A notícia espalhou-se como
um relâmpago! Tinham encontrado um túmulo de um nobre romano nas escavações do
Campo Arqueológico de Mértola. Um nobre romano sepultado numa província tão
distante de Roma e tão insignificante, era uma descoberta notável. No entanto,
a verdadeira notícia não era a descoberta arqueológica mas sim a doença que
afectava todos os que estavam envolvidos nos trabalhos. A equipa de arqueologia
tinha encontrado uma praga! A imprensa deu-lhe um nome: Era a “praga do nobre”.
Subitamente a violação, estrangulamento e mutilação de Rosa Moreno, a jovem
estudante que se prostituía no Bairro Alto, tinha perdido notoriedade.
O velho arqueólogo Alberto
Campelo, especialista em civilização romana, sempre acalentara o sonho de fazer
uma descoberta que lhe desse alguma notoriedade fora do meio arqueológico. Era
uma pequena vaidade que os seus alunos e os membros da sua equipa conheciam
muito bem. As muitas descobertas arqueológicas e os anos dedicados ao ensino tinham-lhe
granjeado grande prestígio entre a classe. Um relatório ou uma afirmação feita
por Campelo eram praticamente inquestionáveis. Quando Pedro de Vasconcelos lhe bateu à porta
com aquelas evidências ele não hesitou. O pai de Pedro e Alberto tinham sido grandes
amigos, por isso, quando o primeiro morreu, ele dedicou algum do seu tempo a
apoiar o filho do amigo, que entretanto decidiu ser também arqueólogo. Se não
fosse a má influência que um primo exercia sobre Pedro talvez ele ainda
trabalhasse na equipa de Alberto, mas o destino quisera de uma forma diferente.
Pedro tornou-se um viciado em drogas e deixou-se envolver em esquemas
complicados. Alberto tinha ficado muito feliz com a notícia de que estava
recuperado e se encontrava a trabalhar na equipa que continuava a fazer
escavações em Mértola. Fora uma pena que tivessem ficado sem orçamento.
- Pedro? Exclamou Alberto, quando abriu a porta.
- Olá tio. Faz muito tempo que não nos vemos.
Era desta forma carinhosa e
familiar que ele costumava tratar Alberto, quando se relacionavam fora do
ambiente profissional. Pedro trazia notícias fantásticas. As últimas
descobertas apontavam efetivamente para a existência de um túmulo de um nobre
romano no Campo Arqueológico de Mértola. O problema é que para continuar as
escavações era necessário dinheiro e o arqueólogo que chefiava a equipa não
tinha nem os contactos nem o prestígio para obter o financiamento
necessário. Alberto ficou logo entusiasmado mas existiam muitos obstáculos e
dificuldades, alguns dos quais ele não queria divulgar. «Como vou fazer
isto com o problema que tenho? Se tenho um daqueles ataques deito tudo a
perder.» Pensou.
- Eu já estou reformado. Não tenho condições físicas para chefiar uma
escavação.
- Francisco Alvarez, o meu chefe, não se importa de usar a equipa dele
sob a sua batuta. O tio Alberto seria o chefe, mas toda a parte operacional e
grande parte do trabalho, seria desenvolvido por ele e pela equipa dele. O tio apenas tem de
coordenar.
A proposta era
verdadeiramente tentadora.
- Tens a certeza dos indícios de que falas?
- Sim tio. Eu vi com os meus olhos. A única coisa
que eu não vi foi um documento que está na posse do meu chefe. Ele deu-me a
indicação que caso o tio estivesse interessado mas tivesse dúvidas lhe deveria
ligar.
O telefonema feito ao
colega e o encontro na torre do tombo acabou com todas as dúvidas. Ele iria
chefiar as escavações em Mértola. Para isso apenas precisava de garantir o
financiamento. Após alguns telefonemas e umas quantas reuniões ele conseguiu a
aprovação do financiamento da escavação em finais de Abril. A altura era
perfeita pois o período das chuvas tinha acabado e ainda não estava muito
calor.
