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O ALENTEJANO







O ALENTEJANO

Chapéu na cabeça, frente à casa sentado…
Marcado pelo fogo daquele sol ardente!
Pelas navalhas da vida, o seu rosto cortado…
Desperta ao som de um murmúrio incessante.
Regressa à labuta, sinal de descanso terminado.
Ceifando à tardinha, tarefa árdua desta gente!
A natureza, cálida, que a seu lado despertou…
Ele sem saber se esteve acordado ou se sonhou!


Olhar perdido na paisagem, que imensidão…
Seara madura, pelo céu azul, baço, torneada.
Entre alvas paredes serve-se modesta refeição,
Empada de borrego pelo vinho acompanhada.
Pela terra um amor desmesurado, sem condição!
Embarca num Cante que entra pela madrugada.
Salmodia que torna a sua feição mais solene,
Contemplativo, faz da canção arma perene.


Numa vida, despertou para nova jorna!
Na outra, adormeceu para sonhar com o amor…
Desperto, com o que pode realizar, sonha.
Dormindo, labuta nos sonhos, com ardor.
O inconstante sonhar, desperto o torna,
Quando desperto se torna sonhador.
Do sentir duvida aquele que tão bem sente,
No sonho acredita, aquele que vive na sua mente.


Autor: Manuel Mota


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