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A mostrar mensagens de junho, 2019

A NOTICIA

A NOTÍCIA A casa era recente. Tinha sido concluída não havia cinco anos e, tal com era uso, tinha, no piso térreo, um ladrilho para as malhadas, uma adega e várias cortes: para as vacas e para os porcos. As paredes exteriores eram de perpianho duplo até à altura do primeiro piso e de perpianho simples a partir daí. O soalho era de madeira e as telhas suportadas por uma estrutura de feita de carvalhos e pinheiros, que tal como o soalho, tinham sido cortadas nas suas propriedades e aparelhados na serração, de Vila Real. Decorria o ano de 1967 e Portugal era um país fechado sobre si próprio. Fernando era transmontano, mas apesar do isolamento da terra, já tinha passado dois anos emigrado, um na França e outro na Suíça. Era um homem inconformado, mas tinha-se cansado de ser explorado e, para além disso, tinha saudades da família: a mulher e cinco filhos. A pequena propriedade, de que era dono, não lhe dava o rendimento de que necessitava para dar uma educação esmerada aos filho

CARTAS DE AMOR - RESPOSTA AO AMOR REJEITADO

Reposta ao amor rejeitado Tiago, Li a tua carta quando a recebi e ri-me de escárnio. Eu tinha conseguido tudo aquilo que queria e naquele momento o teu lamento pareceu-me simplesmente patético. Hoje, volvidos nove meses, releio a tua carta e volto a rir-me de escárnio, mas de mim própria. Leio-a novamente e a única coisa patética que consigo encontrar é o meu comportamento disparatado, infantil e cruel. O ridículo da situação é que hoje quem sente a crueldade na pele sou eu, com a diferença de ter sido eu a causadora da mesma. Aquele que pensava ser o homem da minha vida demonstrou não ser mais do que um garoto mimado, para quem eu não fui mais do que um guardanapo a que se limpou e que jogou no lixo, depois de usar. Depois disso tive outras relações, nenhuma delas duradoura e em nenhuma delas encontrei um amor como o teu. Hoje tenho consciência que tinhas por mim um amor profundo, verdadeiro e que podia ter durado toda a vida. Não deixa de ser estranh

JORNALISTA | PARTE III | CAPÍTULO 2

JORNALISTA | PARTE III | CAPÍTULO 2  - Pânico na LTCBK Jair de Lins tinha regressado do Luxemburgo fazia uma semana. A contenção que tinha feito do seu pequeno deslize tinha sido satisfatória, considerando que a razão da alteração do negócio tinha sido mantida em segredo. O que ele não esperava era que os restantes sócios o viessem a questionar sobre os motivos da alteração das condições. Alguém lhes tinha chamado à atenção para o facto. Não podia ter sido a equipa interna porque essa tinha ficado maravilhada com a performance dele. Só podia ter sido Cristine Spruit. O melhor era aguardar. Os sócios tinham todos esqueletos no armário por isso evitavam trazê-los para a luz do dia. Se alguém estava disposto a tal, isso era mau sinal para a sobrevivência da sociedade. Na verdade, isso não o surpreendia dadas as movimentações de bastidores que haviam começado logo após o assassinato da jornalista. As reflexões foram interrompidas pelo toque do telefone. «Dr. Jair, tem o Sr. Kodi

O PODER DA IMAGEM

O PODER DA IMAGEM A sacristia estava cheia. Era sempre assim no fim da missa dominical. Enquanto o padre despia os paramentos, utilizados na celebração eucarística, primeiro a Estola, depois a Casula em seguida o Cíngulo, que cintava a longa camisa clerical branca e finamente a camisa clerical, os paroquianos iam passando pelo espaço para se despedirem ou para darem dois dedos de conversa. No fim o padre acabava por ficar com uma ou duas pessoas que o acompanhavam até ao carro. Nesse dia a sacristia esvaziou-se rapidamente e o padre estava em vias de ficar apenas acompanhado do sacristão, que arrumava as vestes eclesiásticas no gavetão. O senhor Gerónimo era um dos que ficava sempre até ao fim, mas naquele dia estava com pressa. Quando se apercebeu já ele estava a passar pela ombreira da porta. O padre interpelou-o. «Senhor Gerónimo, posso dar-lhe uma palavra?» O sacristão ficou logo de orelha em pé. Gostava de estar a par de tudo, mesmo quando não lhe dizia respeito. Isso

SÉRIE CARTAS DE AMOR - Resposta ao amor não desejado

Resposta a amor não desejado Luísa, A tua carta surpreendeu-me. Surpreendeu-me e chocou-me. Senti-me incomodado por ser alvo de um amor tão intenso e devotado. Libertei-me do incómodo, enfiando a carta no fundo de uma gaveta e ignorando-a. Não iria responder-te. Esqueci-me da carta mas as palavras que escreveste não me largaram. Elas eram a semente de algo muito poderoso, que eu não identifiquei na altura, mas que encontrou em mim terreno fértil. A relação do momento passou de questionável a insuportável. Fiquei só. A decisão foi minha mas eu próprio não conseguia perceber porquê. Sentia-me ansioso. Tinha a sensação de que me faltava algo que estava mesmo ali ao meu lado. Precisei de um documento e fui remexer na gaveta. Ali estava ela. A tua carta saltou-me para as mãos como se tivesse vida. De forma automática abri-a e li-a. Foi como se tivesse sido atingido por um raio. Não vou dizer-te que fiquei loucamente apaixonado por ti, mas as tuas palavras deram-me um confo

A JORNALISTA | PARTE III | CAPÍTULO 1

A JORNALISTA | PARTE III | CAPÍTULO 1 – A Acusação Anabela Correia ficou em silêncio procurando absorver o significado da informação que o detetive acabava de lhe dar. «Achas que devemos partilhar a informação com a polícia?» Perguntou Perestrelo. «Não somos obrigados a isso. O melhor é guardarmos a informação até se perceber como a situação vai evoluir.» «Amanhã vou falar com a cabeleireira. Ela não prestou muita atenção à mulher misteriosa, mas vamos tentar obter as linhas gerais do rosto par ver se fazemos um retrato robot.» A cabeleireira tinha mudado de ideias. Não queria envolver-se no processo e recusou-se a colaborar. A mudança radical de postura deixou-o desconfortável, sobretudo porque a mulher estava mesmo assustada. «Aqui há gato!» Pensou. Entretanto o caso estava prestes a sofrear desenvolvimentos que poderiam vir a alterar a forma como a advogada e o detetive conduziam a investigação. Mónica Fonseca tinha estado a trabalhar no relatório