A JORNALISTA | PARTE VI | CAPÍTULO 8 – Jair
As provas eram claras: Jair tinha feito entrar em Portugal
dinheiro cuja origem não conseguia justificar. O crime não era suficientemente
grave para o manter preso por muito tempo, mas, dava tempo às autoridades
Brasileiras para o acusar de crimes bastante mais graves e solicitar a sua
extradição. As autoridades portuguesas apenas necessitavam de o manter preso o
tempo suficiente para as brasileiras instruírem o respetivo processo. Os
advogados de Jair tentaram tudo para evitar a prisão preventiva, mas os
esforços foram inglórios.
Entretanto, aconteceu um milagre. As autoridades Brasileiras
emitiram um mandato de prisão internacional, em três dias.
«Alguém com muito peso no Brasil está interessado na prisão de
Jair para a justiça ser tão eficiente.» Comentou Mónica.
«Isso não nos diz respeito. O mandato vai ser apreciado e se os
tribunais decidirem aceitá-lo ele será deportado. Com alguma sorte, muito em
breve ele deixará de ser responsabilidade nossa.» Disse o chefe dela.
Tinha decorrido uma semana desde a prisão de Jair e na imprensa
não se falava de outra coisa. Existiam versões para todos os gostos. Exista até
quem o responsabilizasse por todas as mortes associadas ao caso do palacete,
embora a polícia não possuísse uma única prova de tal facto. Os tribunais
portugueses aceitaram deportar Jair para o Brasil o que deveria acontecer
dentro de dois dias.
Durante o período em que esteve preso Jair ficou na cadeia de
Monsanto. Apesar das acusações que pendiam sobre ele, no Brasil, tinha um
tratamento diferenciado. Era, no entanto, um preso ao qual estava associado um
nível de risco elevado, por isso os responsáveis da cadeia receberam com alívio
a notícia da sua partida. A equipa que o iria acompanhar até ao Brasil e
proceder à sua entrega, chegou cedo à prisão. Estava tudo a postos para a
partida. Saíram das instalações às onze horas e encaminharam-se para a segunda
circular. Os batedores abriam caminho com as suas sirenes, logo seguidos de um
carro da polícia. A carrinha prisional levava quatro guardas: dois à frente e
dois junto do preso. O segundo carro da polícia encerrava o cortejo. Os agentes
que o acompanhariam ao Brasil seguiam atrás deles num carro não identificado.
As carrinhas surgiram do nada, chocando contra os carros da
polícia tendo esta força sido colocada fora de serviço. Os homens que seguiam
na carrinha prisional ficaram presos entre os dois carros da polícia, sem
capacidade de sair da ratoeira. Os assaltantes eram quatro e apresentavam-se de
cara tapada: dois homens e duas mulheres. Possuíam armas automáticas e tinham a
carrinha na sua mira.
«Não queremos magoar ninguém desnecessariamente. Saiam para fora
e entreguem-nos o prisioneiro.»
A ordem foi dada por uma mulher com sotaque eslavo.
Aparentemente era a chefe do grupo. Apesar de estarem sob a mira das armas
ninguém saiu da carrinha. A mulher voltou a repetir a ordem e, para sinalizar a
firmeza da mesma, disparou para o ar. O som do disparo, apesar de abafado pelo
silenciador, foi perfeitamente audível. Mesmo assim, ninguém se mexeu. A mulher
olhou para os restantes elementos do grupo e fez sinal com a cabeça. De
imediato a carrinha foi atingida por uma série de disparos, colocados de forma a
não atingir ninguém. Para sua surpresa os disparos não tiveram o efeito
desejado: a carrinha era blindada. Os homens lá dentro encolheram-se, mas quando
perceberam que as balas não passavam relaxaram. Não iam conseguir libertar os
presos.
Os dois agentes de ligação vinham um pouco atrás e foram
alertados do que se passava, ainda antes de fazer a última curva. Pararam o
carro e avançaram a corta mato, escondidos pela vegetação que naquele local era
baixa e densa. Aproximaram-se, cautelosamente, informando os guardas da
carrinha da sua intenção. Estes apenas tinham que ter um pouco de paciência e
aguentar o forte até eles chegarem. Como os assaltantes estavam colocados, dois
de cada lado da carrinha, eles avançaram cada um por seu lado. Quando tinham os
assaltantes debaixo da mira, dispararam sem qualquer aviso prévio. Atingidos
nos ombros os assaltantes perderam momentaneamente a capacidade de manobrarem
as armas. A situação foi aproveitada pelos guardas da carrinha prisional, que
vieram em auxílio dos agentes de ligação. Em questão de segundos os assaltantes
foram imobilizados e presos. Enquanto esperavam pelas novas viaturas da
polícia, montaram um perímetro de segurança, mantendo-se em alerta máximo.
A deportação tinha sido a sua sentença de morte. Já não tinha
nada a perder, por isso tinha preparado aquela arriscada tentativa de fuga.
Dentro da carrinha Jair estava completamente desesperado. Aquela era a última
oportunidade que ele tinha de escapar em solo português. Tinha que marcar uma
posição logo que chegasse ao Brasil. Era importante que os seus adversários
soubessem que ele tinha documentos que os podiam prejudicar, mas isso tinha que
ser feito com muita cautela, para não funcionar como um convite ao seu
assassinato.
A última fila do avião estava reservada para eles. Jair foi
colocado junto à janela permanecendo algemado. Não era obrigatório que assim
fosse, mas os agentes, depois daquilo que se tinha passado no caminho para o
aeroporto não estavam dispostos a correr riscos. Apesar da apreensão dos
agentes e da tripulação do avião, a viagem decorreu sem qualquer incidente.
Quando o avião aterrou e no caminho para a manga, parou para se proceder ao
desembarque do prisioneiro. Os agentes de segurança saíram com ele e entraram
numa carrinha da polícia brasileira, que os levou até um terminal especial, no
aeroporto, onde os três deram entrada no país. Depois de cumpridas todas as
formalidades, os agentes ficaram livres para ir recolher as malas e Jair
desapareceu atrás de uma porta, acompanhado pelos seus novos carcereiros.
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