ARROZ
COM FEIJÃO
Corria
largo o mês de Setembro, mas o verão desconhecia o calendário: fingia-se
ignorante e não cedia a vez ao outono. Nas zonas baixas, do sopé do Marão e do
Alvão, tinham começado as vindimas. No Douro já o vinho fermentava nos tonéis,
pois o Estio tinha sido intenso e os bagos enrugavam-se nos cachos, ameaçando
encher os lagares de cascas e canganhos. No vale reinava uma calmaria
sufocante, que contrastava com a azáfama da Quinta do Correio. Na verdade, era
uma agregação de várias parcelas, todas em socalcos, num misto de sequeiro e
regadio, com designações diversas, mas o nome tinha caído no goto das gentes e designavam,
dessa forma, a propriedade dos Vieira.
A
faina ia no terceiro dia e, ao ritmo a que prosseguia, devia terminar a meio da
tarde. As uvas tinham começado a fermentar, por isso era imperativo que a pisa
fosse feita nessa noite. Tratava-se de uma tarefa árdua, a cargo dos quatro
homens lá de casa, aos quais se iriam juntar quatro jovens da vizinhança. As
uvas não tinham sofrido nenhum pré corte e o lagar, de quatro por quatro metros,
estava cheio. Eram necessárias oito pessoas para fazer um corte decente e
garantir que os bagos eram todos esmagados.
O
jovem sentiu o jorro fresco do líquido pastoso escorrer-lhe pelas costas a
baixo. «Bolas!» praguejou. Os sacos de vindima tinham sido uma grande invenção,
pois não magoavam como os cestos, nem acrescentavam peso à carga de uvas, mas
causavam um maior esmagamento dos bagos, embora armazenando o líquido no seu
interior. Quando, por infelicidade, o saco se rompia o “sortudo” que o
carregava ganhava o direito a um banho de mosto. Com a vindima a aproximar-se
do fim, essa situação era cada vez mais frequente. Em antecipação desse tipo de
evento, João tinha calçado uns ténis esburacados e vestido roupas velhas: umas
calças rotas e uma t-shirt que fazia algum tempo reclamava a vida de trapo. O
banho de mosto estendeu-se ao peito e rosto. Segurando o saco apenas com uma
mão limpou-se o melhor que pôde. O mosto que tinha escorrido pelas faces e pelo
peito havia deixado um sulco escuro sobre a pele, que na t-shirt assumia uma
cor avermelhada. Parecia uma pintura de guerra. «O que vale é que ninguém me
vai ver nesta figura.» Pensou. João era vaidoso e gostava de se apresentar
asseado: limpo e bem penteado! Estava tão absorvido em tentar manter-se o mais
seco possível que só se apercebeu da presença deles quando foi interpelado.
«Bom dia!»
O
cumprimento foi tão inesperado que se assustou e quase deixou cair o saco das
uvas, que levava sobre os ombros e que o fazia caminhar de cabeça baixa.
Levantou os olhos para ver quem o interpelava. Corou!
«Bom dia…» Respondeu, acabrunhado.
O
homem estava acompanhado de uma jovem que devia ter a idade dele. Embora apenas
lhe tenha lançado um olhar rápido, parecia-lhe ser a morena mais bonita que
alguma vez tinha visto. A blusa justa fazia sobressair um belo par de seios e a
minissaia mostrava um par de pernas bem torneado. Devia ser atleta. Uns ténis
all-stars e o cabelo apanhado, no carrapito, complementavam a indumentária. A
atrapalhação dele não lhe passou despercebida e um sorriso maroto aflorou-lhe
os lábios. Ela estava a divertir-se com a situação. Depois de uns segundos, que
pareceram uma eternidade, o senhor perguntou:
«É aqui que vive o Sr. Carlos Vieira?»
Subitamente
o sotaque brasileiro tornou-se evidente. O homem apontava para a casa com a um
ar expectante.
«É sim senhor.» Respondeu João.
Antes
de João ter tido oportunidade de perguntar algo mais, o senhor começou a
explicar o que era e ao que vinha. Era amigo da tia Marta, uma irmã do pai, que
vivia no Brasil e vinha trazer uma encomenda. João mudou o peso do corpo para o
outro pé. Estar ali parado, com um saco, que pesava cinquenta quilos, às
costas, era desconfortável.
