Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de abril, 2019

ALL ABOUT LOVE

ALL ABOUT LOVE Abriu o envelope com sofreguidão. Não esperava receber uma carta dele, muito menos naquela altura. Os olhos percorreram com avidez a meia dúzia de linhas escritas à mão. O choque imobilizou-a. Deixou-se cair em cima da cadeira que gemeu ao sentir o embate. Apanhou a carta, que lhe tinha caído das mãos e alisou-a em cima da mesa. O rosto tornou-se pétreo e o olhar fixou-se no infinito. Tinha sido tudo por amor? Tudo tinha começado alguns anos antes… Sem amor a vida para ela não fazia sentido. Foi por amor que recusou o primeiro pedido de casamento. Não podia aceitar casar com o namorado que tinha assentado arraiais em Lisboa. «Terminei o curso de sargento e quero constituir família contigo.» Foi o pedido de casamento! «Não posso.» Foi a resposta. Ela ficou na aldeia a cuidar do pai que era viúvo. A doença, grave por sinal, levou-o dois anos depois. Tinha começado com aquela turma fazia dois anos e nada a impediria de os levar até ao quarto ano. Foi por

A CARTA

A CARTA Fazia muitos anos que ele tinha partido. O regresso era penoso, mas aos catorze anos de idade até o impossível parece estar ao nosso alcance. As suas lembranças da aldeia eram vagas e não suportadas pela realidade que veio encontrar. Em dez anos muita coisa havia mudado. Aquilo que mais lhe custou foi lidar com a mentalidade tacanha da aldeia. Tinha crescido em Luanda e no meio de pessoas que olhavam o mundo com outra perspetiva. Pertencia ao grupo dos famosos Retornados: os espoliados do vinte e cinco de Abril de 1975. Adaptou-se. Não tardou muito em destacar-se. Era dos poucos jovens que continuou a estudar após a conclusão do nono ano, era um aluno excecional e tinha grande iniciativa. O seu ponto fraco eram as mulheres. Tinha estudado num seminário e isso tinha criado um afastamento em relação ao sexo oposto, que lhe parecia insanável à luz dos catorze anos. Aos dezasseis, embora muita coisa tivesse mudado, ele continuava a sentir-se intimidado pelas jovens. A p

A JORNALISTA | PARTE II | CAPÍTULO 4

A JORNALISTA |PARTE II | CAPÍTULO 4 – Golden Coast Desde o início da investigação que Mónica Fonseca sentia um grande desconforto com o total desconhecimento em relação ao passado de Roger Walker. Uma boa parte do comportamento presente e futuro das pessoas podia ser explicado pelo seu passado e quando se tratava de julgar um caso de assassinato isso era preponderante. O comportamento passado permitia desenhar um perfil e estabelecer um caráter que era determinante no momento de ajuizar a intenção de cada ato, bem como a capacidade de o levar a cabo. Os pedidos de informação aos congéneres Australianos não tinham dado qualquer resultado. Continuavam a aguardar uma resposta. A polícia judiciária autorizou uma diligência extraordinária e Mónica Fonseca estava a caminho da Austrália. Os dois australianos eram enormes. Sentados nos lugares da janela e da coxia, ocupavam completamente os três lugares. Ela ficou parada junto ao número dezoito. O seu olhar oscilava entre o lugar

A REUNIÃO

A REUNIÃO A reunião tinha sido preparada com antecedência e em ambiente de expectativa. As pessoas não se conheciam, embora já tivessem trocado emails e telefonemas suficientes para criarem uma ideia do que poderiam esperar uns dos outros. O debate seria sobre princípios de consolidação, de acordo com as normas portuguesas (SNC) e com as normas Luxemburguesas (LUX GAAP) e a adaptações necessárias para migrar de uma situação para a outra. Era um tema árido mas fundamental para as duas equipas em confronto. A equipa portuguesa era cem por cento nacional. Ao invés, a Luxemburguesa que não tinha nenhum elemento local. Era constituída por uma Espanhola, um Italiano e uma Romena. A troca prévia de impressões sobre o tema tinha gerado alguma fricção pelo que se antecipava uma reunião com algum confronto. Para evitar que se entrasse em discussões infindáveis onde se assumissem posições estremadas e sem possibilidade de regresso, a equipa portuguesa tinha pensado em criar algumas inte

O BARÃO

O BARÃO Viajar é penoso. Desagrada-me o esforço físico associado ao ato. Outra coisa é viajar com a mente ou com a vista. A ironia da minha vida é que sou inspetor escolar! Não tenho poiso certo: um dia estou a norte do país, no outro a sul. Aprecio a sucessão de paisagens, sobretudo quando o horizonte se encurta, fechado pela sucessão de montanhas. A surpresa do que se encontra atrás de cada uma delas fica gravada. Tenho disso boas memórias e a esperança de novas e agradáveis memórias. Por vezes, as gentes e as fainas despertam-me a curiosidade, pela sua diferença e diversidade: A diversidade é espantosa num país tão pequeno! É um entusiamo que desaparece tão rapidamente como floresce. Não sou estudioso desses assuntos, mas a verdadeira razão é que rapidamente me desinteresso. Estou ocupado com as minhas viagens, mas seja por que razão for não gosto de viajar. Faço-o por obrigação. Uma obrigação que não consigo obviar porque implicaria uma mudança com impactos financeiros