Avançar para o conteúdo principal

GRATIDÃO









GRATIDÃO

A gratidão, regra geral, é algo que sentimos em relação a alguém a quem devemos algo pelo facto de essa pessoa nos ter ajudado com palavras, ações, ou de forma ainda mais objetiva (doações em dinheiro ou espécie).

No entanto, na reflexão que amiúde faço sobre a vida considero que devo expressar gratidão por muitas coisas e nem todas me foram dadas com a intenção de me ajudar ou facilitar a vida, mas a todas elas eu devo o facto de ser quem sou. Por isso mesmo quero expressar a minha gratidão a tudo e a todos!

Quero expressar a minha gratidão aos pais que me geraram e que me iniciaram na vida pois foram eles que plantaram em mim os genes que determinam as capacidades mais básicas e me ensinaram os princípios éticos e morais que ainda hoje norteiam a minha vida. Sem eles não seria aquilo que sou.

Quero expressar a gratidão a todos os que me amaram e amam pois o amor é o combustível da vida. É ele que nos dá força para continuar, para reagir, para seguir em frente mesmo quando a própria vida nos empurra para trás ou para o baixo. Naturalmente que aqueles que me amam hoje estão mais presentes, sobretudo Aquela que é a minha companheira na caminhada da vida e cujas demonstrações de Amor são para mim o sal da vida e uma autêntica fonte de juventude!

Quero agradecer pelos filhos maravilhosos que tenho e que tento educar da melhor forma que sei (com a preciosa e inestimável ajuda da minha companheira de viagem). Com eles aprendi que é fundamental ter uma mente aberta e aceitar a visão do mundo dos mais novos, mas que é igualmente importante ser firme na transmissão de valores éticos e morais e intransigente na aplicação dos princípios básicos de uma vida em sociedade.

Quero expressar a minha gratidão aos meus amigos pois, se o amor nos dá força para caminhar e nos suaviza as dificuldades da caminhada, os amigos são os muros que balizam esse caminho, amparando-nos, servindo de norte e balizando próprio caminhar (Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és!).

Quero expressar a minha gratidão a todos os que foram meus educadores ou formadores, que transmitindo-me o seu conhecimento e a sua experiência me mostraram os caminhos possíveis da vida e dessa forma me ajudaram a escolher o meu próprio caminho.

Quero expressar a minha gratidão a todos os que se cruzaram comigo ao longo da minha vida e me deram algo que me ajudou a prosseguir nesta caminhada, desde aquele que me deu a mão quando tropecei ao que me deu uma informação sobre uma morada ou apenas um sorriso amigo e reconfortante pois todos eles foram um real alento no momento em que aconteceram.

Quero ainda expressar a minha gratidão a todos quantos me deram algo sem esperar nada em troca, desde uma oportunidade de mostrar o que valho profissionalmente até apenas uma palavra amiga ou um incentivo. Com eles aprendi que mais importante do que receber é dar, mas dar sem esperar retribuição.

Quero expressar a minha gratidão a todos os que me criticaram ou aconselharam. Com eles cresci em todos os sentidos e aprendi a ser tolerante, mas sobretudo percebi que a riqueza da vida em comunidade está na multiplicidade das perspetivas e opiniões, no multicolorido das raças e na diversidade das culturas ou religiões. 

Quero agradecer a todos os que me desculparam quando falhei ou errei (e foram muitas vezes!) e a todos os que me perdoaram quando lhes fiz mal. Com eles aprendi o valor do perdão e da compreensão, mas sobretudo aprendi a perdoar e não apenas a dizer: Estás perdoado!

Mas agradecer porque recebermos algo bom é, em simultâneo, fácil e elementar, pois resulta do cumprimento de um dos princípios mais básicos da vida, a educação. O que é difícil é poder agradecer pelo que não recebemos ou quando recebemos algo mau que ao invés de nos ajudar nos prejudica ou dificulta a vida. Confesso que durante muitos anos não tive a capacidade de agradecer essas coisas porque, embora nunca tenha guardado nenhum sentimento negativo em relação a esses factos ou pessoas, não tinha ainda a perspetiva que hoje consigo ter sobre os mesmos. Sobretudo não tinha ainda percebido que aquilo que fiz com tudo isso me tinha ajudado a crescer de tal forma que sem isso não seria metade daquilo que sou. Assim quero também agradecer por todas as coisas menos boas.