«Papai deixe o moço poisar o saco e depois
você explica pra ele tudo o que você quiser…» Disse a jovem, numa voz doce, mas
determinada.
«Mil perdões. Você tem toda a razão filha.»
«Venham comigo, por favor.» Disse João.
Em passos
largos chegou ao lagar e despejou o saco das uvas. Ainda bem que não tinha um
espelho à mão: estava com um ar lastimável. Cátia apreciava a cena com ar
divertido. O Senhor Afonso era amigo de infância do marido da tia, tendo ido
para o Brasil com ele, fazia muitos anos. Tinha vindo trazer uma encomenda, que
apenas entregaria, pessoalmente, a Carlos Vieira, pai de João.
«O meu pai e o resto da família devem estar a
chegar. Vêm almoçar.» Disse João.
«Mas aí nós vamos incomodar.» Respondeu o Sr.
Afonso.
«Aqui nós temos um ditado que diz: Enquanto o
almoço não está servido chega sempre para mais um. Os meus pais é que sabem,
mas eu acho que podem ficar para o almoço.» Disse João.
Assim
aconteceu. Entretanto, depois dos pais terem chegado foram todos lavar-se no
tanque e João ficou para trás à conversa com Cátia.
«Sua prima Regina fala muito de você.»
«Espero que tenha dito coisas boas!»
«Nossa! Sua prima é louca por você. Ela fica
falando como você é um génio, simpático e até gostoso…»
«Estás a exagerar!»
«Não estou não. A verdade, é que já deu pra
ver que você é bem simpático!»
João
ficou corado. Olhou para ela e perdeu-se nos seus olhos cor de avelã. Apesar de
não ser uma mulher deslumbrante, tinha umas feições perfeitas e quando sorria o
seu rosto ganhava uma luminosidade que a tornava encantadora. Os olhos pareciam
dois sois ofuscando-o. Ele não era tímido, mas, perante ela, sentia-se
inferiorizado. Ela, uma mulher mais experiente, usava todo o seu chame para o
seduzir. Quando toda a gente se tinha lavado ele avançou para o tanque. Sem
hesitação, despiu a t-shirt para se poder lavar. Cátia arregalou os olhos perante
a visão: tinha os braços bem torneados, os abdominais definidos e um peito atlético.
A t-shirt, larga, não deixava adivinhar aquilo que agora se tornara bem real.
Aproveitando o facto de ele estar de costas, ela deliciou-se com a vista.
«Regina tinha razão: o primo é um homem bem gostoso!» Pensou. O pensamento
fê-la estremecer de prazer. João era um homem muito interessante, não apenas
por ter um físico bem tratado, mas por ter um metro e oitenta e cinco de
altura. Quando pegou na tolha para se secar virou-se e, enquanto esfregava a
cabeça, percebeu o olhar de admiração dela. Virou-se outra vez fingindo que não
tinha visto nada e acabou de se arranjar.
«Estou pronto.» Declarou.
A
casa era humilde e o almoço era simples: arroz com feijão. Apesar disso, o
cheirinho de carne refugada, partida em pequenos pedaços, que vinha do tacho,
era muito agradável. O sabor era delicioso, mas era um prato pobre. João estava
receoso esperando a reação dos convidados. Seguramente que no Brasil comiam
muito melhor! Para sua surpresa, eles adoraram o almoço e o pai repetiu o
prato. Cátia não repetiu, mas comeu sopa, que lhe mereceu os maiores elogios.
Aparentemente, o prato de arroz com feijão é muito típico e apreciado no
Brasil, coisa que ele desconhecia, mas que mais tarde veio a confirmar. Foi um
almoço divertido e cheio de surpresas, durante o qual se começou a planear a
pisa das uvas. Cátia nunca tinha visto uma pisa de uvas e fez com que o pai a
autorizasse a ficar em casa dos Vieira, para assistir ao espetáculo. Mal ela
sabia que lhe estava reservada uma grande surpresa.
O
Senhor Afonso, depois de falar particularmente com os pais de João, partiu,
deixando a filha ao cuidado dos Vieira. Ela era um ano mais velha que o João,
que tinha acabado de completar dezoito anos: eram ambos maiores de idade.
