A JORNALISTA | PARTE III | CAPÍTULO 55 – O telefonema
Mónica Fonseca ouvia-os discutir com ar preocupado. A advogada insistia em saber
como a polícia tinha encontrado o detetive enquanto ele desvalorizava a questão.
Era óbvio que eles o estavam a seguir e ele estava grato por isso. Devia-lhes a
vida! Perestrelo prestou os esclarecimentos necessários e partiu com a
advogada. Preferia ter a troca de argumentos com ela num modo mais privado.
«O que a preocupa chefe?» Perguntou um dos subordinados.
Eram muitas as coisas que a preocupavam, mas naquele momento a
mais relevante era a forma como aquele caso tinha tendência para se complicar.
Tinha o pressentimento de que ainda iriam presenciar alguns acontecimentos
dramáticos antes de chegarem a alguma conclusão sobre o mesmo.
«Existem demasiados atores nesta cena! O mistério em vez de se
dissipar adensa-se cada vez mais. Ou muito me engano ou está tudo relacionado
com a LTCBK.» Disse Mónica.
Entretanto, do outro lado do planeta um jovem repousava na
cadeira da piscina. O toque do telefone interrompeu-lhe o repouso. Esticou o
braço, de forma preguiçosa e pegou no aparelho. A surpresa estampou-se-lhe no
rosto, deixando-o boquiaberto. A preguiça desvaneceu-se de imediato. Olhou em
volta tentando perceber se estava sozinho, depois deu caminhou em direção ao jardim,
afastando-se da casa.
«Estou...» Disse ele, com um tremor na voz.
«Nada de nomes!?» Disse a voz do outro
lado do telefone, num tom autoritário.
Maud estremeceu. Era sempre assim quando ouvia a voz dela, mas seria
capaz de dar duas voltas ao mundo só para lhe satisfazer um capricho.
«Qual é o ponto de situação da investigação sobre a
morte da Karen? Houve alguma alteração recente?»
«Que eu saiba a justiça Portuguesa vai acusar o Roger.»
«Alguém sabe o que ela andava a investigar?»
«Eu aposto que ela investigava as atividades dos sócios da
LCTBK» Respondeu Maud.
«Tenho que ir.»
«Quando podemos…»
A ligação já tinha sido interrompida. Aquele tinha sido um
telefonema muito estranho. Ainda bem que ninguém o tinha ouvido.
Raj Badour estava no escritório da mansão. Apesar de ser fim de
semana ela estava a trabalhar. O aviso
sonoro indicava que alguém se tinha aproximado dos microfones instalados no
jardim. Reconheceu de imediato o som da voz do filho. A alusão ao Chef e à
polícia Portuguesa chamou-lhe de imediato à atenção. Quando a conversa terminou
ele estava preocupado. A filha do sócio tinha comentado com o pai o facto de
Karen estar a escrever um artigo sobe a atividade das sociedades de capital de risco. Isso
legitimava todas as perguntas sobre a empresa. No entanto, utilizando como
cobertura o tema do capital de risco ela podia muito bem-estar a investigar a
atividade de cada um dos sócios. Eles tinham-lhe franqueado as portas e, sendo
uma mulher inteligente, ela podia ter recolhido informação sobre cada um deles,
muito comprometedora. Precisava de saber quem tinha ligado ao filho, sem que
este suspeitasse de nada.
O telefone vermelho tocou. Era uma ligação importante e segura. Recebeu
a informação com o rosto impassível e sem fazer qualquer comentário. Tinha sido
impossível conhecer o número e o local donde a chamada tinha sido feita. «Isso
não é bom sinal!» Pensou Raj. Talvez fosse melhor ele saber mais sobre a
história que a jornalista estava a escrever. Fingindo grande preocupação com a
empresa ligou a Jair de Lins instando-a a descobrir os reais objetivos da
jornalista. Entretanto, os seus homens iriam meter o bedelho no assunto: isso
não deveria prejudicar a sua causa. Os dados tinham sido lançados!
Maud tinha o pressentimento de que sabia onde se encontrava a
sua interlocutora. Ela raramente lhe ligava, mas quando o fazia era para lhe
pedir algo. O facto de isso não ter acontecido tinha-lhe deixado uma ténue
sensação de desconforto que foi crescendo até tomar conta dele. Estava
demasiado excitado para continuar deitado naquela espreguiçadeira. Pegou no
telefone e marcou uma viagem para Lisboa, com passagem por Sidney. Iria tirar
tudo a limpo!
Sidney era uma cidade que o apaixonava. Era moderna e
descomplexada, mas sobretudo tinha sido muitas vezes a cidade onde tinha feito
o seu ninho de amor. Quando aterrou no aeroporto teve a sensação de que tinha pessoas à sua espera. Deu entrada no hotel e saiu para jantar. Teve
novamente a sensação de que era observado. Olhou à sua volta apenas para
constatar que ninguém queria saber dele. As pessoas que o rodeavam estavam
envolvidas nos seus dramas pessoais e ele era apenas mais um comensal.
Em Lisboa o grupo de brasileiros que tinha sequestrado
Perestrelo estava a contas com a fúria do chefe.
«Vocês são uns incompetentes!»
«Chefe a gente não podia adivinhar que a polícia estava a seguir
o detetive.»
«Como sabem que a polícia estava a seguir o detetive e não a
vocês?» Gritou o chefe.
«Bem…» Balbuciou a mulher.
«Não interessa quem eram nem quem eles estavam a seguir. Vocês
têm que manter os olhos abertos e estar preparados para despistar quem quer que
seja que possa tentar seguir-vos!»
Ficaram todos em silêncio.
«Acham que têm condições para uma abordagem direta ou ele
reconheceu a Taíssa?»
«Eu acho que ele não reconheceu ninguém!»
«Nesse caso vamos repetir a abordagem.»
«Mas chefe…»
«Ninguém vai estar à espera de um novo rapto com o mesmo modus operando. Isso joga a nosso favor.»
Entretanto os homens de Raj Badour embarcavam em direção a
Lisboa. Na cidade já estavam a equipas do americano e do Brasileiro. Queriam todos
a mesma coisa: saber o que a jornalista tinha descoberto.
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