O COCKPIT
O voo não tinha começado da melhor forma. A chefe de
cabine tinha adoecido e a sua substituta era uma completa estranha. O
comandante Jorge Andrade não estava muito satisfeito. No que dizia respeito à
segurança e bem estar dos passageiros ele era intransigente. «Apesar de ser
muito jovem, a folha de serviço dela é impecável. Tenho que dar-lhe uma
oportunidade» Pensou. A equipa de assistentes de bordo, sob a orientação de
Marta Fernandes, demonstrou uma eficiência surpreendente.
As primeiras duas horas de voo decorreram sem qualquer
novidade. Quando se aproximavam de Ancara o segundo comandante saiu da cabine,
tendo sido adotado o procedimento de segurança. Uma mulher grávida
levantou-se para ir aos lavabos e foi de
imediato interpelada pela Marta Fernandes. O segundo comandante, contrariando
as ordens da chefe de cabine, autorizou que a senhora utilizasse um dos lavabos,
em simultâneo com ele.
«Eu vou demorar um pouco
e a senhora está grávida, é melhor deixá-la ir.»
A senhora saiu dos lavabos quase em simultâneo com o
segundo comandante. A coberto da porta dos lavabos, que ela manteve aberta, o homem sentado na coxia da primeira fila, do
lado direito, avançou rapidamente, tentando entrar no cockpit. A velocidade com
que Marta reagiu foi inesperada e a destreza com que ela dominou o homem foi
surpreendente. No momento em que se dobou sobre ele, para o algemar, sentiu a
pancada na cabeça e caiu para o lado. Tudo se tinha passado em frações de
segundo. O segundo comandante virou-se no instante em que a grávida colocava
fora de ação a chefe de cabine. Avançou em direção à pirata do ar, mas foi
eliminado. O estilete, manobrado de forma cirúrgica pelo pirata, que ele
ignorou por estar algemado, penetrou por baixo das costelas e foi direito ao
coração. Teve morte imediata. Assegurado o acesso ao cockpit a grávida
libertou-se do enchumaço e transformou-se numa jovem esbelta. O outro pirata
tomou conta do posto de segundo comandante e o avião mudou de rumo. Trípoli era
o novo destino.
Armados com o estilete e as duas pistolas, escondidas nos
lavabos, o casal de piratas dominava o avião. Ele parecia ser árabe, quer pelo
seu aspeto físico, quer porque falava a língua fluentemente. Ela era um jovem
alta, loira e sardenta, evidenciando uma ascendência nórdica. Aparentemente
tinha-se convertido ao Islão depois de se ter apaixonado por ele. Quando
ficaram a sós ela manifestou a sua discordância com a morte do segundo
comandante. Ele olhou para ela de forma estranha. Ela nunca tinha visto aquele
olhar. Parecia que estava na presença de um estranho. Depois sorriu, acariciou-lhe
a face e beijou-a nos lábios.
«Agimos em nome da Alá.»
Durante o percurso o pirata entrou em contacto com os
seus camaradas e combinaram os termos da aterragem. Aparentemente Trípoli não
queria recebê-los, nem tinha permitido o acesso dos terroristas ao aeroporto.
Iriam ter de negociar isso depois de aterrarem. Ela sentia-se culpada de tudo o
que estava a acontecer. Fora ela que tinha tornado possível a colocação das
armas nos lavabos. «Eu sou a responsável
por todas estas mortes.» Pensou. O seu companheiro não sabia que ela tinha
aprendido a falar árabe e por isso disse coisas sobre os passageiros e sobre
ela que a surpreenderam. Quando estavam prestes a aterrar a pirata do ar chamou
a chefe de cabine e tiveram uma longa conversa.
A aterragem foi tranquila e quando pararam estavam longe
das mangas. O pirata do ar percebeu, nessa altura, que estava trancado no cockpit
e que estava a decorrer um desembarque de emergência. De nada valeram as
ameaças de que mataria o comandante, a porta manteve-se fechada. Quando a porta
do cockpit foi aberta apenas estavam a bordo quatro pessoas. Os dois piratas, o
comandante e a chefe de cabine. O comandante olhou para ela com admiração. Nessa
altura já sabia da sua atuação e o facto de ela ainda estar ali dizia tudo
sobre ela. O pirata levantou-se de arma na mão e dirigiu-se para a companheira.
Ela disse-lhe algo em árabe que o fez arregalar os olhos. Sem pestanejar
levantou a pistola e deu-lhe um tiro no centro da testa. Marta Fernandes e o
comandante deram um salto e olharam em direção aos piratas. A mulher estava
caída no chão e esvaia-se em sangue, de olhos arregalados. Marta correu a
ampará-la mas era tarde demais. Num gesto de misericórdia fechou-lhes os olhos
e murmurou uma prece. No fim de tudo a pirata do ar tinha sido uma heroína. O pirata entrou em contato com a torre e
informou-os de que mataria a chefe de cabine caso os seus homens não tivessem
acesso ao avião. Começaram as negociações.
O comandante e a chefe de cabine prepararam-se para
passar umas horas no cockpit. Ela era uma mulher alta, bonita e jovem. Tinha
apenas vinte e oito anos. Ele era um piloto experiente, com trinta e cinco anos
de idade e com mais quinze centímetros que ela. Ambos eram determinados, firmes
e corajosos. Ao fim de vinte horas fechados naquele espaço diminuto já sabiam
tudo um do outro. Apesar de terem recebido algo para comer, estavam cansados e
sujos. O odor corporal já se sobrepunha a qualquer perfume que tivessem usado
há aproximadamente trinta horas atrás. As negociações estavam num impasse e o
pirata estava a ficar desesperado. Também ele estava exausto.
