Avançar para o conteúdo principal

VIDA



VIDA

Sobre o leito fino de uma folha do canavial,
Em madrugada fria, ainda tardava a aurora…
Para dar vida a um ser cristalino e angelical,
Fundem-se aos milhares as partículas, noite fora.
Que suave embalo, por doce folhear acompanhado!
Sonhas acordada, com um mundo belo e encantado.

Em harmonioso balanço, por entre laivos prateados,
Uma simples resposta ao brilho ofuscante do luar.
No topo das dunas, por muralha de canas rodeado,
Admiras o reflexo da lua que se espelha no mar.
Entre as ameias oscilantes, formadas pelo canavial,
Vives como uma princesa, refugiada no teu pedestal!

Esconde-se a lua, mergulha o teu mundo na escuridão!
Adormece a natureza, embala-te a brisa da madrugada.
Raia a aurora, entram os elementos em ebulição,
Acordas em sobressalto, abres os olhos apavorada.
Era perene a vida que desejavas, de desespero é o momento.
O fino leito que outrora idolatravas, é agora motivo de desalento.

Tremulam as canas, são momentos de grande agitação!
O embalo, outrora doce, ameaça do pedestal derrubar-te.
A esmo na fina folha, tremendo, cais no chão.
Secou-te o sol, que carinhosamente vem evaporar-te.
Efémera é a vida, à luz fria do luar gerada.
De uma gota de orvalho, em curta madrugada.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O SEMÁFORO

O SEMÁFORO Na cidade do Porto, numa rua íngreme, como tantas outras, daquelas que parecem não ter fim, há-de encontrar-se um cruzamento de esquinas vincadas por serigrafias azuis, abertas sobre azulejos quadrados, encimadas por beirais negros de ardósias, que alinham, em escama, até ao cume e enfeitadas de peitoris de pedra, sobre os quais cai a guilhotina. Estreita e banal, sem razões para alguém perambular, esta rua, inaudita, é possuidora de um dispositivo extraordinário, mas conhecido de muito poucos: Um semáforo a pedal, que sobreviveu, ao contrário dos “primos”, tão em voga na década de sessenta, na América Latina. No início do século XX, o jovem engenheiro, François Mercier, de génio inventivo, mudou-se para o Porto. Apesar do fracasso em França e na capital, convenceu um autarca de que dispunha de um dispositivo elétrico e económico, bem capaz de regular o trânsito dos solípedes de carga, carroças, carros de bois a caleches, dos ilustres senhores. O autarca ...

A ESPIGA RAINHA

A ESPIGA RAINHA O outono já marcava o ritmo. Os dias eram cada vez mais pequenos e as noites mais frias. O sol pendurava-se lateralmente no céu e apenas na hora do meio-dia obrigava os caminhantes a despir o casaco. Na agricultura, a história era outra: as mangas arregaçadas, aguentavam-se até ao fim do dia, graças ao esforço físico. Outubro ia na segunda semana e esta previa-se anormalmente quente para a época. Apesar dos dias quentes, os pássaros já procuravam abrigo para passar o inverno e as andorinhas fazia muito que haviam partido. Na quinta do José Poeiras era altura de tirar o milho dos lameiros. A notícia percorreu a vizinhança como um relâmpago: era a última desfolhada, portanto havia lugar a magusto e bailarico. José Poeiras era um lavrador abastado, mas isso não lhe valia de muito. As terras eram pobres e em socalcos e não lhe permitiam obter grande rendimento. O que lhe valia era a reforma de capitão do exército. Tinha ficado com a perna esquerda em mau estado ...

MUDANÇA

Caros seguidores, Por razões de eficiência e eficácia, decidi mudar a ancoragem do Blog, deixando O BLOGGER.COM e passando para o WORDPRESS. Assim, se quiserem continuar a seguir os meus escritos, agradeço que sigam o link em baixo  e façam clik na barra de seguir. https://opensamentoescrito.com/   Obrigado pelo vosso apoio que espero se mantenha neste novo formato. Cumprimentos