O CLUBE
O número vinte e três da Rue du Nord, no Luxemburgo,
passava completamente despercebido. A entrada simples escondia um clube de
gestores e de empresários bastante exclusivo. Para se ser membro tinha de se
ocupar uma posição relevante na hierarquia empresarial: empresário ou
administrador, de uma organização de dimensão relevante. Era sobretudo um clube
da alta finança.
A mulher estava acompanhada de três homens. A forma como
o diálogo se desenvolvia demonstrava que era ela quem liderava o grupo. Desde
que ele tinha chegado já a tinha ouvido falar quatro línguas distintas. Efetivamente estava impressionado! Era
partner de uma sociedade de capital de risco Espanhola, que geria três fundos,
sediados no Luxemburgo, com um valor de ativos sob gestão de vários biliões. Tinha
sido jogador de rugby e possuía uma estatura imponente. Tinha um metro e
noventa e cinco de altura e uma largura de ombros que enchia uma porta. O rosto
quadrado e os cabelos escuros, cortados à escovinha, davam-lhe um ar rude, que
era desmentido pelo olhar inteligente e por uma expressão irónica, que escondia um
sorriso cativante. Era um homem com uma capacidade intelectual e um nível de conhecimentos
acima da média, mas com uma fraqueza: mulheres inteligentes.
A mulher já tinha reparado nele e percebido a sua
admiração, mas, como qualquer mulher que se prese de o ser, enviou-lhe um ou
outro olhar para o fazer perceber que tinha reparado nele e depois simplesmente
ignorou-o. A tática resultou em cheio. O desinteresse dela funcionou como um
desafio mudo para ele. Quando ela se levantou para abandonar o clube ele
seguiu-a. Ela olhou discretamente pelo espelho, que estava por detrás do balcão
da recepção e percebeu a sua aproximação. Estava preparada!
«Desculpe, deixou cair
isto da carteira, senhora Cristine Artmisen.» Disse ele.
Ela deixou-o ler o nome no cartão com um sorriso.
Estendeu a mão e pegou nele com um gesto suave e gracioso. Tinha uma mão muito
bonita. Os dedos longos terminavam numas unhas grandes e bem desenhadas. Eram
umas unhas perfeitas. A cor vermelha realçava-as dando-lhes uma beleza lasciva.
«O cartão não é meu.»
Disse ela.
«Perdão. O meu nome é
Manuel Jove...»
A forma como não terminou a frase era uma indicação clara
de que esperava que ela se apresentasse. Ela olhou para ele com um sorriso
encantador e deixou-o pendurado durante alguns segundos.
«O meu nome é Martina
Perez.»
Ele estendeu-lhe a mão e apertou a dela de forma firme e
suave, demorando-se algum tempo no ato, mas sem se tornar deselegante. O contacto
foi eletrizante. Uma onda de choque percorreu-lhe o corpo. Rapidamente
perceberam que iriam pernoitar no mesmo hotel o que não deixava de ser uma
coincidência fantástica. Ele tinha um motorista à espera e convidou-a a ir com ele.
Quando chegaram ao hotel já sabiam alguma coisa um do outro. Ela era uma
diretora executiva da Google e estava a explorar a possibilidade de se mudarem
para o Luxemburgo. Ambos tinham posições muito relevantes nos negócios que
comandavam, mas estes não tinham qualquer relação entre si. Isso era fantástico
porque podiam falar livremente.
Acabaram por combinar ir jantar juntos. O convite tinha
partido dela e isso apanhou-o de surpresa. No entanto, gostou de ser convidado
para jantar por uma mulher. Ele gostava de mulheres com iniciativa. Foi um
jantar fantástico. O menu de degustação tinha sido escolhido de forma magistral
e o vinhos eram extraordinários, quer o branco, quer o tinto. De volta ao hotel
ele estava completamente rendido. Quando subiam no elevador ele aproximou-se
dela e ela deixou que os corpos deles se
colassem. O beijo surgiu de forma natural. O elevador parou e ela deixou que
ele a conduzisse até ao quarto dele.
Manuel Jove era divorciado e pai de quatro filhos. Fazia
cinco anos que não tinha uma relação fixa e duradoura, mas era frequente ver-se
envolvido em aventuras que depois lhe traziam consequências desagradáveis, mas
nem por isso deixava de se entregar a desconhecidas com quem se cruzava. A
conquista era viciante e a novidade altamente motivadora. Martina para além de
ser solteira, era uma mulher mais nova que ele. Tinha apenas trinta e dois
anos. Ele tinha trinta e sete, mas com as mulheres comportava-se como se
tivesse vinte. Era de uma infantilidade, simultaneamente, cativante e devastadora
de qualquer relação.
A noite foi indescritível. Martina era uma mulher que
sabia como sentir e dar prazer. Não existiam limites nem barreiras. Aceitou
todos os desafios que ele lhe propôs e foi até muito além disso. Experimentaram
diversas posições e locais distintos, ao mesmo tempo que exploraram o corpo um
do outro. Ele experimentou todos os orifícios dela e ela levou-o para além
daquilo que ele pensava ser o seu limite. Quando ele se rendeu, exausto, ela
propôs-lhe que ele ingerisse um estimulante e ele não conseguiu recusar. A
partir desse momento ele perdeu totalmente o controlo e a noção daquilo que se
estava a passar. Sentia algo entre um conhecimento e uma premonição que lhe dizia que ela lhe tinha feito coisas de que ele não
se orgulharia, mas tudo não passava de uma vaga sensação. Lembrava-se que a
determinada altura ela lhe pediu para falar dele, enquanto o estimulava e ele
obedeceu. A questão é que não fazia ideia nenhuma sobre aquilo que tinha dito.
