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A mostrar mensagens de julho, 2018

UM SORRISO

UM SORRISO Acordou sobressaltada! O som baço de algo a bater na cama foi seguido do contacto. «Será um ladrão?» Pensou. Sim era um ladrão de beijos. Nem os carinhos do marido conseguiram suavizar o acordar. A noite tinha sido terrível e não tinha conseguido dormir com o calor. Quando finalmente saiu da cama já o marido estava na cozinha. O humor era de cão. «Bolas, porque é que tenho de ir trabalhar hoje?» Disse ela, falando com a imagem do espelho. Tomar banho e arranjar-se suavizou um pouco o estado de espírito, mas continuava com uma expressão de poucos amigos. Finalmente dirigiu-se para a cozinha, apresada e com ar carrancudo. «Nem sei bem o que vou comer!» Pensou. Apenas desejava que ninguém se atravessasse no seu caminho, pelo menos até ter tomado o seu café. Mas antes disso ainda tinha de fazer as torradas. «Que saco!» Disse, enquanto abria a porta da cozinha. O marido estava de pé, frente à máquina do café e, quando ela entrou, virou-se com um sorriso rasga

A FLOR

A FLOR Ainda era inverno. Lá fora o vento soprava, frio, intenso, com furor. A altitude do local proporcionava uma vista de cortar o fôlego e uma humidade que fazia doer os ossos. Protegido pela fina camada de terra, o tubérculo latejava. Dentro dele a Flor agitava-se com impaciência: queria conhecer o mundo! Ainda a primavera mal tinha começado e a Flor esticou o primeiro braço tentando colocar a mão de fora. Como quem se espreguiça, esticou os dois braços, depois o corpo todo e o embrião brotou. Os dias estavam mais amenos e cada vez maiores, mas a chuva e o frio continuavam a marcar a sua presença. O sol, esse, espreitava por entre as nuvens. Aproveitava todas as oportunidades, todos os espaços, mas a sua presença era tímida. Quando perfurou a fina camada de terra o embrião encolheu-se com o choque. «Que frio… e esta chuva!» Reclamou. Era tempo de se adaptar. Afinal o mundo não era tão acolhedor como havia pensado. Lentamente, adquiriu a cor verde e foi-se fortalecendo a

LÁGRIMA

LÁGRIMA Uma lágrima nasceu. Mortificada e em conjeturas filosofais sobre a sua origem e o seu destino. Distraída em tais reflexões, nem se apercebeu que o seio que a havia concebido se encontrava em grandes convulsões. Os soluços sucediam-se em frémitos que percorriam todo o corpo, fruto de uma tristeza profunda, com ou sem razão sentida. Cresceu pois sem se aperceber disso. Inchou até que não mais cabia no seu casulo e, sacudida pelos estremecimentos, foi empurrada pelo canal lacrimal. «Meu Deus quanta luz» Exclamou, quando brotou no canto do olho. Viçosa, cheia de vontade de viver! Carregada de planos e expectativas! Caiu. Sem que conseguisse controlar o destino, escorregou, lentamente, pela linda face de uma jovem e foi morrer nos dedos da mão que lhe enxugavam as lágrimas. Mão de mãe. Mão de amor! Um fim simples, sem glória como muitos outros. Nem todas as vidas são de glória, mas todas têm um propósito. Missão cumprida? Sim. Aliviar a dor de quem sofre!

A JANELA

A JANELA A janela: Tanto pode proporcionar uma vista para o mundo como ser uma barreira que nos separa dele... Lá estava ele. Alto, garboso, de cabelos grisalhos, passeando o cão pela trela. Emília era viúva ia para 10 anos. A perca do marido remeteu-a para uma reclusão absoluta. Ela que sempre fora uma mulher ativa e extrovertida tinha perdido a vontade de ter vida própria. Vivia com os seus livros e os seus gatos, aguardando, de forma solitária, as visitas da filha e dos netos. Com as cortinas levantadas ela espreitava o pátio onde todos os dias o homem vinha passear o cão, um pastor alemão jovem e lindo, o que o tornava ainda mais interessante a seus olhos. «A mãe devia sair um pouco de casa. Porque não procura estabelecer contacto com o Sr. Alberto?» disse a filha. «Com quem?» Perguntou a mãe franzindo o cenho. «Não me diga que ao fim de três anos de admirar o homem que passeia o cão no pátio não sabe que ele vive no prédio em frente e se chama Alberto?

A OUTRA

A OUTRA Lisboa, hospital Lusíadas. O monitor do UTI disparou. «Emergência quarto 12» Gritou uma enfermeira. A mulher sentiu que despertava. Na memória, a imagem vaga dos polícias e ambulância «Será que tudo não passou de um sonho?» Interrogou-se. O corpo manietado e aquela sensação de frio, que lhe invadia as entranhas, estavam bem presentes. Tempos horríveis! O medo tomou novamente conta dela e o corpo entrou em convulsões. A visão turva permitiu-lhe distinguir a silhueta familiar do seu carcereiro, debruçando-se sobre ela. «Novamente a tortura!» Pensou em desespero. A vestimenta e máscara, brancas como a cal. «Agora estão de azul?» Perguntou-se.

