A SORTE DO “NOJENTOS”
Eu não sou um homem do futebol, nem sequer percebo nada do assunto, por
isso me abstenho de emitir opiniões sobre o mesmo. Apesar disso, a admiração e
o fervor com que olho para a seleção Portuguesa são tão grandes, tão intensas e
tão profundas, que nem sequer consigo ver os jogos de futebol. A ansiedade é
tão grande que me provoca um sofrimento superior aquele que o meu corpo
consegue suportar. A consequência disso é que depois de terminado o jogo vejo
todas as reportagens e todos os comentários com uma sede e ânsia de informação
que faz com que literalmente absorva tudo o que é dito e escrito sobre o
assunto.
Não percebendo nada de futebol acontece que muitas das coisas que são ditas
me passam completamente ao lado e acabo por fazer uma leitura dos jogos, das
táticas e das estratégias desenquadrada do futebol e muito mais associada à
vida empresarial. É isso mesmo que quero partilhar convosco.
O Fernando Santos, desculpem o Senhor Fernando Santos (sim porque engenheiros,
ou outra coisa qualquer, podem existir muitos mas “senhores” com a dignidade
dele existem poucos!) deu-nos uma lição de liderança que devíamos estudar com
muita atenção pois ela poderia suportar várias teses de doutoramento sobre o
assunto.
Numa situação adversa, com recursos escassos e num ambiente hostil, foi-lhe
dado, ou ele propôs-se a si próprio, um objetivo: TORNAR A SELEÇÃO PORTUGUESA
CAMPEÃ EUROPEIA DE FUTEBOL.
Para o fazer ele utilizou os recursos e os conhecimentos que tinha à sua
disposição (o universo dos jogadores portugueses e o seu conhecimentos destes e
do futebol). Primeiro, terá percebido que tinha que transformar um conjunto de
indivíduos (jogadores) numa equipa. Segundo, tomou consciência que apesar de
ser o líder de uma equipa (a equipa de futebol ainda em constituição) a sua
intervenção direta no resultado de cada jogo era muito menos relevante que a do
pior jogador da sua equipa. Finalmente, constatou que, apesar da sua
irrelevância como jogador, ele era aquele que tinha o conhecimento e a visão de
conjunto necessárias para definir a estratégia global a adotar e a tática a
utilizar em cada jogo. Sendo inteligente, como demonstrou ser, percebeu que a
única forma de atingir o objetivo era:
Definir
e Comunicar de forma clara quais
eram os objetivos (o objetivo da seleção é ser campeã europeia e não coisas
como: chegar à final ou ter um bom desempenho ou ainda fazer a melhor campanha
possível e ainda chegar o mais longe possível, etc.). O Fernando Santos não
podia ter sido mais claro!
Definir
metas, o que implica identificar
objetivos parcelares (Ex.: garantir o apuramento para a fase final, garantir a
passagem aos oitavos; garantir a ultrapassagem de cada um dos adversários na
fase eliminatória). Em cada jogo Fernando Santos enunciava qual era o objetivo
do próprio jogo, quando este era crucial para o resultado final, ou apenas o
objetivo final, quando o resultado intermédio não era crucial para o objetivo
final.
Ser
flexível o que implicava definir
uma tática para cada problema adaptada às circunstâncias específicas do mesmo. (Cada
jogo tinha de ter uma abordagem distinta e para o efeito tinham de ser
utilizados os melhores jogadores para implementar essa abordagem e não
forçosamente os mais dotados). O Fernando santos fez isso mesmo e explicou
aquilo que fez quando tal lhe foi perguntado nas conferências de imprensa.
Ser
firme e confiante, o que implica
demonstrar sem sobranceria e com a humildade necessária de quem reconhece que
não podendo ter a equipa com os melhores jogadores da europa, em termos
individuais (apesar de ter o melhor jogador do mundo) está consciente de que
tem um grupo com um elevado valor e que dificilmente será vencido.
Fernando Santos demonstrou isso dizendo várias vezes que “dificilmente alguma
equipa ganharia a Portugal”.
