A CATEQUISTA
Alexandre não era possuidor de características
físicas, que lhe dessem algum destaque especial. Confundia-se com o grupo e
procurava até passar despercebido. No entanto, um segundo olhar, permitia
distinguir um conjunto de caraterísticas que o tornavam, regra geral, líder dos
grupos em que se inseria. Era inteligente, obstinado, extremamente focado e de
uma delicadeza e sensibilidade fora do comum. Habitava uma aldeia perto de Vila real, a capital de distrito. A proximidade da capital não reduzia a sua essência de aldeia. Tinha menos
de um milhar de habitantes, cuja fortuna se media ou pela propriedade rural, ou
pela importância do emprego na cidade. O pai dele era um dos maiores proprietários
da aldeia, acumulando esse facto com uma reforma, trazida da guerra do ultramar.
Isso dava um destaque especial à família. Tratava-se, no entanto, de uma visão surrealista,
pois a dimensão da propriedade era exígua e a família demasiado numerosa, para
viver dos seus rendimentos. Era uma realidade muito própria de um meio fechado,
onde predominava o minifúndio.
Apesar da posição familiar, Alexandre
destacava-se por si próprio. Era dos poucos jovens que continuara os estudos,
depois do nono ano, lia a primeira leitura nas missas de domingo e acumulava a
função de catequista e coordenador do grupo de teatro dos jovens catequistas. Gozava,
portanto, de boa notoriedade na aldeia. A simplicidade com que ele encarava
essa situação fazia com que fosse ainda mais querido, quer entre os mais velhos, quer entre a juventude. No
entanto, esse sentimento não era universal. O seu grande rival era João Luís.
Fazia parte do grupo coral, tocando guitarra e exibindo a sua bela voz. João Luís
era mais alto que Alexandre e tinha um aspeto de galã. O pai era funcionário
das finanças e ele era filho único. Isso refletia-se nas roupas que vestia ou
mesmo nas mãos bem tratadas, prorrogativa de quem não tinha que trabalhar a terra.
Cada um deles sentia que a posição do outro é que era confortável. Era como diz
o ditado “A galinha da vizinha é sempre melhor que a minha”. A grande diferença ente eles é que João Luís
fazia o que podia para descredibilizar Alexandre, enquanto este encolhia os
ombros, fingindo uma indiferença que não sentia. Invejava o outro em silêncio.
Aproximava-se o verão e com ele a festa
da catequese. Como de costume, Alexandre falou com o padre António, pedindo-lhe
autorização para fazer a festa, destinada aos catequistas e catequizados.
Alexandre era não só o coordenador do grupo, mas também o ator principal. Esse ano
iriam fazer a representação de uma comédia, tendo sido necessário inventar
tiques e maneirismos para todas as personagens. O padre António deu uma mãozinha
e a peça estava muito divertida. O ator principal permanecia em palco durante toda
a duração da peça, o que lhe dava uma visibilidade extraordinária. A
representação teria lugar na sede da freguesia, mas viriam pessoas de todas as
aldeias. Era uma oportunidade para todos os catequistas se conhecerem. O padre António
tinha pedido que fosse dada a possibilidade aos catequistas, das aldeias
afastadas, de participarem no espetáculo. Como estes não podiam deslocar-se
todos os dias, durante dois meses consecutivos, para participar nos ensaios,
ficou acordado que quem quisesse participar, podia vir ao palco, no fim da peça,
fazer uma pequena atuação, apresentado uma habilidade ou contando uma história.
João Luís não participava na peça, mas arranjou forma de o Padre António propor
que fosse ele a apresentar os vários participantes.
A sala estava cheia e o espetáculo foi
um sucesso. Alexandre tinha jeito para a coisa e o público estava em delírio.
Quando a peça terminou, João Luís apresentou-se nos bastidores com um ar
arrogante.
«Chegou
a minha vez de vos mostrar como é que isto se faz!»
Os participantes na peça olharam uns
para os outros, boquiabertos, com o comentário. Quando buscaram, com o olhar, uma
resposta, Alexandre encolheu os ombros e fez um sinal com a cabeça: é melhor
ignorarem. Atrás dele vinha uma jovem bonita, em quem Alexandre já tinha
reparado e que também iria participar no espetáculo. Os participantes na peça foram para a
sala, tomar o seu lugar de espetadores e, nos bastidores, ficaram os estreantes, orientados por Alexandre. Estavam todos bastante nervosos a começar por João Luís,
que quando chegou a sua vez de anunciar o primeiro participante, teve de ser
empurrado para o palco. Quando se viu debaixo dos holofotes, bloqueou,
incapaz de pronunciar uma palavra. Ao fim de dois minutos de espera, o público
começou a provocar o rapaz e começaram a chover objetos no palco. Alexandre não
teve outra alternativa senão intervir. Nessa altura, já a Elisa se tinha colado
a ele, pedindo conselhos. Alexandre entrou a correr no palco, olhando para
todos os lados, como quem procura alguém e fixou o olhar em João Luís. Parou fingindo
surpresa ao ouvir o público a rir à gargalhada, no momento em que uma maçã lhe
acertou numa perna. Agachou-se, devagar, olhando o público, enquanto dizia
pausadamente
«Parece
que temos guerra!»