Alberto tinha sido pai de
uma menina aos trinta e oito anos. Fátima fazia nesse dia trinta e três anos, mas hà oito que vivia nos Estados Unidos, como professora, em Harvard. Tinha feito aí o doutoramento e
prosseguira, com sucesso, a carreira universitária. O pai insistira muitas
vezes com ela para regressar a Portugal, mas ela resistia como se estivesse a
fugir de algo. O facto do pai ter voltado a trabalhar e ainda por cima com o Pedro, deixou-a preocupada. Ela tinha ouvido umas histórias sobre o
envolvimento de Pedro e do primo David, nuns negócios com drogas e farmacêuticas, que não eram nada abonatórias. Era certo que já tinha passado algum tempo sobre
os rumores, mas o teor dos mesmos não coincidia com aquilo que o pai lhe
dissera sobre Pedro. Decidiu que iria passar o seu aniversário com o pai. O
jantar de comemoração foi marcado para o restaurante o Fialho, em Évora. Pedro
e o chefe também foram convidados.
Fátima saiu de Lisboa no
sábado de manhã e levou consigo seis amigos. O dia foi passado a passear em Évora e o pai juntou-se ao grupo, a meio da tarde, tendo conduzido o mesmo num
passeio arqueológico pela cidade. Fátima recordou os tempos em que ela, o pai e
a mãe viajavam. O pai organizava sempre um passeio arqueológico pela cidade, recorrendo muitas vezes a colegas do local. O jantar foi divertido. O chefe de
Pedro era uma pessoa comunicativa e com muita graça e os dez riram a noite toda
com as histórias sobre túmulos, maldições, pragas e outras lendas sobre as escavações arqueológicas. Em determinada altura Fátima surpreendeu-se ao ver a cara
preocupada de Pedro, quando o chefe contava a história de uma doença que se
espalhara com a descoberta de um túmulo, ao qual estava associada uma maldição
e depois se descobrira que fora um problema de envenenamento, involuntário, da
água do acampamento.
- Boa noite meus senhores. Olá Fátima, faz muito tempo que não te via.
Não sabia que tinhas voltado. Disse o jovem.
Alberto fez um expressão de
desagrado e estranheza e todos se calaram. Pedro olhava para o primo com uma
expressão de apreensão e um olhar interrogador.
- Boa noite. Com quem tenho o prazer de estar a falar? Disse Francisco
Alvarez.
- Pedro, porque não apresentas aqui ao primo os teus amigos? Voltou o jovem.
Enquanto isso Fátima
procurava recuperar do choque. Fazia muito tempo que não via David e na verdade
ele fora a razão porque ela saíra de Portugal e não regressara. David
continuava um homem muito bonito. Era apenas dois anos mais velho que ela, mas
aparentava ter bastante mais. Na verdade isso não era nada estranho, tendo em
consideração o estilo de vida que ele levava e, a avaliar pela companhia em que
havia chegado, nada tinha mudado. David tinha sido o seu grande amor. A sua
presença fê-la recuar aos tempos da faculdade.
Fátima tinha acabado a
licenciatura com a média de dezanove valores, na Universidade Católica de Lisboa
e o pai deu uma festa para celebrar o facto. Pedro apareceu com o primo e o
jovem alto e musculado, com cabelos loiros e olhos azuis, conquistou de imediato
o coração da jovem morena, de curvas perfeitas e gargalhada fácil. Fátima tinha uma feições agradáveis, sem serem bonitas, mas irradiava alegria, boa disposição e encantamento. O seu sorriso derretia
qualquer coração. David, ainda que contra a sua vontade, ficou
irremediavelmente preso a Fátima.
Durante os primeiros meses
de namoro as coisas correram bem e eles entendiam-se de tal forma que toda a gente dizia que eram o par perfeito. O
amor que eles sentiam um pelo outro e que exibiam durante o dia,
transformava-se em paixão louca durante a noite. Os seus corpos suados
buscavam-se com sofreguidão e a paixão que os devorava era um amo exigente, não
se satisfazendo com facilidade. Quando estavam a sós valia tudo, menos
violência. Fátima sentia verdadeiro prazer em experimentar tudo com David,
desde que não envolvesse violência ou submissão. Algumas das coisas que
experimentaram foram um pouco dolorosas mas Fátima abraçou-as com o mesmo
entusiasmo com que abraçava David e entregou-se a elas com o mesmo amor que
votava ao companheiro. Foram noites de loucura, de lascívia, de paixão e de
amor insano, mas ela adorou todos os momentos. No entanto, existia um mistério
que Fátima não tinha conseguido resolver. David desaparecia todas as terças e
quintas, sem dar satisfação sobre o que fazia ou para onde ia. Fátima nunca
tinha aceite isso muito bem, mas não tinha conseguido alterar o estado das
coisas.
