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O EXAME


O EXAME




Esbaforido e apressado, chega já em cima da hora…
Aquele que comanda os destinos em mais esta provação.
Breves palavras e instruções claras, tudo dado sem demora!
Escuta a plateia, ouvindo com muita atenção.
Porque se contrai o peito em evidente ansiedade?
Chamam-lhe nervosismo senhor, pois aguardamos novidade!


Dispersos pela sala, sentados e em profunda concentração…
Lavrando no papel esquemas, gráficos e raciocínios com propriedade!
No peito de cada ser bate agitado um coração.
Alvíssaras senhores, para os que executam com verdade!
Porque bate esse coração de forma tão desalmada?
Chamam-lhe nervosismo senhor, por não ter estudado nada!


Passa o tempo e na sala o odor faz-se sentir…
As mãos e o rosto sem evidências de transpiração!
Os corpos sentados aguardam permissão para sair,
As mentes ativas para os problemas buscam resolução.
Porque estão febris as mentes, numa inquietude sem justificação?
Chamam-lhe nervosismos senhor, o tempo passa e nada de solução!


Foge o tempo, velozmente, descontrolado e em insana correria!
Correm as mentes na vã tentativa de sofregamente o agarrar!
À corrida junta-se o coração, como se disso dependesse a vida.
Mais um esforço, a todo o custo é preciso terminar!
Porque tremem as mãos, tornando hesitante a tua escrita?
Chamam-lhe nervosismos senhor, algo que dentro de nós habita!


Esgotou-se o tempo, terminou enfim o sofrimento…
Esvaziou-se a pressão de um tempo carregado de adrenalina.
Descansa o corpo, acalma-se a mente e relaxa o pensamento.
Faz-se o balanço com uma vivacidade que contamina.
Porque anseias agora que chegou a ordem para terminar?
Chamam-lhe nervosismo senhor, preciso esta prova ultrapassar!








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