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PALAVRAS SOLTAS - O Ciúme










O Ciúme


 Primeiro Ato



Deitado na cama, Raul via e revia mentalmente a cena. Pedro calçava uns sapatos de vela e vestia umas calças de tecido, beije, que lhe assentavam que nem uma luva. O conjunto ficava completo com uma camisa branca, desabotoada de forma a mostrar o peito, onde sobressaia um fio com duas chapas, tipo militar. Meio inclinado sobre a Rita ele, depois de a ter olhado nos olhos com um sorriso sedutor, ao mesmo tempo que lhe acariciava o braço, segredou-lhe qualquer coisa ao ouvido que a fez soltar uma gargalhada cristalina. O corpo dela estremeceu de prazer, dentro do conjunto saia casaco que fazia sobressair as suas formas, tornando-a uma visão celestial. 
Essa visão atormentava-o, possuía-o e sufocava-o de dor. Consumido pelo ciúme, vigilava! 
Este tormento durava desde o início da relação e não havia meio de terminar. Os protestos e provas de amor da Rita apenas o acalmavam quando estavam sozinhos, mas mal algum homem entrava em cena o tormento recomeçava.


Segundo Ato
A vista do terraço era paradisíaca, mas para Raul era como se o mundo não existisse. Rita era o seu mundo, a sua razão de ser e quiçá a sua razão de viver. Ele olhava para ela, embevecido, babando amor de uma forma quase fastidiosa. Rita era uma mulher bela e elegante. Possuía uma face alongada, que era emoldurada por uns longos cabelos castanhos onde uns lábios carnudos e uns olhos de esmeralda completavam a visão celestial. Nesse dia, a blusa justa e com um decote mais ousado, antecipava a visão de uns seios redondos e perfeitos.

Raul olhava para ela, mortificado. Se ele pudesse escondia-a do mundo!

Estar com a Rita era algo maravilhoso, mas também podia ser um tormento. Mas o verdadeiro tormento eram as noites que ele passava sem dormir, repassando na sua mente o filme das cenas em que outros homens disputavam a atenção dela. Desde o início da relação que o amor e o ciúme disputavam o trono do seu peito. A disputa era cansativa mas ele não conseguia abrir mão desse amor!



 

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