Pedro,
A tua carta
chegou às minhas mãos ao final do dia. Estava exausta e aborrecida, depois de
um dia de trabalho recheado de problemas. Quando a retirei da caixa do correio
as minhas mãos tremiam. O teu nome, no remetente, saltou-me à vista e no
silêncio do hall de entrada do edifício soou como um grito. Corri para o
elevador e fiz o toque de chamada. O tempo de espera pareceu-me uma eternidade
e a lentidão com que o elevador subiu foi desesperante. Joguei a mala de
qualquer jeito e rasguei o envelope com sofreguidão.
A tua carta
virou o meu mundo do avesso. Ela dizia tudo aquilo que eu tanto queria ouvir,
mas depois de tantos meses a sofrer e a tentar esquecer-te, as palavras pareceram-me
irreais. Dentro de mim cresceu um misto de esperança e de medo. Quero acreditar
que me amas, mas isso deixa-me um desconforto que nunca pensei sentir. A nossa
relação ainda nem sequer começou e eu já tenho medo que ela acabe. O tempo que
passei como tua amiga e, sobretudo, aquele durante o qual procurei esquecer-te,
deixou marcas demasiado profundas. Depois de muitas horas de um misto de sobressalto,
ansiedade e felicidade, adormeço de exaustão. Sonho contigo. Sonho que fazes de
mim a mulher mais feliz do mundo, mas o sonho transforma-se num pesadelo quando
tu me abandonas. Acordo em sobressalto. Era apenas um sonho! Volto a adormecer
e acordo já tarde. É sábado e não tenho de trabalhar. Dedico o resto da manhã a
cuidar da casa e à tarde vou dar um passeio, depois de rejeitar todos os
convites para sair.
Está uma linda
tarde outonal e a luminosidade do rio Tejo ofusca-me. A torrente de luz invade-me
a alma, iluminando-a. Apesar dos passantes, o local transmite uma calma que me
liberta a mente. Finalmente, consegui colocar os pensamentos em ordem. Leio a
tua carta novamente e todos os receios desapareceram. Acredito em ti, porque
quero acreditar e porque não existe razão para não o fazer. Sento-me num banco
e sonho acordada. Sonho que tu estás a meu lado e que, juntos, admiramos o
por-do-sol. Deito a minha cabeça no teu ombro e fecho os olhos. Sinto-me tão
feliz e tão leve que flutuo. A voz de uma criança chama-me à realidade. Uma
menina toca-me no joelho e oferece-me uma flor. Os pais, dois jovens que
empurram um carrinho com o irmão mais novo, sorriem para mim.
«É do teu namorado!» Diz a criança.
Emociono-me
com o gesto e sobressalto-me com a coincidência. Era como se fosses tu a
oferecer-me uma flor. Eu acredito que existe uma razão para tudo e esta oferta é
para mim uma mensagem do divino. É Ele a abençoar o nosso amor.
Fecho
novamente os olhos e vejo-nos, de mãos dadas, passeando numa praia no meio do
bulício de um dia de estio. O sol queima-nos os ombros e a água gela-nos os
pés. É uma combinação perfeita. Rodopio à tua volta enquanto tu seguras a minha
mão de forma firme mas com um carinho extremo. Sinto que de ti emana um
sentimento que me aquece. Algo que começa na minha mão e que rapidamente
preenche todo o corpo, deixando-me num estado de torpor delicioso. «Amo-te.»
Grito, embora os lábios não emitam qualquer som.
O crepúsculo
cobria o Tejo quando regressei a casa. O céu no horizonte adquiriu um tom
avermelhado e Lisboa cobriu-se de uma luz mágica que se extinguiu rapidamente.
Tudo me parecia belo. Nunca tinha reparado como Lisboa estava cheia de turistas
alegres e bem-dispostos e de jovens casais, que arrufavam em todos os cantos.
Havia música no ar!
Á noite saí
com umas amigas. Nessa noite parecia que os jovens de Lisboa tinham conjurado
fazer-me a corte. Recusei de forma simpática e brincalhona. Tinha tomado uma
decisão: O meu coração era teu e só teu. Na segunda-feira a carta segue pelo
correio. Junto à minha morada o número de telefone. Podes ligar-me quando
quiseres. Nada me daria mais prazer do que ver-te e estar contigo. Quiçá o resto
a minha vida.
Com amor,
Luísa.
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