Depois de vestir roupa mais adequada, emprestada pela irmã de João, ela
colaborou no resto da vindima. Para uma jovem da cidade, que nunca tinha estado
numa quinta e que era originária do Brasil, aquela foi uma experiência
diferente: fantástica e inesquecível. Ao fim do dia fizeram fila, na única casa
de banho existente, para um duche, o que foi outra experiência interessante.
A
pisa começou às dezanove horas. O horário mais comum era às vinte, mas eles
queriam terminar mais cedo e assim às vinte e três a tarefa estaria terminada.
Cátia estava ávida de aprender: queria saber tudo e assistir a tudo. A mãe do
João cuidou da logística, de forma diligente. O lagar era um local muito frio
para ela estar ali parada, assim, meia hora depois de iniciada a função, ela
apareceu com umas mantas e uma braseira enorme. Cátia nem sabia como agradecer.
A primeira fase da pisa é feita com os homens em linha, levantando os pés o
mais alto possível, para esmagar os bagos debaixo dos pés. Começam num dos
lados do lagar, vão até chegar ao fim e depois regressam. Depois repetem o
processo, mas começando no lado transverso. No início, os homens estavam muito
concentrados e calados, mas a partir da meia hora começaram as cantorias. Cantaram
em coro algumas canções populares, depois começou a desgarrada. Dois dos
vizinhos eram cantores habituais, mas os Vieira eram estreantes na coisa.
Carlos Vieira e o filho João, não cantavam nada de especial, mas tinham jeito
para fazer rimas e começou o desafio: os Vieira contra os dois vizinhos que
eram cantores. A desgarrada tem um conjunto de regras e quem as não cumprir
perde. A competição era renhida e mesmo na brincadeira ninguém queria perder. Apesar
de não cantarem grande coisa os Vieira conseguiram ganhar: eram uns
especialistas em pegar no último verso do adversário e construir uma rima.
Cátia estava muito animada, não parando de rir à gargalhada com os dizeres, em
verso, da desgarrada. O João tinha sido brilhante e isso dava-lhe muito mais
prazer do que tinha imaginado. A menina das discotecas e da noite do Rio de
Janeiro, estava rendida perante aquela cena campestre: pura e simples. Tinha
ficado por causa do João, mas estava perfeitamente deliciada com tudo. Nem os
pequenos desconfortos a desanimavam.
Ao
fim de duas horas e meia os homens destroçaram. O lagar estava muito cheio e
tiveram de manter a formatura durante mais meia hora do que o normal. Era tempo
de se espalharem pelo lagar de forma livre e desordenada. Nessa altura, já o
lagar era um mar de líquido. Foi servida a merenda. Havia pão de milho,
presunto, salpicão, doces e bola de carne, para além de vinho corrente, vinho
fino e água ardente. Cátia, apesar de não ter feito exercício, comeu com
apetite.
«Quem come da merenda dos homens tem de
saltar para dentro do lagar.» Disse o irmão mais velho do João.
Cátia
olhou para ele boquiaberta. João confirmou a afirmação do irmão. Claro que era
apenas um pretexto, pois eles já tinham pensado em “batizá-la”.
«Faz parte da tradição...» Disse João,
encolhendo os ombros
Conceição
Vieira ria divertida com a expressão da jovem. Era uma mulher sábia e conhecia
os seus homens como ninguém, por isso já tinha antecipado aquele fim e estendeu
um saco a Cátia.
«Tens aqui uns calções para vestir. Vem
trocar-te.»
Saíram
por uma porta lateral e voltaram pouco depois. Cátia exibia as pernas
bronzeadas e musculadas de atleta, usando uns calções curtos e justos, que
evidenciavam as suas formas. Depois de lavar os pés e as pernas, operação
obrigatória para entrar no lagar, estava pronta.
«Ção, a moça não está impura, pois não?» Perguntou
Carlos Vieira, à mulher.
«Não. Pode entrar à vontade.»
Manda
a tradição que uma mulher não entre num lagar de vinho se estiver com o período,
pois pode influenciar a fermentação do vinho. Crendices! Na verdade trata-se
mais de uma questão de higiene. A jovem, mal entrou no lagar, soltou um grito.
