A JORNALISTA | PARTE I | CAPÍTULO 7 – O Início
Anabela
Correia quando deixou o seu cliente não perdeu tempo. Era urgente que o
detetive Perestrelo obtivesse o máximo de informação o mais rápido possível.
Dadas as circunstâncias o mais provável era que o prazo de seis meses, que
o ministério público tinha para deduzir a acusação, fosse reduzido de forma
significativa. Era bem possível que este fosse reduzido para metade o que poderia
significar que ela teria que contestar a mesma nos trinta dias seguintes, ou
seja, teria apenas quatro meses para o fazer. Tinham que trabalhar rápido e bem, se queriam ter sucesso na contestação.
Tinha
decorrido quase um mês e a investigação continuava a esbarrar no silêncio dos
interpelados ou nas portas que se fechavam. Advogada e detetive tinham
consciência da gravidade e da urgência da situação, mas também sabiam que a
única forma de provar a inocência do chefe Walker era ter acesso à cena do crime.
Eram poucas as alternativas de que dispunham: o acesso através das autoridades
estava fora de questão. As outras alternativas aparentavam ser ainda mais
complicadas: A governanta, o chefe de segurança ou a cúpula da sociedade. A polícia
judiciária já tinha interrogado todos eles, mas não tendo acesso a essa
informação restava-lhes investigar-lhes a vida.
«Não podemos também esquecer a vítima. A
razão do crime pode muito bem resultar da atividade da Karen.» Disse a
advogada.
«Concordo. Ela era uma freelancer da CNN e
ninguém sabe que trabalho tinha em mãos. Pode muito bem ter descoberto alguma
coisa que levou à sua morte.»
Perestrelo
deixou o escritório da advogada e dirigiu-se apressado para o restaurante. Esta
investigação iria exigir uma dedicação em exclusivo, mas tinha ainda alguns
assuntos pendentes, casos antigos que tinham de ser encerrados.
«Bom dia Doutor.» Disse o detetive.
O
almoço tinha lugar num privado de um dos restaurantes de Lisboa. O
administrador do banco não queria ser visto com o detetive particular.
«Bom dia Perestrelo. Trouxe os papéis?»
«Aqui estão os documentos, as fotografias e
os vídeos. Tem provas suficientes para solucionar o problema.»
Depois
de vistas as provas o almoço decorreu de forma tranquila e a conversa versou sobre
assuntos da vida pública.
«Você é que era bom para deslindar o caso
do crime do palacete de S. Domingos.» Disse o banqueiro.
«Isso é assunto para a polícia. Mas porque
diz isso?»
«Sabe que quem juntou os acionistas daquela
sociedade foi um banqueiro meu amigo?»
Perestrelo
conhecia bem o seu interlocutor. Bastou brindar à sua rede de contactos e à
importância das coisas que ele sabia. Encheu-lhe o ego e o copo ao mesmo tempo que fingia beber.
Depois foi só colocar as perguntas certas. O banqueiro derreteu-se em
informação. Em Janeiro de 2008 um administrador, de origem Ismaelita, de um
pequeno banco português, promoveu uma reunião no Dubai, para a qual convidou um
vasto conjunto de pessoas de todo o mundo, ligadas ao setor imobiliário. O
pretexto era a realização de uma reunião em que se fazia o balanço do setor a
nível mundial. No entanto, existiam vários convidados que nada tinham a ver com
o setor imobiliário, mas que tinham um perfil flexível ajustando-se aos
objetivos dele. A ideia era criar um grupo de investidores internacionais que
pudessem estar interessados em investir, em imobiliário, na península ibérica,
através dele. O contexto do momento não era favorável e ele viu goradas todas
as suas tentativas. Decidiu então juntar um conjunto de cinco investidores de
perfil muito flexível, com quem ele, ou algum dos seus contactos, já tinha
feito negócios, estando em condições de os pressionar, devido às condições em
que esses negócios tinham sido feitos. Rapidamente definiu uma estratégia. Ele
cobraria um valor a cada um deles, para os juntar e se eles fizessem negócio
ele ficaria com uma percentagem. A coisa resultou melhor do que ele tinha
pensado. Eles não só compareceram na reunião como acabaram por fundar a LTCBK
Capital S.A., em 2009. Naturalmente que ele foi excluído do negócio, mas
recebeu um valor significativo pelos seus serviços, através de uma off shore,
situada no Panamá.
Perestrelo deslocou-se aos países de origem dos sócios da LTCBK.
Foi interessante constatar que todos eles tinham um histórico conturbado de
relação com as autoridades, embora nunca tivessem sido condenados. Uma visita à
CNN permitiu-lhe também confirmar a suas suspeitas em relação à Karen. A
jornalista estava a investigar os sócios da LTCBK, depois de descobrir que o
nome de dois deles constavam na lista divulgada no caso dos Panamá papers. A
única informação que a CNN tinha sobre o resultado das investigações é que as
mesmas eram promissores. A jornalista tinha prometido uma peça com revelações
chocantes.
Perestrelo regressou a Portugal e encontrou-se com a advogada
Anabela Correia.
«Contrataste uma assistente?»
«Sim. Estou com demasiado trabalho e a Anne
é fantástica!» Respondeu a advogada.
«Disseste Anne? Que coincidência!»
«Não comeces com as tuas superstições! Ela
perdeu a família no recente tsunami, na Indonésia e veio para Portugal para
tentar recuperar e esquecer. Acumulava o emprego de guia turística com o de
secretária, num escritório de advogados. Fala muito bem português, embora com
sotaque brasileiro.»
«Bom tu é que sabes. Estas viagens
forneceram-nos algumas informações que não permitem ilibar os sócios da LTCBK, embora
também não provem o seu envolvimento no crime.» Disse Perestrelo, entregando o
relatório à advogada.
Fizeram
uma troca dos relatórios elaborados por cada um e concentraram-se na leitura
dos mesmos.
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