O AMIGO
O verão parecia não querer
chegar ao fim. Os dias continuavam quentes, as noites amenas e as desgraças
sucediam-se. Fogos súbitos consumiam as florestas transformando as paisagens
campestres, normalmente calmas e pacíficas, num inferno de chamas, onde as
colunas de fogo consumiam tudo o que se encontrava no seu caminho, sem clemência,
nem pelas vidas humanas! A vida está cheia de contradições e imperfeições mas o
seu segredo está em encontrar beleza no meio destas.
O mundo continuava a sua luta constante
em busca de um equilíbrio de interesses que dependia, em partes mais ou menos
equivalentes, dos interesses económicos das grandes potências, da loucura dos
pequenos ditadores, que ocasionalmente ascendiam ao poder, ou de um fanatismo
qualquer, que alienava uns quantos milhões. Enquanto a grande maioria tinha
a ilusão de que, graças ao direito de votar, não exercido na maior parte dos
casos, vivia numa democracia.
Em Portugal a Geringonça
lutava pela sua sobrevivência, não tanto devido à oposição externa, mas devido
à falta de comunhão de interesses dos aliados, usando as pequenas vitórias como
bandeiras de uma vã glória, cujo valor efémero apenas era reconhecido no plano
do discurso político. Nada disto era relevante para Jaciara, mas recostada no
sofá da sala ela percebia que era, em parte, de tudo isso que a sua vida e o seu
negócio dependiam.
Segunda feira era sempre um
dia tranquilo no salão por isso o número de empregados estava reduzido a uma
manicura e um cabeleireiro, que faziam companhia a Jaciara, a jovem dona do
espaço. O sorriso fácil e belo, os olhos azuis e o cabelo loiro criavam uma
empatia imediata, reforçada por uma simpatia natural que transmitiam a falsa
ideia de se estar perante uma pessoa fácil de manipular. Na verdade ela era um
força da natureza que ultrapassava os obstáculos da vida como quem corre uma
maratona interminável, sempre com o mesmo ritmo e facilidade. Foi pois de forma
natural que confrontou o homem que rondava o salão naquela manhã de outono.
- O senhor deseja alguma coisa?
O estranho reagiu com a
tranquilidade de quem estava à espera daquele contacto e olhou-a, diretamente
nos olhos, de cima do seu metro e noventa de altura, com uns olhar doce cor de
avelã.
- Estava apenas a admirar a decoração do seu salão. – respondeu, mostrando
uma dentadura perfeita e um sorriso sedutor.
Jaciara era uma mulher bela,
com um metro e setenta e oito de altura e possuidora de umas curvas
perfeitamente delineadas, que, em conjunto com o sotaque brasileiro, tinham um
efeito demolidor nos homens. Apesar disso, o estranho manteve o sorriso no
rosto de forma impassível, imune aos atributos da jovem brasileira. Ao invés
ela mal se aguentava de pé tal era a forma como as pernas tremiam, sucumbindo
completamente ao chame daquele estranho.
Ao fim de algumas horas de
conversa ela ficou a saber que ele era dono de dois salões de cabeleireiro e
que costumava rondar outros salões, como forma de recrutar os seus cabeleireiros,
tendo uma preferência especial por brasileiros.
Sendo ambos livres entre eles
nasceu uma amizade, alicerçada em noitadas de sexo escaldante, pois ele tinha
uma imaginação sem limites e ela uma vontade de experimentar tudo o que ele
sugeria, o que tornava os momentos que passavam juntos verdadeiramente
explosivos, ocupando-os de forma a não deixar espaço para outro tipo de
relação. Isso fazia com que eles soubessem muito pouco um do outro, embora
conhecessem profundamente todas as curvas do corpo do amante.
Pedro era um homem que viajava
com frequência, para além de ter um conjunto de hobbies que justificavam as
suas ausências sistemáticas, pelo que, Jaciara, que também não buscava
propriamente um homem que ocupasse um espaço permanente na sua vida, achava a
relação muito conveniente para si, tanto mais que tinha mais alguns amigos
junto dos quais encontrava satisfação para a lascívia que nascia dentro de si, com alguma frequência. Mas a verdade é que nenhum lhe proporcionava o prazer que sentia quando estava com Pedro.
