Reposta ao
amor rejeitado
Tiago,
Li a tua carta
quando a recebi e ri-me de escárnio. Eu tinha conseguido tudo aquilo que queria
e naquele momento o teu lamento pareceu-me simplesmente patético. Hoje,
volvidos nove meses, releio a tua carta e volto a rir-me de escárnio, mas de
mim própria. Leio-a novamente e a única coisa patética que consigo encontrar é
o meu comportamento disparatado, infantil e cruel. O ridículo da situação é que
hoje quem sente a crueldade na pele sou eu, com a diferença de ter sido eu a
causadora da mesma.
Aquele que
pensava ser o homem da minha vida demonstrou não ser mais do que um garoto
mimado, para quem eu não fui mais do que um guardanapo a que se limpou e que
jogou no lixo, depois de usar. Depois disso tive outras relações, nenhuma delas
duradoura e em nenhuma delas encontrei um amor como o teu. Hoje tenho
consciência que tinhas por mim um amor profundo, verdadeiro e que podia ter
durado toda a vida. Não deixa de ser estranho e irónico que ao pensar nisso
tenha saudades tuas. Sonho contigo de olhos abertos. Imagino-te a meu lado e
quase sinto o teu abraço. Fecho os olhos e vejo os teus cheios de amor, apenas
a alguns milímetros de mim. Sinto a tua respiração e instintivamente entreabro
os lábios esperando o beijo. Mas tu não estás aqui. Um homem como tu encontrou
seguramente o amor que merece. Uma mulher que lhe deu o que eu não fui capaz e
que aceitou aquilo que eu desprezei. Isso dói mais do que alguma vez pude
imaginar. Não uma dor frívola de uma mulher que sente que o homem que foi seu
pertence a outra. Essa seria uma dor suportável. A dor que eu sinto é muito
mais profunda. É uma dor que me seca por dentro. Uma dor que me destrói, me
arrasa, prostrando-me perante a vida. É uma dor de quem ama sem qualquer
esperança!
Escrevo estas
palavras sem a certeza do destino que lhes irei dar. Escrevo porque isso me
ajuda a libertar do peso que este amor me faz carregar. Por vezes pergunto-me
se não é tudo imaginação minha e se tudo não passa do resultado de uma mistura
de solidão e saudade. Mas a verdade é que eu apenas estou só porque não consigo
suportar a companhia dos inúmeros homens que querem ardentemente a minha. Eu
olho para eles sorrio e digo que não. Nunca mais quero fazer ninguém sentir-se
da mesma forma que eu me sinto ou da mesma que te fiz sentir a ti. Estou
apaixonada por ti e enquanto assim for não farei nenhum homem pagar com a dor
do abandono, apenas para me curar. Se alguma vez tiver coragem para te enviar
esta carta espero que a leias e que me respondas. Não espero que ainda me ames,
mas gostava de ter a oportunidade de te mostrar o quanto te amo e de que serei
capaz de te fazer feliz. Mas mesmo que não queiras isso e apenas queiras que eu
vá morrer num canto qualquer, o que é perfeitamente legítimo, não tenhas receio
de o dizer. Eu preciso do teu amor, mas se o não puder ter preciso de me curar
dele e a tua resposta pode ser o início desse processo.
Muitas vezes
chorei de arrependimento por todo o mal que te fiz, até que me cansei de chorar
sem nada fazer para mudar o estado das coisas. Esta carta é o primeiro passo na
reconstrução da minha vida, mas é sobretudo uma declaração de amor.
Tua para
sempre
Lurdes
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