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EMBOTADO (Postal de Natal)








EMBOTADO

A chuva ausente, condenando o frio a brilhar a solo.
O sol outonal que teima em manter o cascol na gaveta!
As notícias que te fazem encolher, da mãe desejando o colo.
O trágico evento que vês de longe por isso não te afeta!
Sintomas da alma adormecida que vegeta no teu corpo vivo.
Sentimentos que vives ao despertar e transportas contigo.


A rotina da manhã, como autómato deixas o filho na escola.
Corres para o emprego, desperto, ativo, apenas na aparência!
Brilhas no desempenho, mas a retribuição por vezes desconsola…
Vivenciais quase nada do muito que é a vossa eficiência.
São múltiplas e diversas as realizações, mas sem real perceção,
Do quanto passa por ti sem que se manifeste a tua emoção!


Um camião assassino, qual trituradora, invade um mercado…
Um homem de paz, à lei da bala, tomba brutalmente no chão!
Políticos culpados sem penas e o terrorismo por todos condenado,
À tua volta o mundo corre, tudo muda num turbilhão!
É grande a tua indignação e esta gente qualificas de má.
Mas muito limitado o seu alcance, que não vai além do sofá!


Atingiste o teu limite. Levando a indignação porta fora…
Juntaste-te ao extremismo, condenando o equilíbrio de razões!
Sem perceber alimentas a discórdia, desejando que esta fosse embora.
Dás voz à razão! Fechas a porta ao diálogo e enclausuras as emoções!
Centras o olhar no teu umbigo, é tão triste e curta a tua visão…
Procuras o bem-estar do momento, sem perceber que matas a ambição.


Dizes então indignado! Sou muito razoável e bem ponderado!
Mas ninguém és capaz de escutar e rejeitas as outras opiniões…
Tenho fortes argumentos! A razão está do meu lado!
Assim pensam os ditadores, homens perigosos com fortes convicções!
Não tens que ceder o teu espaço, mas não oiças apenas a razão,
Na dimensão do teu espaço pode existir espaço para a emoção!


Dar amor a quem nos odeia ou a outra face para ser esbofeteada?
É demais! Dizes tu. É porventura legítima essa tua interjeição!
Mas essa entrega ao extremismo de forma tão embotada,
Imola-te a ti e aos outros, ambos inconscientes dessa opção!
Essa tua indignação é digna de algo mais nobre e atinado,
Dá amor a quem realmente precisa e ajuda a um necessitado!


Tantas causas, tantos necessitados, vítimas de várias atrocidades…
Domina-nos a impotência. Nada podemos fazer para isso alterar!
Que sentimento enganador, fruto de triviais e insanas vaidades…
Não podemos mudar o mundo, mas o nosso vizinho podemos ajudar!
Que dure o ano inteiro este sentimento nobre, tornando-se imortal…
Vamos vivê-lo de forma ainda mais intensa, porque é época de Natal!


Natal de 2016                 



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