Fazia três meses que se
conheciam e para comemorar a data ele tinha-a convidado a passar a noite na
Fortaleza do Guincho. O jantar foi memorável e a noite foi de tempestade. Lá
fora os elementos manifestavam, à vez, a sua fúria. O mar bramia e o vento
rugia, intercalados pelo estrondo dos trovões, cuja luz dava à noite um ar
fantasmagórico. Lá dentro a satisfação mútua do desejo manifestava-se com a
mesma intensidade e a cada estalo de chicote nas nádegas de Pedro, Jaciara sentia
um frémito de prazer ao qual Pedro correspondia com um gemido, tão intenso e
tão profundo, como se estivesse a atingir o clímax.
Nunca nenhum homem lhe tinha
proporcionado tamanha sensação, simultaneamente, de poder e de prazer. Pedro
podia pedir-lhe o que quisesse que ela não lhe recusaria nada! Quando foi a vez
de ele a dominar, foi tão meigo e carinhoso que ela não sentiu nem as palmadas nem o chicote,
embora no dia seguinte o seu corpo estivesse dorido e marcado sem ela saber
bem a causa, pois apenas se lembrava de sentir um prazer infinito. Quando foi à
casa de banho percebeu que entre outras coisas tinha sido sodomizada, mas isso
perdeu a relevância que tivera outrora. Na mesa de cabeceira estava um recado
de Pedro, que tinha saído cedo, para ir
participar numa regata, juntamente com um bilhete de avião. Ela tinha que ir ao
Brasil visitar uma prima que estava num estado de saúde critico e ele
oferecia-lhe o bilhete em primeira classe.
A estada de três semanas no Brasil foi muito desgastante e foram várias as vezes que desejou ter Pedro a
seu lado. Ele, manteve um contacto regular, evidenciado sempre uma grande
preocupação com o bem estar dela, o que a deixava ainda com mais saudades. Na
antevéspera do regresso ela confessou-lhe o seu desejo de o ter a seu lado e
ele, em tom brincalhão, disse:
- Se apanhar o próximo avião, amanhã podemos passar a noite juntos.
- Não digas disparates que eu ainda acabo por acreditar neles. – respondeu
ela, imaginando-o deitado a seu lado.
Pedro limitou-se a soltar uma
gargalhada daquelas que a fazia sentir aquecida e a deixava completamente relaxada.
Quando Pedro ligou a convidá-la
para jantar ela pensou que era uma brincadeira, mas quando percebeu que a
chamada tinha origem num telefone fixo
brasileiro percebeu que Pedro estava a falar a sério. O encontro foi
eletrizante! Quanto ao jantar e à noite, passaram à velocidade da luz.
- Bom dia minha deusa. - disse
Pedro, acordando-a com um beijo.
Jaciara abriu os olhos mas
pensou que estava a sonhar pois tê-lo a seu lado era bom demais para ser
verdade. Tomaram o pequeno almoço e quando ela estava a fechar as malas Pedro disse
de forma casual.
- Já me esquecia. Isto é para ti.
- É lindo! – exclamou ela depois
de abrir o presente – Obrigado.
Ela não resistiu e foi até à
casa de banho colocar o colar.
- Queres que te feche a mala? –
perguntou ele.
- Sim. – respondeu, concentrada em
apreciar o efeito do colar.
Ele juntou-se a ela, na casa e
banho e abraçou-a por trás, segurando-a pela cintura, ao mesmo tempo que lhe
beijava o pescoço. Por instantes ela foi tentada a confessar aquilo que cada
vez se tornava mais difícil de esconder, mas ele afastou-se e a magia do
momento quebrou-se.
Quando chegou a Lisboa Jaciara,
depois de esperar que o tapete das malas parasse, foi obrigada a concluir que a
sua mala se tinha perdido. Quando estava a sair do aeroporto, depois de ter
apresentado a devida reclamação, foi interceptada pela policia fiscal e levada
junto de uma mala que tinha sido violada
e que identificou como sendo a sua. Junto à mala estava um policia com um cão que não
parava de farejar a mala.