O RAPTO

O RAPTO I nstintivamente tentou levantar-se. Liberdade, o alimento da vontade! Força, provinha da noite bem dormida. Esforço vão! Raiva. Frustração. Estava de volta à floresta! O corpo manietado e aquela sensação de frio, que lhe invadia as entranhas, eram uma memória bem presente. O medo tomou novamente conta dela e o corpo entrou em convulsões. Tempos horríveis! A visão turva permitiu-lhe distinguir a silhueta familiar do seu carcereiro, debruçando-se sobre ela. «Novamente a tortura» Pensou com desalento. A vestimenta e mascara, brancas como a cal. «Agora estão de azul?» Interrogou-se. Virou a cabeça e viu o monitor UTI. Estava no hospital Lusíadas!

A PENA

A PENA Sobre a folha alva e pura paira, indecisa... Distraída em volteios, qual cavalo de toureio. Aos anseios de alguém corresponde de forma precisa, Busca razões para mergulhar no tinteiro ainda cheio. Mergulha a pique, num rompante, plena de inquietude! Aos desvaneios de seu dono responde com solicitude. Com um frémito lança-se em longa correria… Por vales e montanhas calcorreia o desconhecido. O incógnito desvendas com padrão e bandeira, Dás fama ou sentenceias, seja injusto ou merecido. Que destinos determinas e quem determina o teu destino? São mulheres, são homens, em acessos de desatino. Um jovem estudante, despertando do noturno torpor. Um escritor de veia apurada e musas no camarote. A mão elegante de uma dama versando o amor, Um relatório, seco e monótono, como um serrote. Sobre o papel um longo e negro rasto de tinta… O destino escrito que te engana numa finta. Para diversos fins e de distintas formas usada. Choras as p

POESIA DE UM POR DO SOL

A POESIA DE UM PÔR DO SOL O por do sol não necessita de poesia para o enaltecer, sendo ele um dos   grandes motivos de inspiração dos poetas. Ainda assim, deixo aqui o meu "Por   do Sol",  para vosso deleite ou simplesmente para dar lugar a um sorriso  benevolente. Esvaindo-se lentamente em luminosidade… Caminha o Sol, inexorável, para o seu ocaso. Escoltam-no auras de variável intensidade! Ao longe, expectante, um horizonte raso. Pintas de vermelho o céu azul. Que emoção! Partes, deixando o hemisfério na escuridão. Partiste. Perde-se o brilho que tanto seduz. Ao longe, espreita a noite, calma e paciente… É hora do crepúsculo, reino da média luz. Vive de ansiedade, esse momento marcante. A sombra sobe as montanhas. Aqui vou reinar! Quem reina é a Lua lá do alto a brilhar!

BLOGS DE PORTUGAL

Muito interessante esta ideia de juntar os bloggers todos (pelos menos os tiveram a iniciativa de se inscrever) num único local organizados por temas. Embora seja novo nestas andanças sinto que esta partilha de experiências em várias cores e formatos será uma fonte de aprendizagem cujo valor acrescentado estou certo será significativo. Para o comprovar basta seguir este link. https://blogsportugal.com/

OS SONHOS

OS SONHOS Quase sem fôlego corro na escuridão. Um túnel de negridão adensa-se à minha volta. Agita-se, comprime-me, persegue-me, estendendo as garras para me aprisionar. A instantes flashes de luz invadem-me os sentidos. Não os vejo, nem sequer os sinto, mas pressinto-os. Atrás de mim, a escuridão toma a forma de um monstro que me persegue. Urros horrendos ecoam nos meus ouvidos. O chão treme e um bafo quente atinge-me a nuca, num choque térmico que me faz estremecer. Instintivamente salto em frente. Quero sair dali. Tenho que sair dali! O túnel parece não ter fim… «Talvez haja uma saída lateral!» penso. Mudo de direção, passando junto às garras do monstro, que apenas por sorte não me abocanha. O monstro continua no meu encalço e sinto que me toca suavemente nas costas. «Está quase a apanhar-me» penso. Esbracejo e peço às minhas pernas mais um esforço. Na tentativa de escapar ao monstro, viro repentinamente. O choque é brutal! A cabeçada na mesinha de cabeceira faz-me des

O PARAÍSO

O  PARAÍSO Um grupo de jovens adolescentes, de ambos os sexos, salta o muro do inferno para roubar ameixas, atraídos pelo delicioso cheiro dos restos deixados pelas aves do lado de cá do muro. Roubar fruta é uma coisa que todos os adolescentes fazem desde o princípio do mundo, ou não fosse essa a forma bíblica da transmissão do conhecimento que levou ao pecado original. O calor era insuportável. A serpente levou-os a visitar as fornalhas. Monstros, semelhantes a enormes dragões, sopravam fogo mantendo a lava incandescente. «Este calor é insuportável» disse uma das jovens. «Toma uma ameixa madura e fresca» disse a serpente com um ar sedutor. A montanha fechou-se nas suas costas e à frente deles apenas existia o precipício onde estavam prestes a ser lançados. Apressaram-se a subir a escada de arame que lhes apareceu à frente e estavam a voar. O vento forte obrigou-os a agarrarem com força a escada, mas purgou-os das limalhas e cinzas que marcavam a sua passagem pelo Inferno.