Quero agradecer por todas as dificuldades financeiras que tive ao longo de toda a minha infância e adolescência porque elas me ensinaram a conhecer o valor das coisas, a valorizar tudo o que alcancei na vida, mas sobretudo a respeitar as pessoas por aquilo que elas são (pelas suas realizações) e não pelas suas origens, formação ou riqueza.

Quero agradecer a todos os que colocaram escolhos no meu caminho porque me obrigaram, por um lado, a conhecer e a reconhecer os meus limites, por outro, a desenvolver os recursos para os ultrapassar, mas sobretudo porque a visão que tive da vida, do topo desses escolhos, me abriu novos horizontes.

Quero agradecer a todos os que me desprezaram, diminuíram ou de qualquer forma prejudicaram com atos ou palavras. Com eles aprendi a ser mais forte, a valorizar aquilo que é importante e a contextualizar as suas ações, mas sobretudo porque me permitiram experienciar a sensação fantástica que é perdoar e o quão reconfortante é evidenciar esse mesmo perdão.

Quero agradecer a Vida e agradecer à vida a sorte de ter a vida que tenho!

Neste dia da gratidão quero finalmente agradecer por me ter sido dada a capacidade de perceber que de facto aquilo que sou é fruto de tudo o que recebi de bom e de mau, mas sobretudo é o resultado daquilo que fiz com tudo o que recebi.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

O SEMÁFORO

O SEMÁFORO Na cidade do Porto, numa rua íngreme, como tantas outras, daquelas que parecem não ter fim, há-de encontrar-se um cruzamento de esquinas vincadas por serigrafias azuis, abertas sobre azulejos quadrados, encimadas por beirais negros de ardósias, que alinham, em escama, até ao cume e enfeitadas de peitoris de pedra, sobre os quais cai a guilhotina. Estreita e banal, sem razões para alguém perambular, esta rua, inaudita, é possuidora de um dispositivo extraordinário, mas conhecido de muito poucos: Um semáforo a pedal, que sobreviveu, ao contrário dos “primos”, tão em voga na década de sessenta, na América Latina. No início do século XX, o jovem engenheiro, François Mercier, de génio inventivo, mudou-se para o Porto. Apesar do fracasso em França e na capital, convenceu um autarca de que dispunha de um dispositivo elétrico e económico, bem capaz de regular o trânsito dos solípedes de carga, carroças, carros de bois a caleches, dos ilustres senhores. O autarca

CARTAS DE AMOR - AMOR IMPOSSÍVEL

CARTAS DE AMOR - AMOR IMPOSSÍVEL As palavras não me ocorrem perante a imensidão do sentimento que me invade o peito. Digo-te aquilo que adivinhas pois os meus olhos e os meus gestos não o conseguem esconder. Amo-te! Amo-te desde o primeiro dia em que entrei na empresa e tu me abriste a porta. Os nossos olhares cruzaram-se e, por instantes, olhamo-nos sem pestanejar. Senti que tinha encontrado a minha alma gémea. O meu coração acelerou quando me estendeste a mão e te apresentas-te. Apenas uma semana depois soube que eras casada. Chorei a noite toda. Não conseguia aceitar que não fosses livre para poder aceitar o meu amor e retribuí-lo como eu tanto desejava. Desde esse dia vivo em conflito: amo-te e por isso quero estar a teu lado, mas não suporto estar a teu lado, sem poder manifestar-te o meu amor. Quero fugir dessa empresa, não quero mais ver-te se não te posso ter, mas não consigo suportar a ideia de não te ver todos os dias. Tu és o sol que ilumina o meu dia, mas és

O BILHETE

O BILHETE Com os cadernos debaixo do braço ele subiu a escadaria do Liceu Camilo Castelo Branco, em Vila Real. Vivia numa aldeia próxima e tinha vindo a pé. Tinha vários irmãos e como estavam todos a estudar, tinham de poupar em tudo o que era humanamente possível. Já estava com saudades das aulas! Era irónico que tal fosse possível pois os jovens preferem as férias. Não era o seu caso. Tinha vindo de Angola e, por falta de documentos, tinha ficado um ano sem estudar, trabalhando na quinta, ao lado do pai, enquanto os irmãos iam para as aulas. Estudar era, portanto, a parte fácil. Procurou a sala onde a sua turma tinha aulas: Ala este, piso zero, sala seis. Filipe era um aluno acima da média, mas a sua atitude era de grande humildade: esperava sempre encontrar alguém melhor que ele. Dado que tinha ficado um ano afastado da escola estava com alguma expectativa em relação à sua adaptação, mas confiante nas suas capacidades. Não tardou em destacar-se e no fim do primeiro tri