- Sra. Jaciara Paratiba, confirma que esta mala é sua? – Perguntou, o
agente da polícia, de forma delicada mas firme.
- Sim esta mala,
ou melhor o que resta dela, é minha. – confirmou.
Sucederam-se um conjunto de
perguntas a que ela respondeu afirmativamente e que se destinavam a saber se
tinha sido ela a fazer a mala, a fechar a mesma, a levá-la para o aeroporto e a
despachá-la, às quais ela respondeu afirmativamente.
- Esta mala tem vestígios de ter transportado droga. A senhora tem a
certeza que mais ninguém mexeu na mala?
- Sim tenho. – respondeu, sem hesitar.
- Vamos ter de ficar com a mala para investigação e aconselho a senhora a
não se ausentar do país.
- Mas os senhores encontraram droga na minha mala? – perguntou ela.
- Não mas foram detetados vestígios de droga por isso se mais ninguém mexeu
na mala foi a senhora que lá colocou a droga.
- Quando me pediram para identificar a mala esta já estava aberta, por isso
qualquer pessoa podia lá ter colocado esses vestígios. – disse ela de forma
incisiva.
- A senhora pode estar certa mas temos que investigar melhor este assunto,
porque isto pode ser um esquema para passar a droga. Pode ir embora e vir
buscar a mala amanhã.
Jaciara saiu do aeroporto
irritada com o contratempo, mas tranquila pois ela sabia muito bem que a mala
não transportara nenhuma droga, uma vez que mais ninguém lhe mexera. Nesse
momento, a afirmação de Pedro veio-lhe à memória como um raio. “Não podia ser!
Pedro apenas lhe fez o favor de fechar a mala e nem sequer tinha nenhum pacote
com ele. Bom, a mala dele estava ao lado da dela – pensou” Recriminou-se
imediatamente por ter sido capaz de ter tal pensamento em relação a Pedro “Não!
O Pedro seria incapaz disso”
No dia seguinte ela dirigiu-se
ao aeroporto para levantar a mala e foi nessa altura que percebeu a dimensão do
problema em que estava envolvida. Foi recebida por um funcionário da guarda
fiscal que a levou para uma sala onde se encontrava a sua amiga Eloisa, que já
tinha trabalhado para ela e foram deixadas as duas sozinhas por alguns minutos.
Eloisa estava banhada em lágrimas e branca como a cal.
- O que se passa amiga? – perguntou Jaciara, ao mesmo tempo que a abraçava.
- Sabes o pacote que o amigo do Pedro me pediu para trazer?
- Sim? – respondeu Jaciara.
- São dois quilos de droga. Mas ninguém acredita que eu estava a trazer o
pacote como favor a uma pessoa que nem sequer conheço. Lembras-te que eu te
telefonei a perguntar se o Pedro o conhecia?
- Sim. O Pedro nem sequer o conhece muito bem mas parece que ele e mais
dois amigos passam a vida a pedir favores a pessoas conhecidas do Pedro. Ele
ficou até muito irritado e ligou-lhe a chingá-lo. – disse Jaciara.
- Lembras-te do nome do amigo do Pedro? É que se pelo menos eu pudesse
dizer aos policias o nome da pessoa que me pediu para trazer a encomenda... –
disse a amiga.
- Eu por acaso vi o nome no telemóvel quando o Pedro ligou. Chama-se Davi
Fazoli. – respondeu Jaciara.
A conversa foi interrompida
pelos policias que as separaram e Jaciara foi levada para uma sala onde estavam
dois inspetores da polícia judiciária.
- Senhora Jaciara, neste momento, perante o testemunho da sua amiga,
confirmado pela vossa conversa, a senhora vai ser acusada de tráfico de droga.
- Eu não tenho nada a ver com aquilo que se passou com a minha amiga,
embora o lamente profundamente. – protestou Jaciara.
- Vejamos, a sua amiga trouxe um pacote com dois quilos de droga, a pedido
de um amigo seu e ao que parece não é a primeira vez que ela traz pacotes para
si. – afirmou o inspetor.