O som do telemóvel ecoou na sua cabeça como um trovão.
Acordou sobressaltado. Martina tinha partido sem se despedir. Talvez a
encontrasse ao pequeno almoço ou então ao fim do dia. Recordava-se que ela
também iria ficar mais um dia no Luxemburgo. Tinha que atender o telefone.
Pegou no aparelho e olhou as horas. Já passava das dez. Ele já devia estar no
escritório dos advogados desde a oito. Do outro lado da linha o chefe da equipa
do projeto Storm falava de forma rápida e concisa, mas era demasiada informação
para ele absorver no estado em que estava. Algo de muito grave tinha
acontecido.
«Miguel dá-me cinco
minutos e já te ligo de volta.» Disse ele, ainda meio a dormir.
Foi até à casa de banho e tomou um duche rápido. Depois
de refrescado procurou por as ideias em ordem. A sua mente trabalhava agora, rapidamente,
para tentar entender o que se tinha passado. Pediu o pequeno almoço no quarto e
ligou ao Miguel. Tinha acontecido uma hecatombe. A contraparte da operação
Storm tinha voltado atrás e tinha feito uma contraproposta. Pediam um valor
muito superior ao anteriormente apresentado. Tinham descoberto informação mais
atualizada o que lhes permitia apresentar nova proposta. Essa informação era
exclusivamente do conhecimento da sua equipa, pelo que só havia uma
justificação: Tinha havido uma fuga de informação. Manuel Jove não queria
acreditar naquilo que estava a ouvir. Tinham um problema grave entre mãos. O
contrato que tinham assinado permitia à outra parte apresentar nova proposta,
mas não lhes permitia a eles sair da operação sem uma penalização financeira
muito grave. Por outro lado, fazer a aquisição ao preço agora proposto
significava dar ao vendedor o valor que eles se propunham criar nos próximos
dois anos. A operação era ruinosa!
Durante o resto da manhã a equipa reviu a operação vezes
sem conta, para tentar encontrar uma forma que lhes permitisse satisfazer as
exigências do vendedor, garantindo que conseguiam criar valor nos próximos dois
anos. Impossível! A operação tinha-se tornado desastrosa. Ao início da tarde
chegaram os clientes. Tinha existido uma mudança na administração e a nova
equipa era chefiada pela Martina Perez. Manuel Jove percebeu tudo. Tinha sido
ele a causar a fuga de informação. Ela tinha-lha extorquido. Provavelmente não
tinha tomado apenas um estimulante mas sim algo que o levou a dizer aquilo que
não devia. «Como pude ser tão ingénuo?» Interrogou-se
A nova equipa do vendedor tinha uma postura diferente.
Eram arrogantes e queriam impor a sua vontade a todo o custo. Manuel Jove
retirou-se da reunião alegando uma má
disposição e deixou a sua equipa envolver-se numa guerra sem nexo, apenas
destinada a ganhar tempo. Decidiu investigar a vida de Martina Perez e percebeu
que no passado esta já se tinha envolvido em esquemas semelhantes, nada tinha
ficado provado, mas caso isso fosse possível podia ser utilizado como meio de
pressão sobre ela. Depois de vários telefonemas percebeu que ninguém o podia ajudar.
Já tinha "abanado demasiadas árvores". Se continuasse a fazê-lo podia colocar a
sua credibilidade em risco. Estava num beco sem saída. O telemóvel, que estava poisado
em cima da mesa, acordou. A mensagem tinha uma origem desconhecida, mas o vídeo
era muito claro. A imagem de Martina
Perez era perfeitamente reconhecível. Estava completamente nua, sendo
sodomizada por um homem cuja face estava distorcida, ao mesmo tempo que obtinha
dele informações sobre uma operação que esteve no centro de um dos escândalos
no qual ela tinha sido absolvida. Iria usar as mesmas armas que ela para
reverter a situação.
Os advogados arranjaram forma de ele ficar a sós com
Martina e ele mostrou-lhe o vídeo. Depois de verem o vídeo ficaram os dois em
silêncio. Apesar do que Martina lhe tinha
feito ele só tinha vontade de voltar a estar com ela. Definitivamente, no que
dizia respeito a mulheres, ele era totalmente desconstruído.
«O que queres como Moeda
de troca para não divulgar o vídeo?»
«Quero voltar ao negócio
original.»
«Isso já não é possível.
Proponho uma subida de dez por cento do nosso preço. Isso ainda vos permite uma
margem de trinta por cento.»
Manuel Jove ponderou a proposta. Era uma proposta
razoável, considerando tudo o que se tinha passado. Uma hora depois o negócio
estava fechado.
Sentado no avião, já de regresso a Madrid, ele refletia
sobre o que se tinha passado. Tinha de começar a ter mais cuidado pois um
destes dias fazia uma asneira que não conseguia consertar e isso podia ser o
fim da sua carreira. Recostou-se e adormeceu.
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