Valorizar
todos e cada um dos elementos da equipa. Fernando Santos fez isso não só através de palavras mas colocando em
campo, quando a oportunidade surgiu, todos os jogadores que tinha à sua
disposição, mostrando efetivamente que confiava em cada um deles e valorizava a
sua participação.
Ser o
exemplo (liderar pelo exemplo).
Fernando Santos fez isso despindo-se de qualquer arrogância e demonstrando a
todos os elementos da equipa que a única forma de maximizar o valor do conjunto
era que cada um dos membros desta contribuísse para o conjunto em detrimento de
valorizar a sua exibição em termos individuais (foi dessa foram que conseguiu
ter um Ricardo Quaresma a entrar em qualquer momento do jogo como se fosse um
titular, ou um Cristiano Ronaldo a valorizar o conjunto em detrimento dos
louvores pessoais, tornando-se num capitão da equipa à imagem e semelhança do
seu treinador, ou ter um Rui Patrício a fazer defesas determinantes para o
resultado final. Isto para dar apenas dois ou três exemplos porque toda a equipa se
comportou com igual mérito e dedicação).
Conhecer o meio envolvente e o negócio (mercado e
concorrência). Fernando Santos é um grande conhecedor do futebol, mas para além
disso rodeou-se de uma equipa técnica que recolhia informação sobre os
adversários de forma a permitir-lhe desenhar uma tática que anulava a
capacidade ofensiva destes. Este foi um dos ingredientes do sucesso. Anular a
eficácia dos adversários e aproveitar as oportunidades.
Resultado: Objetivo cumprido (recordo que o objetivo não
era fazer jogadas bonitas ou habilidades com a bola, era ser campeão europeu)
A cereja no topo do bolo é que tudo isto foi feito dentro dos princípios
éticos e com um humanismo que resulta da riqueza interior de um homem de
convicções fortes e grandes princípios, que no caso de Fernando Santos lhe advêm
também da sua religiosidade.
Quando alguém tem a visão para perceber qual é o caminho, a capacidade para
manter o mesmo desimpedido dos escolhos que vão aparecendo, a força e a firmeza
para manter a equipa motivada, a tenacidade e perseverança para permanecer na
rota definida apesar dos pequenos desvios que é forçado a fazer e a capacidade
para dar 100% de si, está condenado ao Sucesso. E a sorte? Bom para tudo na
vida é preciso sorte mas como ouvi dizer ao gestor que mais admiro no mundo
(António Horta Osório), “dá muito trabalho ter sorte!”
O sucesso coloca sempre aquele que o alcança debaixo dos holofotes e isso
atrai muita gente e muita coisa boa, mas atrai também a inveja daqueles que,
não tendo tido a mesma visão nem a mesma capacidade, procuram encontrar
desculpas para o seu próprio fracasso. Uma das formas de o fazer é exatamente
desvalorizar os outros recorrendo a insultos, epítetos ou avaliações
qualitativas depreciadoras.
Não admira pois que se diga que a seleção Portuguesa apenas foi campeã
porque teve sorte ou que não joga nada ou ainda que são “nojentos” como equipa.
Eu considero que todos eles foram heróis, o treinador porque soube
construir uma equipa, motivá-la e liderá-la na conquista do objetivo os
jogadores porque souberam seguir o líder e agir de acordo com as suas
orientações, de forma eficaz.
Às Seleções que ficaram pelo caminho a minha sugestão (perdoem-me a
veleidade) é que ao invés de desculparem o seu insucesso com a sorte de
Portugal que se perguntem a si próprios: Tendo em consideração que eles estão
convictos que são muito superiores aos Portugueses, porque razão não lhes
conseguiram ganhar?
O que é verdadeiramente nojento é o comportamento de quem não tendo tido a
capacidade de vencer Portugal dentro do campo e de acordo com as regras, queira
diminuir o mérito da vitória, do legítimo vencedor, fora deste. Sejam
homenzinhos! Enxuguem as lágrimas, levantem a cabeça e assumam a derrota!
Eis um comentário com cabeça tronco e membros. É bonito de ver uma análise estrutura, sem mensagens estúpidas nem intenções dissimuladase.
ResponderEliminarUm abraço Manuel!
Toninho! Um grande abraço e obrigado pelo teu comentário.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
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