- Sim ela já trouxe outras vezes pacotes para mim, da mesma forma que eu já
trouxe pacotes para ela, mas não eram drogas, eram apenas lembranças, roupas ou
outras coisas assim. – disse Jaciara, denunciando algum nervosismo.
- Isso é o que a senhora diz. E a droga que ela trouxe, a pedido do seu
amigo. – insistiu o inspetor.
- Ele é amigo do Pedro e eu nem sequer o conheço. Sei que ele apareceu uma
vez ou duas com o Pedro, no salão onde trabalha a Eloisa e ela só o conhecia de
vista, de tal forma que nem sequer sabia o nome dele. – disse ela.
- E os vestígios de droga na sua
mala? – perguntou o outro inspetor.
- Vocês não podem responsabilizar-me por uma mala aberta com vestígios de
droga. Nem que tivessem encontrado droga lá dentro me poderiam acusar de nada.
– Disse ela, sem conseguir controlar o nervosismo.
- Pois, a senhora parece ter sempre uma explicação fácil para tudo, o que ainda
torna o seu comportamento mais suspeito. – disse o inspetor.
- Isso só acontece porque eu não tenho nada a esconder e tudo na vida tem
uma explicação. – ripostou ela, recuperando um pouco o sangue frio.
- A senhora age como se estivesse a esconder algo o que a torna bastante
pouco credível. - voltou a perguntar - A senhora foi a única pessoa a mexer na
sua mala?
Jaciara ponderou uns instantes
antes de responder. Não ia levantar nenhuma suspeita sobre Pedro só porque
aqueles polícias diziam que tinham encontrado vestígios de droga numa mala, que
embora lhe pertencesse, tinha sido aberta sem a sua presença. Mas a verdade é
que tinha sido Pedro a fechar a mala e ela ainda não tinha conseguido contactar
com ele, pois o telefone estava desligado. A sua hesitação não passou
despercebida aos agentes.
- Sim. – respondeu ela.
- Quem é esse Pedro, amigo do Davi Fazoli?
- É apenas um amigo. – respondeu ela.
- Não é isso que diz a sua amiga. Como vê a senhora não
está a falar verdade. Como quer que acreditemos em si? – respondeu o inspetor.
- Nós temos um caso, mas não deixa de ser apenas um
amigo. Não temos uma relação séria. Nem sequer posso dizer que seja meu
namorado.
- Qual é o nome completo dele? – perguntou o inspetor.
- Pedro Afonso Carioca Fonseca.
- Qual é a profissão dele?
- É dono de dois salões de cabeleireiro nas Picoas.
Depois de mais algumas
perguntas ela foi deixada sozinha na sala, sem qualquer meio de comunicação com
o exterior. Passado algum tempo o inspetores regressaram com a informação de
que o Pedro que ela descrevia não
existia.
Jaciara foi convidada a
telefonar para os salões de que Pedro dizia ser o proprietário e constatou que
tudo não passava de uma burla. O dono do salão dizia que não conhecia nenhum
Pedro nem nenhuma Jaciara. O problema é que a policia não tinha razões para
duvidar do dono do salão, mas tinha muitas para duvidar da dela.
- Como vê esse Pedro não existe. O que parece é que você e a sua amiga estão
nisto juntas e estão a inventar uma desculpa para escapar à acusação de tráfego
de droga.
Nessa altura Jaciara percebeu
que tinha sido alvo de uma armadilha. Tudo o que ela tinha construído na vida
estava prestes a desaparecer! O que mais lhe doía era ela ter-se deixado
envolver emocionalmente, ela que tinha jurado nunca mais se deixar enganar por
um homem! Agora percebia tudo. Ela não tinha passado de um peão. Pedro tinha-a
seduzido e manipulado ao ponto de ela confiar nele cegamente.
- Não! – gritou ela, ao mesmo tempo que dava um murro na mesa.
A violência do murro foi de
tal forma grande que impressionou os inspetores, que ficaram na expectativa.