Ao fim de um ano de namoro,
estava Fátima quase a finalizar o mestrado, David aproveitou o facto de ela não
poder sair, devido ao trabalho e começou a sair todos os dias com um grupo de
amigos de quem ela tinha conseguido mantê-lo afastado, até aí. A presença dessas
pessoas nas suas saídas, ao fim de semana, começou a envenenar a relação. David
estava permanentemente num grande estado de excitação e era notório que tinha
começado a ingerir drogas.
Antes de Fátima ir de
férias, no mês de Agosto, com o pai, David organizou um fim de semana em Tróia.
No sábado, depois de uma noite de bebida e dança chegaram ao apartamento, onde
iam ficar, um pouco embriagados e cansados. David fechou-se na casa de banho e
quando saiu ela estava encostada a ombreira da porta e o seu olhar exigia
uma explicação.
- Tinha que vomitar e não te queria incomodar. O vómito é um nojo.
Disse ele com um brilho estranho no olhar.
Fátima olhou para ele sem
perceber muito bem como todo o cansaço tinha desaparecido, depois de meia hora
na casa de banho. Tomaram banho juntos e amaram-se sem reservas. Quando
chegaram à cama ele continuava cheio de vontade e ela, apesar do cansaço, entregou-se a ele novamente. Subitamente viu-se algemada e David tirou o cinto começando
a bater-lhe, primeiro o cinto parecia apenas acariciá-la. Fátima, embora
contrariada não conseguiu evitar ficar excitada. O seu corpo rebolou e mexeu-se
como que tendo vida própria. A chicotada apanhou-a completamente de surpresa! David batia-lhe com violência e com um ritmo alucinante. A sua expressão
parecia a de um louco.
- Para! Gritou Fátima, procurando refugiar-se no outro lugar da cama.
David não se comoveu e
continuou. Ela, já com lágrimas nos olhos e implorando para ele parar,
levantou-se da cama, com dificuldade, devido as algemas e refugiou-se na casa
de banho. David tentou forçar a porta enquanto ela gritava e chorava lá dentro.
O local onde estavam era uma moradia isolada e como tal ninguém a ouviu. Ele, quando percebeu que não ia conseguir entrar na casa de banho, foi para a cama.
Depois de duas horas fechada na casa de banho ela percebeu que David tinha adormecido. Saiu, vestiu-se e ligou a uma amiga que veio buscá-la. David
dormia profundamente.
David desculpou-se como
pôde. A verdade é que estava sob o efeito de drogas e isso tinha-o levado a
fazer o impensável. Fátima perdoou-lhe mas nada voltou a ser como antes. David
era um homem cada vez mais ausente e Fátima sentia a violência em muitos dos
atos e gestos dele. Ela própria já não sabia distinguir quando a violência
estava mesmo lá ou quando ela a imaginava. «Tenho que livrar-me deste
amor.» Dizia ela, a si própria, centenas de vezes. Mas sempre que tentava
fazê-lo vacilava e voltava atrás. Parecia que o seu destino estava
irremediavelmente preso ao dele. Quando teve que ser resgatada, pela segunda vez, de uma cena de violência, desta feita por um amigo que estava num quanto ao
lado, Fátima percebeu que tinha de colocar um fim à relação. Como isso não era
possível estando ao lado dele, decidiu aceitar a proposta que tinha para um
doutoramento em Harvard e desapareceu sem sequer se despedir.
Fátima voltou ao presente.
«Meu Deus, como pude um dia amar tanto este homem?»
Interrogou-se. «Ainda bem que o encontrei. Agora sei que posso
voltar quando quiser, afinal ele já não me afecta.» Pensou.
- Boa noite David. Vejo que o tempo não foi meigo contigo. Ou foste tu
que não te poupaste? Disse ela, em tom jocoso.
Ele foi apanhado de
surpresa pelo seu comentário e demorou algum tempo a responder.
- Folgo em ver que isso te dá tanto prazer. Não celebres já porque a
vida nunca para de nos surpreender. Disse ele com um sorriso que mais parecia
um esgar de dor, enquanto dirigia um olhar significativo ao pai dela e dava
meia volta.
Fátima ficou baralhada.
Sacudiu a cabeça como que para afastar uma ideia e dirigiu a atenção para os
amigos, ignorando-o.
