A DANÇA DAS CADEIRAS
Virou as costas o
António Costa
A um Seguro, cada
vez mais inseguro
Enquanto o povo,
abstendo-se, aposta
Quando cai o
segundo de maduro
Este bem podia ser o mote de um conjunto de quadras populares, destinadas
a fazer humor com o momento político actual, o que seria adequado e aceitável. Apesar
disso, acalmem-se as almas mais preocupadas com o status quo, pois vou antes utilizar este mote para a
reflexão de um cidadão, preocupado com a mensagem que os resultados eleitorais,
do último domingo, nos podem estar a transmitir.
Têm sido muitas as leituras feitas pelos comentadores, existindo neste
momento interpretações para todos os gostos e cores, sejam estas vermelhas,
rosas, laranjas ou azuis (agora também existem umas verdes e brancas, por
momentos até parecia a disputa da liga Sagres!). Ignorando um pouco os
comentadores, não por falta de respeito, mas porque já estou também um pouco
cansado de os ouvir, saí à rua e falei com aqueles que, como eu, lutam por
conseguir, no dia a dia, o sustento da família, sem ver uma luz ao fundo do
túnel, neste país que tarda em encontrar o caminho da prosperidade.
Devo confessar-vos, caros leitores, que fiquei surpreendido com tanta
sabedoria popular!
Na fila dos desempregados, onde qualquer português, independentemente das
suas qualificações, pode ir parar um destes dias, um “jovem” de cinquenta e
dois anos, com licenciatura e pós graduação, leu assim o resultado obtido pelo
governo:
Dizer-nos o pouco
que faziam não ousaram
O merecido
castigo tiveram então!
Aqueles que tanto
nos espoliaram
Trocando o
deficit pelo nosso pão!
Ao atravessar a cidade, na tal busca da iletrada sapiência popular,
passei por um parque de estacionamento, em frente a um supermercado, onde o
arrumador de carros falou assim da vitória comunista:
Contra a Europa?
Claro, mas isso já sabiam!
Faça chuva ou
faça sol, esses vão sempre votar
Aqueles que lhe
dão o voto muito sofreriam
Se vivêssemos a
tragédia de os ter a governar
Mais adiante, na fila da segurança social, onde várias pessoas já
reclamavam por ter sido cancelada a entrega das senhas de atendimento às dez
horas da manhã, dizia uma senhora, a propósito do resultado do partido
Socialista.
Não se sabe bem
se perderam ou ganharam
Com o líder
indeciso, em cima do muro
As falhas do
governo não aproveitaram
D’Ele se
questiona: Estará seguro?
Estando na loja do cidadão, onde um grupo muito heterogéneo tratava do
passaporte para emigrar, um jovem comentou a derrota do bloco de esquerda:
Bloqueia o bloco,
tudo bloqueando
Perderam o norte,
faz tempo que é assim
Pouco a pouco
vão-se desvanecendo.
Trata-se do princípio do fim!
Já no regresso a casa, na fila do autocarro superlotado, cujas portas não
conseguiam abrir, nem para deixar sair quem precisava, dizia um homem de meia
idade, a propósito do MPT.
Fugindo dos maus
políticos que temos
Foram votando,
assim a esmo
Imaginamos aquilo
que não vemos
Infelizmente
elegemos mais do mesmo!
Vendo tanto cepticismo no comentário deste senhor, cujas feições transmitiam
a tristeza de quem enfrenta as agruras do dia a dia, sem antecipar melhorias e
cujos ombros dobrados, pareciam carregar o peso do mundo, decidi tentar fazer com que ele olhasse para a vida
com uma perspectiva mais positiva e argumentei.
- Não acha que o MPT faz a rotura com a política dos partidos existentes
e que pode ser uma lufada de ar fresco?
O senhor olhou-me, sem responder, com a expressão de quem estava a ouvir
falar uma língua diferente e foi uma senhora, já com alguma idade, que
respondeu com o seguinte provérbio:
“Com papas e bolos se enganam os tolos”
Sentado a meu lado, no autocarro, vinha um alentejano, já de idade
provecta que, quando questionado sobre as mudanças, disse de forma pausada e
com um sotaque carregado.
- Os resultados eleitorais não mudaram nada, mas ainda que tivesse mudado
o resultado, não mudavam as políticas. Sabe como se diz na minha terra, “vira o disco e toca o mesmo”. Os que
estão no governo, é o que se vê! Quanto aos socialistas, não me convenceram e o
resto é paisagem!
- Não achou o discurso socialista apelativo? – Perguntei.
- A propósito do discurso socialista eu apenas tenho a dizer o seguinte: A música é bonita, falta saber se o homem
sabe dançar.
Perante este último comentário fiquei a pensar para com os meus botões. “Provavelmente
o líder socialista vai demonstrar, mais depressa do que esperamos, se sabe ou não dançar, nem que seja a dança das cadeiras!”
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