto. Apesar de

O APARO

O APARO Os falhanços são degraus da escada da vida. Cada um decide como os enfrenta. Um aparo tinha acabado de nascer. Ainda na linha de montagem, enquanto ganhava forma, já prestava atenção a tudo o que o rodeava. Foi aí que nasceram os primeiros sonhos. Ele queria ser escritor! Uma caneta, alvíssaras por uma caneta! O aparo bem protestava mas teve que esperar, teve de aprender, teve de estudar, até dominar a técnica de se acoplar a uma caneta. O jovem e impulsivo aparo mal podia esperar por esse dia. Devorara todo o conhecimento, dominava todas as teorias, era um As! Certa manhã, sem aviso prévio, foi acoplado a uma caneta: jovem, elegante, brilhante, os dois formavam um conjunto imponente. À sua frente estava uma folha de papel em branco. Nesse momento ele reviu os grandes escritos, desde o tempo dos papiros até à atualidade. Mentalmente, recordou todos os grandes artistas. Ele seria como eles! A concretização dos seus sonhos estava a dois passos de distância

ALMA GÉMEA

ALMA GÉMEA Alma gémea: Uma ilusão ou uma realidade? Ele estava apenas a uns centímetros de distância. O bafo quente da sua respiração batia-lhe na cara. Hipnotizada não conseguia desviar os olhos daquele rosto. «E agora?» Pensou. Fazia algum tempo que ela tinha os sonhos. Eram sonhos muito eróticos que quase nunca envolviam o marido. Casada fazia dois anos, depois de um namoro de seis meses, sentia que lhe faltava algo. Amava loucamente o marido mas a relação sexual com este não a satisfazia completamente. De entre os seus namorados apenas um a satisfizera em pleno. Tratava-se de um homem casado que a levara a experienciar coisas que ela nunca imaginara. Coisas de que gostou. Gostou demais e das quais sentia saudades! «Porque é que os jovens não sabem fazer sexo como tu?» «Provavelmente sabem, mas só depois de casados é que percebem o quanto as mulheres gostam deste tipo de variações. O sexo é entendido de uma forma muito puritana e a utilização do corpo co

O AMIGO

O AMIGO A amizade não tem preço nem obedece a uma contabilidade a não ser a dos afetos! A distância que os separa continua a ser a mesma que era há dez anos atrás. A relação, essa sofreu a erosão do tempo e dos factos! Estávamos em 2007. Portugal vivia um momento eufórico. A sensação geral era de que existia dinheiro para tudo. Foi uma sensação que saiu cara a muitos portugueses! Patrick era um gestor bem sucedido, com uma formação sólida e uma carreira estável. O telefonema foi uma agradável surpresa. Ao ver o nome associado ao número a sua memória recuou ao final dos anos setenta. Patrick e Faustino eram os melhores amigos. Conheceram-se em Viseu, terra natal dos dois, no nono ano e apenas se separaram quando Patrick foi estudar para Lisboa. Faustino seguiu o seu exemplo no ano seguinte, tendo ido para o Porto, depois de um ano a melhorar a média. Apesar da distância a sua amizade manteve-se forte e sempre que podiam estavam juntos. Inevitavelmente, nas férias