- Esse Pedro existe e seguramente que vocês o conseguem identificar. O meu
salão tem um sistema de vigilância e ele esteve lá algumas vezes. Ele também
esteve comigo por duas vezes em hotéis. Uma no dia nove de janeiro, na
Fortaleza do Guincho e outra, ontem à noite, no Copacabana Palace.
- A senhora trata-se bem. Não é seguramente com os rendimentos do salão de
cabeleireiro. – disse o inspetor, em tom jocoso.
- Foi sempre ele que pagou. E também me ofereceu a passagem de avião, em
primeira classe, para o Brasil. Isso deve ser suficiente para o identificarem.
– disse ela.
- Vamos ver quem é que a Jaciara está a tentar incriminar, desta vez. – disse um dos
inspetores antes de abandonarem a sala.
- Não estou a incriminar ninguém apenas estou a dizer que o Pedro existe.
Já agora, foi ele que fechou a minha mala enquanto eu ajeitava um colar na casa
de banho. – disse ela.
- Só agora é que se lembrou disso. – Perguntou o inspetor.
- O Pedro é incapaz de me prejudicar. O facto de ter fechado a mala é
perfeitamente inócuo. - ripostou ela.
- Hum... – fez o inspetor.
Quando ficou sozinha Jaciara
colocou a cabeça entre as mãos e deixou que o desespero tomasse conta dela,
chorando convulsivamente. Em Portugal ela era uma estrangeira e, embora fosse
vitima de uma armadilha, ninguém acreditaria nela, tanto mais que os indícios
eram todos contra. Ia ser acusada de
tráfego de droga e, ainda que as provas não fossem suficientes para a condenar,
iria ser deportada e teria que regressar ao Brasil, um país deprimido onde ela
não tinha futuro, para além de perder tudo o que tinha construído em Portugal, à
custa de tanto trabalho e sacrifício. Ainda dizem que cada um só tem o que
merece!
Quando, no fim do dia, Jaciara
foi conduzida para um local onde iria passar a noite, sob prisão, era uma
mulher completamente diferente, parecia que tinha envelhecido dez anos! Tinha
perdido não só o seu porte mas toda a vontade de lutar e o seu olhar refletia
apenas derrota e humilhação.
Depois de uma noite, ainda que
mal dormida, Jaciara acordou com outra disposição e pediu para falar novamente
para os salões que o Pedro dizia possuir. Tinha sonhado com Pedro durante toda
a noite e isso, em vez de a lançar no desespero, apenas serviu para perceber
quem ele efetivamente era e para lhe dar ânimo para lutar. Na verdade, ela iria
enviar uma mensagem ao seu amigo advogado, que até sabia que ela tinha ido
buscar a mala ao aeroporto e provavelmente também sabia que ela ainda não tinha
regressado. A Jaciara estava de volta! Podia vir a perder tudo, mas não
renunciaria à luta!
Quando chegou à sala, onde
decorrera o interrogatório do dia anterior, estavam lá os dois inspetores e a
sua mala encontrava-se em cima da mesa. Apesar da sua disposição para a luta
sentiu um sobressalto e a única coisa que lhe ocorreu foi que tinham encontrado
droga na mala e não apenas vestígios. Apesar do choque, recompôs-se e avançou
para o cento da sala preparando-se para falar. O inspetor levantou o braço
interrompendo-a.
- Sra. Jaciara, a situação em que se encontra envolvida já foi esclarecida.
A senhora pode ir para casa, mas será chamada a depor oportunamente.
- Mas afinal quem é o responsável por tudo isto? – perguntou ela.
- Isso não lhe diz respeito. A sua amiga Eloisa teve menos sorte e vai ser
acusada de cumplicidade no tráfego de droga. – respondeu o inspetor.
Jaciara foi conduzida para o
exterior sem direito a apresentar qualquer argumento e sem mais nenhuma
explicação. Apanhou um táxi no aeroporto e, depois de dar indicação da morada ao
motorista, deixou-se absorver pelos seus pensamentos. O amor atraiçoara-a mais
uma vez, a vida pregara-lhe mais uma rasteira, mas por fim ela vencera. No
peito ostentava apenas mágoas, mas com o mesmo orgulho com que ostentaria
medalhas!
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