Apanhou a mação e soltou uma
gargalhada.
«E eu a pensar que era uma granada!»
Deu uma dentada na maçã com um ar
divertido. Em seguida virou-se para o João Luís, estendendo o braço e mostrando
a maçã mordida.
«Isto é boa gente. A maçã é muito boa! Queres
dar uma dentada?»
O outro não sabia, nem o que dizer, nem
o que fazer. Alexandre colocou-lhe um braço sobre o ombro, o que não foi fácil
dada a diferença de altura.
«Um aplauso para a nossa primeira
participação! O homem que conseguiu manter o silêncio perante um público tão aguerrido.»
Em seguida, de forma tranquila
conduziu-o para fora do palco, ao mesmo tempo que lhe tomava das mãos a lista
dos participantes e o público aplaudia, soltando gargalhadas. João Luís, assim
que saiu do palco, evaporou-se. Dizem as más línguas que tinha urinado pelas
pernas abaixo. O espetáculo continuou e as participações foram bem interessantes,
com Alexandre a apoiar os vários intervenientes. O espetáculo tinha terminado
e era hora de arrumar tudo. Alexandre ficou até ao fim. Depois de participar na
arrumação, foi verificar a sala. Queria que ficasse tudo em condições. Elisa não
o largava, nem se cansava de o elogiar, comparando o seu brilhantismo com o autêntico
fiasco de João Luís.
«Como conheceste o João Luís?»
«Somos amigos. Conhecemo-nos na festa
das Ramadas.»
«Namoras com ele?»
«Já te disse que somos apenas amigos.
Porque? Gostas de mim?»
«É impossível um homem não gostar de
uma mulher que, para além de bonita, é simpática como tu.»
Ela sorriu de forma coquete e fingiu
tropeçar, jogando-se para cima de Alexandre. Ele evitou que ela caísse, tendo
ficado entalado entre ela e a parede. Estavam numa posição pouco própria. Ele segurava-a
pela cintura, apertando-a contra si. Os seios dela pareciam duas bolas de fogo
a queimar-lhe o peito. Ela reclinou a cabeça para trás, fazendo com que uma boa
parte dos seios aparecesse pelo decote e olhou-o de forma provocadora, ao mesmo
tempo que pressionava a anca contra a dele. Alexandre não conseguiu esconder o estado de excitação em que estava. Ela pendurou-se no pescoço dele
e o beijo aconteceu de forma natural. Alexandre nunca tinha beijado uma mulher.
Os lábios dela queimavam e quando entreabriu os dele, a língua dela enrolou-se
na dele, como um furação. Tomado de surpresa e sem saber como agir, deixou que
ela assumisse o comando. As mãos dele seguravam as nádegas dela com força, pressionando-a
contra ele. Ela adorou a sensação e esfregou-se nele, ronronando como uma gata.
Depois afastou-se ligeiramente dele e virou-se, encostando as nádegas ao sexo
dele. Aquilo era superior às suas forças! Ela estava ligeiramente dobrada para
a frente, apresentando-lhe as nádegas como uma oferenda. Ele não entendeu a
mensagem. O corpo tremia-lhe e só não libertou o sémen, que exigia liberdade,
com vergonha de sujar as calças. Ela guiou-lhe as mãos e colocou-as sobre os
seios nus. Alexandre nunca tinha tido uns seios nas mãos. Parecia que eram feitos
de seda! Era uma sensação maravilhosa. Os mamilos estavam rijos e quando ele os
tocou, ela gemeu de prazer, um gemido que o levou a soltar umas gotas do precioso
sémen. Ela, consciente da sua inexperiência, satisfez a necessidade dele e
disse-lhe como a satisfazer, usando as mãos. Foi uma experiência inesquecível!
Alexandre sentia que estava
completamente apaixonado, ou pelo menos pensava que estava. Nos dias seguintes,
a dúvida assaltou-o. Era claro que estava prisioneiro da satisfação de um desejo
animal, que o consumia como uma chama, mas na verdade não conhecia Elisa. Ficou
a saber o tipo de mulher que ela era quando a encontrou, quinze dias depois, na
festa da aldeia. Num dos recantos do recinto, num canto mal iluminado, ela
entregava o corpo às carícias de João Luís e ele explorava-o sem pudor.
Alexandre sentiu que lhe rasgavam o peito. A dor e a desilusão pareciam
insuportáveis. A festa tinha acabado para ele. Com as lágrimas a escorrer-lhe
pelo rosto, encaminhou-se para casa e foi deitar-se, deixando que o travesseiro
lhe servisse de consolo. Não era a sua primeira paixão, mas era a que deixava
marcas mais profundas e dolorosas!
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