O ano letivo nos Estados
Unidos tinha terminado e Fátima decidiu passar algum tempo em Portugal, sendo
que os fins de semana eram passados com o pai, de quem tinha muitas saudades. Ele
estava muito só e a companhia da única filha deu-lhe outro alento. Desde a morte
da mulher que não sentia tanto entusiasmo pela vida e pelo trabalho. Fátima
estava há uma semana em Portugal quando se deu a descoberta.
No princípio foram apenas
rumores mas quando Alberto Campelo foi encontrado sentado na estrada todo
desgrenhado, num estado febril e a dizer coisas sem nexo, a imprensa deu ao
assunto a primazia de noticia para consumo em tempo nobre. No espaço de horas o
assunto tornou-se tema em toda a imprensa nacional, escrita e falada, mas
quando, ao fim do dia, se tornou público que os dois estudantes americanos, que
faziam parte da equipa das escavações, também estavam doentes e sem um diagnóstico definido, as afirmações do arqueólogo
Alberto Campelo ganharam dimensão internacional. «O nobre romano tinha sido enterrado
em Évora porque tinha uma doença incurável, mortífera e de propagação rápida.
Essa praga tinha sido libertada quando entraram no túmulo». O rosto de Alberto
Campelo e as sua palavras estavam em todas as televisões do mundo. As
escavações e a equipa envolvida tinha sido colocada de quarentena por isso
Fátima não conseguia contactar com o pai. A campainha tocou e ela foi abrir.
Nuno, o marido de uma das amigas que era investigador na polícia judiciária, estava à porta, acompanhado de um jovem alto, moreno, com uma expressão firme e
franca, que lhe dispensou um sorriso. Gostou dele. O companheiro de Nuno era o Roger
e era um investigador americano que iria colaborar com a policia judiciária.
- Olá Fátima. O meu colega americano gostava de falar contigo sobre o
teu pai. A propósito lamento o que lhe está a acontecer. Disse Nuno.
A partir desse momento a
conversa foi em inglês. Roger era licenciado em direito, em Harvard, e isso
criou logo uma grande proximidade entre eles.
- O seu pai tem algum problema de saúde? Perguntou Roger.
- Eu não sei muito bem. Ele toma alguns medicamentos mas sempre escondeu
muito bem as suas debilidades. Respondeu.
- Eu não acredito que ele esteja louco como diz a imprensa. O que me
parece é que ele tem uma doença qualquer que quando combinada com a os sintomas
da suposta “praga do nobre” o fazem ter comportamentos menos aceitáveis para os
nossos padrões.
- Mas que doença pode ser essa? – Perguntou ela.
Era uma pergunta retórica.
Ninguém respondeu
- Saber quais as doenças do seu pai é muito importante, até porque
começam a surgir pistas sobre a cura para a “praga do nobre” e para a tratar vai ser
necessário saber se os pacientes têm outras doenças.
- Mas já existe diagnóstico e tratamento? O que tinha ouvido dizer era
que havia uma farmacêutica que tinha despistado a doença e estava a assinar
contratos, com os governos dos Estados Unidos e com a Comissão Europeia, para a
produção em massa do medicamento desenvolvido para cura. Disse ela.
- Não é bem assim. A cura provavelmente existe faz muito tempo. Disse.
- Não estou a perceber nada. Se a doença não foi identificada nem tem diagnóstico, como
pode existir uma cura?.
- A seu tempo tudo será desvendado. Não se esqueça de nos informar se
descobrir a doença do seu pai.
Fátima não respondeu. Algo
naquela afirmação não batia certo. Sim, como podia ele falar assim? A pergunta
feita daquela forma implicava que o pai dela tinha efetivamente uma doença.
Eles sabiam mais do que ela sobre o seu pai e isso não era bom.
Os acontecimentos
sucediam-se de forma vertiginosa. A “praga do nobre” não era mais do que uma
variante do ébola com a qual as pessoas envolvidas na escavação tinham sido
contaminadas. A questão agora era saber como tal tinha acontecido. Para já os
dois responsáveis pela escavação estavam a ser acusados de ter contaminado a
equipa, de ter enganado a farmacêutica e todo o público. Estavam ambos em prisão
preventiva. Fátima estava desesperada. O
facto de ter contratado um dos melhores advogados portugueses não tinha ajudado
nada. A imprensa considerava isso um sinal de culpa e o advogado nada conseguia
fazer.
- Olá Roger. Preciso de falar contigo. Disse Fátima, falando para o celular.