Ela era alta, mas o vinho dava-lhe por cima dos joelhos e a coisa estava fria
que doía! Depois de se acostumar já andava mais à vontade. Nessa altura começou
o jogo da cabra cega. Era outra das tradições da pisa. Normalmente, terminava
com a pessoa vendada a tomar um banho de mosto. Por ser a estreante, coube à
Cátia a sorte da venda. A inexperiência jogava contra ela e passados vinte
minutos ela ainda não tinha apanhado ninguém. João, procurando não levantar
suspeitas, deixou-se apanhar. Estava pelo beicinho por aquela mulher! Ela mal
lhe colocou as mãos no peito percebeu que era ele. A venda mudou de dono. Nessa
altura Cátia pôde apreciar o jogo noutra perspetiva. João estava a passar um
mau bocado. Era muito complicado usar a venda e manter o equilíbrio, sobretudo
porque os outros passavam a vida a tocar-lhe, procurando desequilibrá-lo. Ela
tinha tido sorte que eles não lhe tinham dado esse tratamento. Finalmente
saíram do lagar, depois da venda ter trocado de dono algumas vezes.
Era
tarde e os mais velhos foram dormir, pois estavam cansados. João ficou, na
cozinha, com Cátia, a conversar. Falaram sobre tudo. Deram-se a conhecer
perdendo a noção do tempo. A determinada altura ela fechou a porta da cozinha à
chave e sentou-se no colo dele. Ele não conseguiu disfarçar a excitação e ela
sorriu ao senti-la. Beijaram-se. João já tinha beijado outras mulheres e já as
tinha tocado nas partes íntimas, mas era completamente inexperiente no que
dizia respeito a sexo. Ela percebeu logo isso e ainda ficou mais excitada.
Ensinou-o a acariciar-lhe os seios, a beijá-los e a sugá-los como um bebé. Ao
mesmo tempo que soltava gemidos de prazer. Depois acariciou-o e beijou-o até o
levar à loucura. Quando percebeu que ele estava a perder o controlo parou.
«Calma. Pensa numa coisa importante que
tenhas de fazer amanhã.»
Resultou.
Ele estava pronto para ela continuar. A cena repetiu-se meia dúzia de vezes até
ele ter as pendurezas a doer de tão cheias. Ela percebeu que ele tinha atingido
o limite. Beijou-o, mordendo-lhe os lábios e conduziu as mãos dele,
indicando-lhe o que devia fazer. Ela abandonou-se às carícias dele e
rapidamente atingiu o clímax. Depois, com meiguice, satisfez o desejo do rapaz.
A coisa descontrolou-se um pouco, porque ele parecia uma troneira aberta.
Ficaram abraçados a beijar-se e acariciar-se durante algum tempo. João nunca
tinha acariciado um corpo tão macio. Os seios dela pareciam de seda e a forma
como ela se contorcia, quando a acariciava, deixava-o louco.
«Você gosta de me ver rebolar?»
«Adoro!» Dizia João, com voz rouca.
De
mansinho, como dois ladrões pela calada da noite, ela levou-o pela mão até ao
quarto que lhe tinham destinado. Nessa altura, toda a casa repousava profundamente
nos braços de Morfeu. Sem fazer ruído eles despiram-se mutuamente. Era a primeira
vez que João estava com uma mulher, mas o entendimento entre eles era tão bom
que ele não se intimidou e rapidamente encontraram uma posição confortável para
os dois. Quase sem perceber como, ele estava dentro dela. Nunca imaginou que pudesse
ser assim: o interior era húmido, quente e sedoso. Tão macio que a fricção o
deixava estasiado. Ela massageava-lhe o membro com os músculos vaginais.
Apertava-o e soltava-o, dizendo-lhe quando tinha de fazer os movimentos
ascendentes e descendentes. Ao fim de alguns minutos ele deixou de precisar de
instruções. Depois de uma hora e meia de prazer intenso ele foi para o seu
quarto e deixou-a a dormir sozinha.
No
dia seguinte João foi levá-la à cidade e deixou-a na estação da camioneta, que
a levaria à aldeia do pai. Trocaram mais uns beijos e as moradas, mas, apesar
das promessas de se escreverem, nunca trocaram uma linha. Essa foi a única vez
que ele a viu, mas nunca mais esqueceu aquela mulher, nem a sensação de prazer
que teve em estar com ela.
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