AUSENTE
Aurélio era um nome pouco comum. Invocava as memórias do
grande imperador romano, mas ajustava-se perfeitamente a ele. Tinha a
autoridade de um imperador, a generosidade de um governante e a nobreza de uma
alma pura. Demasiado pura talvez! Ela era quase o inverso. Quando queria
atingir um fim, normalmente não olhava a meios! Nessa noite ela tinha
decidido que ele lhe pertenceria, ainda que fosse apenas por algumas horas. A
ideia era fazê-lo ingerir um estimulante sexual e depois dar em cima dele. Para
estarem na mesma onda ela deu a si própria um tratamento semelhante.
Excecionalmente, ele bebeu mais do que a conta. Quando se apercebeu do facto já
era um pouco tarde: também ela tinha bebido ligeiramente mais do que a conta.
Antes que isso fosse notório ela tomou a iniciativa.
«Vou para casa e levo o
Aurélio, dado que ele não está em condições de conduzir.»
Os amigos acharam a situação normal, dado que eles eram
vizinhos e grandes amigos. Mal entraram no carro o Aurélio apagou-se. Sofia não
se deixava vencer pelo primeiro obstáculo e resolveu ir dar uma volta de carro, em vez de irem diretamente para casa. Queria deixá-lo descansar um par de horas
e acordá-lo em pleno efeito do estimulante, que o tinha levado a ingerir. Ela
estava ao rubro. Acariciou o corpo adormecido de Aurélio e sentiu a
intumescência do sexo dele. Foi um erro enorme. Ficou imediatamente húmida e
num estado de excitação que não conseguia controlar. Parou o carro e libertou-se das calcinhas. Segurou o volante com a mão esquerda e usou
a direita para se satisfazer. Imaginou o Aurélio nu, deitado a seu lado na cama
e a partir daí deixou a imaginação voar. A respiração dele, quase em cima do
pescoço dela, dava um toque de realidade à cena, que a sua imaginação invocava.
Aurélio não sabia se estava a sonhar. Tinha sido
carregado do restaurante até ao carro sem oferecer resistência. O seu corpo inerte,
parecia ter-se separado do seu espírito, que presenciava a cena do lado de
fora. «Isto não é possível! Eu estou a sonhar.» Pensou. Quando ela desapertou o
fecho das calças e lhe acariciou o membro ele estremeceu. «Meus Deus este sonho
é tão intenso que parece real!» Depois ela beijou-o. Novo estremecimento.
Aurélio estava com uma ereção descomunal. Era tão intensa que lhe provocava
dores! Olhava para o seu corpo e não se reconhecia. Apesar do corpo estar
inerte o sexo parecia ter ganho vida. «Porque é que a Sofia estava a fazer
aquilo? Ela era a melhor amiga da sua namorada!» Interrogou-se. O fato de Sofia
se aproveitar, sem pudor, da sua incapacidade de reagir revoltou-o. Queria
gritar! Queria dizer Não! Mas os lábios nem se mexiam. Ela começou a satisfazer-se.
O cheiro a sexo era intenso e inebriante. O sexo dele tornou-se ainda mais
ereto. O carro começou a andar de um lado para o outro e ele quis gritar para
ela tomar cuidado. Nada. Mais uma vez o silêncio foi a única coisa que se fez
ouvir. O carro deslizou pela berma fora e rebolou pelo ligeiro declive entre o
nível da estrada e o descampado. A luz apagou-se. Sonhou que estava numa cena
de sexo ardente. Ele e Sofia experimentaram várias posições até que ele a
satisfez com a língua. Acordou com a cara toda molhada e um cheiro intenso a
sexo. Mexeu os lábios para dizer algo e um líquido viscoso entrou-lhe na boca.
Pensou imediatamente que estava ferido. Era sangue! Não, aquilo não era sabor a
sangue, aquilo era outra coisa. Procurou apoio para as mãos e soergueu-se. Lá
fora o movimento era grande. Os bombeiros e várias pessoas tentavam abrir as
portas do carro para os libertar. Quando os seus olhos se habituaram à
escuridão viu que tinha a cabeça entre as pernas dela. Sofia espreguiçou-se e,
ainda de olhos fechados, estendeu a mão e empurrou cabeça dele para baixo
gemendo de prazer.
«Vem não pares!» Disse ela, com voz pastosa.
«Acorda Sofia!» Gritou
ele.
Tinham escapado ilesos do acidente. Sim eles tinham-se
despistado e capotado várias vezes. O carro acabara direito e eles numa posição
bem estranha. O acidente tinha sido causado pelo óleo que enchia a estrada e
que impedira Sofia de controlar o carro, embora circulasse a uma velocidade baixa,
a avaliar pelo impacto sofrido pela viatura.
«Podia ter acordado com
a cara em pior estado e entalada de uma forma bem mais perigosa!» Disse o chefe
dos bombeiros, em tom jocoso.
Aurélio estava baralhado. Ele ainda não estava seguro de
que estivesse acordado, nem do que se tinha passado, desde que tinha saído do
restaurante. Sofia disse à namorada, sua melhor amiga, que tinha decidido dar
uma volta para não levar o Aurélio bêbado para casa. Isso fazia sentido, mas
ele sentia que existia algo mais e interrogava-se. «Quanto do seu sonho tinha
sido realidade?»
A namorada de Aurélio, que entretanto tinha sido
informada e se tinha juntado a eles, olhava para os dois de forma apreensiva.
Aurélio estava num estado ausente e pouco convicto da narrativa do acidente. Sofia
tinha um ar radiante, apesar do acidente e ela interroga-se por que razão Sofia
estava sem calcinhas.
Aurélio preparava-se para regressar a casa com a namorada e foram à procura da Sofia, para a levarem com eles. Nessa altura ficaram a saber que ela tinha
regressado com um dos amigos, que tinha acorrido ao acidente. De acordo com
subchefe da polícia eles pareciam dois pombinhos, completamente in love. Aurélio chegou a casa e
correspondeu aos desejos da namorada uma e outra vez apesar do cansaço e do
adiantado da hora. Efetivamente aquela era uma noite muito estranha. Era tão
estanha que Ele parecia ausente dele próprio!
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