«Quando ele me apontar a
arma vou-me livrar dele.»
O comandante olhou para ela com admiração.
«Talvez seja melhor eu
fazer isso enquanto ele está focado em ti e nos seus interlocutores.»
«Não ele vai perceber a
tua aproximação e será o fim dos dois.»
O pirata do ar agarrou-a por um braço e levou-a até à
porta do avião. Apontou-lhe a arma à cabeça e ameaçou matá-la se os seus homens
não fossem autorizados a avançar. Ela
olhou para baixo. A queda seria de aproximadamente três metros. Lembrou-se das
suas aulas de judo. «Como era mesmo aquela técnica?». Pensou. Deixou-se cair de
joelhos, como quem desmaia e quando o pirata se agachou para a segurar, ela
puxou-o para baixo e rodou, projetando-o na pista de aterragem. Antes que ele
tivesse tempo de reagir. Ela saltou para a pista e imobilizou-o. Ao longe as câmaras de
televisão registaram o momento hollywoodesco. O sequestro tinha terminado.
Chegaram as autoridades e as ambulâncias mas os tripulantes estavam bem, apenas
precisavam de descansar.
Depois de umas horas de descanso e resolvidas as
formalidades legais, o avião partiu em direção a Ancara. Marta Fernandes era
uma heroína e quer os colegas quer os passageiros olhavam-na com respeito e
admiração. Chegados a Ancara a
tripulação teve direito a ficar dois dias na cidade para repousar.
Marta Fernandes levantou-se tarde e foi tomar o pequeno
almoço. O resto da tripulação tinha-se levantado bem mais cedo e passeavam pela
cidade. Era hora do almoço e ela decidiu respeitar o horário. Preferia estar
assim: sozinha com os seus pensamentos. A verdade é que não se importaria de
partilhar aquele momento com o comandante. «Deixa-te disso. Um homem daqueles
não é para ti. A verdade é que ele está sozinho. Esquece! Ele já deve andar a
divertir-se por aí.» Pensou Marta. Quando chegou ao restaurante apanhou um
choque. O comandante estava sentado numa mesa sozinho e preparava-se para
almoçar. Ela sentou-se junto dele e almoçaram os dois. Foi um almoço maravilhoso.
Subitamente ela estava com um apetite extraordinário. Riram dos momentos que
tinham passado e falaram sobre os seus projetos de vida. Sobe o passado já
tinham falado o suficiente. Tinham vivido momento difíceis e isso tinha criado
entre eles uma cumplicidade da qual apenas agora se apercebiam. Era como se
pertencessem um ao outro. Depois do almoço foram dar uma volta pelos arredores
do hotel e quando se aperceberam estavam a caminhar, lado a lado, de mãos
dadas. Sem necessidade de palavras dirigiram-se para o hotel e entraram no
quarto dele.
A troca de carícias suaves e carinhosas e o leve contacto
dos lábios deu lugar a uma sofreguidão avassaladora. Os lábios beijaram-se com
paixão e as línguas gladiaram-se como dois gigantes lutando dentro de uma
caverna. O desejo crescia dentro deles de uma forma que o tronava
incontrolável. Com sofreguidão libertaram-se da roupa e os corpos nus
encontraram-se numa união perfeita. Satisfizeram-se uma e outra vez até os a
sua lei. Descansaram. Abraçados um ao outro dormiram durante largos minutos.
Ela acordou primeiro e soergueu-se. Ficou a admirar o comandante. Ele era um
homem belo e fisicamente muito bem constituído. Para além dos dotes físicos
naturais era óbvio que cuidava dele. Começou a acariciá-lo suavemente e a
beijar-lhe o corpo. Ele despertou e demonstrou-lhe o prazer que sentia ao
receber os carinhos dela. Usando os lábios e a língua ela percorreu todos os
recantos do corpo dele. O prazer dele manifestava-se de forma proeminente e ela
decidiu levá-lo ao limite. Quando ele estava prestes a atingir o clímax ela
parou. Levantou o olhar e encontrou um sorriso malandro. Gatinhou por ele cima
e beijou-o nos lábios. Depois olhando-o de forma matreira, saiu de cima dele,
virou-se de bruços, pegou numa almofada e colou-a debaixo da zona erógena. A
bunda soerguida era mais do que um convite. Era uma ordem! A piscadela de olho
foi quanto necessitou. Ele aproximou-se dela com mil cuidados, acariciando-a.
Ela estremecia de prazer. Um prazer que resultada do contacto com o corpo dele,
mas sobretudo que antecipava aquilo que estava para vir. Sem qualquer
aviso ele sodomizou-a. Ela gemeu. Gemeu
de prazer e de dor. Uma conjugação que tinha nela sempre o mesmo resultado: um
duplo clímax que a levava à loucura. Ela estava a realizar o fetiche dele! Toda
a vida sonhara com aquela entrega por parte de uma mulher. Aquilo era bom
demais. Sobretudo porque estava acontecer com a mulher por quem ele começava a
apaixonar-se.
A tarde foi de sexo, de amor, de paixão e de confissões. No
final do dia eles sentiam que pertenciam um ao outro. Decidiram que queriam
conhecer-se melhor. A vida a dois era mais do que sexo, embora no caso deles
essa parte fosse maravilhosa. No entanto, eles concordavam que estavam
oficialmente apaixonados.
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