O EXEMPLO
Ela era uma neurocirurgiã reconhecida
mundialmente. Com apenas quarenta anos tinha atingido um estatuto, entre pares,
difícil de imaginar havia alguns anos. A sala onde se realizava a palestra, em Harvard,
estava apinhada. A questão era inevitável.
- Qual
a receita para o sucesso?
Todos gostamos de uma boa
receita. Torna a nossa vida mais simples. Liberta-nos do fardo de pensar, de procurar,
de encontrar soluções… basta seguir a receita.
- Não
existem receitas. A vida apenas nos apresenta opções e requer de nós decisões. A
motivação está, a maior parte das vezes, nas pequenas coisas. Existem, no
entanto, vários momentos ou factos na vida que funcionam como “um despertar”.
São momentos de viragem. O mais relevante para mim aconteceu aos dezoito anos
e foi um fim de semana em casa do meu tio.
Há vinte e dois anos atrás
ela era um jovem comum. Morena, fisicamente interessante e com uma inteligência
acima da média. Vivia no interior de Portugal, numa pequena aldeia próximo de
uma capital de distrito. Na verdade vivia isolada numa pequena quinta fora da
aldeia. Subitamente via-se sem opções. Estava condenada a que o seu sonho não passasse
disso. Acabava de terminar o décimo segundo ano, com uma média superior a
dezassete valores, mas não suficiente para entrar em medicina que era o seu
sonho. Os pais não tinham dinheiro para suportar a sua estada fora de casa e a
matrícula numa universidade, ainda que optasse por outro curso. Ela não via qualquer
saída para a sua vida.
O convite para passar um fim-de-semana
em casa do tio, em Troia, fora totalmente inesperado, mas surgiu como uma
oportunidade de mudar de ares e relaxar na praia ou na piscina. O que ela não
estava à espera era de ver a casa cheia de “famosos”. Era a reunião anual dos
amigos do tio. Homens e mulheres das mais variadas profissões. Médicos, gestores, engenheiros, professores, todas pessoas de
sucesso. As surpresas não ficaram por aí. No sábado à tarde, depois de um
almoço animado, com o tio a comandar a churrasqueira e a servir uma sardinhada
para cinquenta e duas pessoas, surgiram os discursos. «Como é que ele consegue?
Ele não precisa disso. Tem empregados para tudo.» Pensou. Dez dos presentes, incluindo
o tio, contaram, resumidamente, as histórias das suas vidas e os mais novos
tinham direito a colocar duas questões a cada orador, tendo sido sorteados de
forma a todos colocarem questões. Aquelas pessoas que ela admirava. As personagens
de sucesso que ela via em entrevistas na televisão, eram afinal pessoas reais,
com histórias de vida reais e todas muito difíceis. Cada uma delas lutou e trabalhou muito
para chegar onde chegou. Ao contrário do que imaginava as histórias não eram apenas
feitas de sucessos. No longo percurso, dos sessenta anos de vida, da maior
parte delas, existiam muitos reveses, muitos sacrifícios. Mas todas elas tinham
alcançado o sucesso porque tinham algo em comum!
No regresso a casa não lhe
saía do pensamento o exemplo de vida daquelas pessoas. De repente olhava para os
seus próprios pais de forma diferente e conseguia perceber o valor dos
sacrifícios que eles faziam para lhe proporcionar a vida que tinha. Cada um
tinha uma história de vida. A sua história de vida! Também ela tinha que construir
a sua história. Era altura de analisar as suas opções, de procurar alternativas,
de encontrar soluções e tomar as suas decisões. Mas sobretudo era altura para
não desistir, de nunca desistir. Esse era o fator comum entre aquelas pessoas. Esse era o exemplo recebido!
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