Tinha decorrido uma semana
desde que o pai estava preso e ela não tinha conseguido ajudá-lo. Entretanto
Roger tinha-a levado a jantar duas vezes e parecia sincero quando dizia que
queria ajudá-la, mas que nada podia fazer. Ela precisava de desabafar e o facto
de ter encontrado um velho amigo do pai, que era médico e que lhe revelou que
este tinha uma doença grave, do foro mental, tornou essa necessidade mais
urgente.
- Tens que ajudar o teu pai. Olha
que a doença apesar de poder ser controlada é sujeita a crises provocadas por
eventos extraordinários. No caso do teu pai é a claustrofobia. Eu avisei o teu
amigo faz algum tempo. Disse o médico
- Qual amigo? Perguntou Fátima.
- Aquele alto e loiro que trabalha para uma farmacêutica norte
americana. Ele estava muito preocupado em descobrir uma forma de ajudar o teu
pai. Disse que o fazia por ti.
Fátima teve uma espécie de
epifania. Na cabeça dela estava tudo claro mas precisava de validar o assunto
com um especialista. Roger quando tomou conhecimento da conversa associou de
imediato o envolvimento da David com a farmacêutica que estava a desenvolver a
cura para a “praga do nobre”.
- Assumindo que a farmacêutica está por detrás de tudo como explicas
que as provas apontem todas para os dois arqueólogos?
- Não sei. Confessou Fátima.
- Para além disso não foi o David que envolveu o teu pai mas sim o
Pedro.
- Espera. O Pedro também está por detrás disto. No jantar do meu
aniversário ele ficou alarmado com a presença do primo e para além disso ficou preocupadíssimo
quando o Alvarez contou uma história sobre um envenenamento da água numa
escavação arqueológica. Disse ela.
Eles ficar a olhar um para
o outro em silêncio. Seria possível? Foram invadidos em simultâneo pelo mesmo
pensamento. Pedro era o elo de ligação e tinha sido quem tratou de todas as
encomendas da alimentação e das bebidas. Roger despediu-se e saiu apressado.
Necessitava de fazer alguns telefonemas e de confirmar algumas coisas.
Durante três dias Roger não
deu notícias, nem Fátima o conseguir contactar. Ela já não sabia mais o que
fazer. Não conseguia descansar direito e mal se alimentava. Os seus dias eram
um tormento e as noites um pesadelo, vivido de olhos abertos. O pai tinha tido
mais dois ataques e embora agora fosse seguido pelo seu médico, o facto de
estar fechado numa prisão hospital apenas piorava as coisas.
O caso da “praga do nobre”
tinha sofrido uma grande reviravolta. Aquilo que tinha sido apresentado como
uma mera busca de protagonismo por dois arqueólogos, sem olhar a meios e com
consequências desastrosas, era afinal um crime hediondo, planeado até ao
detalhe e envolvendo alguns políticos americanos e portugueses e um grande
grupo farmacêutico. Pedro tinha sido drogado e colocado num quarto de
uma pensão do Bairro Alto. Rosa Moreno tinha sido contratada para ter relações
sexuais com Pedro e tinha sido também drogada. David tinha sido o artífice da
coisa e depois de matar Rosa, com requintes de malvadez, deixou que fosse o primo
a arcar com as culpas. Este quando acordou não se lembrava de nada e ao ver
Rosa morta, a seu lado ligou ao primo a pedir ajuda. Ele disse que lhe resolvia
a situação em troca de uns favores e foi assim que Pedro entrou no esquema.
Tinha de envolver o tio Alberto e de encomendar a alimentação e bebidas à
empresa que David indicasse.
Por trás de tudo estava a
farmacêutica para a qual David trabalhava e que ficaria com a produção do
medicamento que curava a suposta “praga do nobre”.
- A ideia era interessante e podia ter funcionado se tivessem escolhido
melhor o local para servir de foco à doença. Disse Roger.
- Para mim o que é importante é que o meu pai está em casa e já está a
recuperar. Disse Fátima.
- Pensei que o nosso encontro era o mais importante. Disse Roger em
tom brincalhão
Fátima calou-a com um beijo
quente e apaixonado ao mesmo tempo que colocava o seu corpo em cima do dele.
- Não tu foste um bónus, mas um excelente bónus. Respondeu ela no
mesmo tom.
Depois amaram-se e
adormeceram abraçados. A praga tinha sido eliminada e felizmente sem vitimas
mortais. Desta vez a ambição não levara a melhor e o seu impacto tinha sido
contido.
Algures nos céus do atlântico e em Porto Galinhas 02/10/2018
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