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COVID-19 | A ECONOMIA A POLITICA E A LIBERDADE




COVID-19 | A ECONOMIA A POLITICA E A LIBERDADE

Neste momento já não se discute, em sede de COVID-19, se Portugal atingiu o pico ou se está em planalto. A questão é saber quando e como vamos regressar à normalidade. A vida é assim, cada momento ou cada pessoa tem as suas prioridades. Essa não é apenas uma constatação do que está a acontecer, mas uma das inevitabilidades da vida. Portanto, a mudança das prioridades e das estratégias que servem as mesmas é natural, não devendo ser um problema. O que pode ser um problema é a forma como essas prioridades são definidas e as respetivas estratégias implementadas. A verdade é que se a definição da prioridade for feita de forma errada, isso pode levar uma pessoa, uma equipa, uma empresa ou mesmo um país, a focar-se na resolução de um problema, quando devia estar focado na resolução de outro distinto. Essa, para mim, é a verdadeira questão, em Portugal e no mundo. A sua importância resulta do seguinte facto: o custo da implementação das estratégias que servem cada uma dessas prioridades, é um custo irrecuperável. Ora se a prioridade definida tiver sido a errada, o custo em vez de ser o preço a pagar por uma opção, que pode ser perfeitamente válida (por exemplo a vida), torna-se num custo perdido, num desperdício.
O mundo suspendeu uma boa parte da atividade económica em prol de um bem que entendeu ser maior: a saúde/a vida. É uma decisão inquestionável, a não ser que se venha a provar que as consequências económicas dessa suspensão venham a ser bem mais perniciosas para a saúde e vida futuras e, sobretudo, que se venha a descobrir que, a definição da saúde como prioridade foi feita de forma incorreta, porque ela não estava verdadeiramente em causa.
Os números, em Portugal e no mundo, falam por si. O pico de mortalidade (ver, nos links úteis, em baixo, os sites da mortalidade na europa e em Portugal) que se está a verificar em Abril de 2020, é apenas ligeiramente superior ao verificado em muitos outros anos, nomeadamente nos últimos três anos. É verdade que se deu tardiamente e que foi desencadeado pelo COVID-19, mas, tirando essas duas especificidades, não estamos perante um nível de mortalidade que possa ser considerado uma calamidade. É bem possível que isso se deva ao facto de ter sido decretado o estado de emergência em muitos países, mas também é verdade que não saberemos nunca qual teria sido o nível de mortalidade se tais decisões não tivessem sido tomadas. Aquilo que sabemos é que o impacto económico dessas decisões vai colocar o mundo na maior recessão económica desde a grande depressão.
Aquilo que sabemos, também, é que, em Portugal, todos os anos no inverno, devido à gripe, ou ocasionalmente, no verão, devido às ondas de calor, morrem, em Portugal, num só dia, quase tantas pessoas como os óbitos que foram atribuídos à COVID-19, em 45 dias. Esta constatação deve obrigar-nos a refletir sobre a forma como as decisões são tomadas pelos políticos em todo o mundo, mas muito especialmente em Portugal.
Os acontecimentos recentes em Portugal levantam, ainda, outras questões, do foro ético e politico que não podemos ignorar. Estando decretado o estado de emergência o nosso governo confinou as pessoas às suas casas, nomeadamente durante o período da Páscoa, impedido toda a população de se juntar às suas famílias e celebrar um dos momentos mais simbólicos para todos os portugueses: A Páscoa. O povo entendeu e acatou. Eu diria mesmo que a Páscoa e o Natal são celebrações que dizem mais ao universo Português que o dia do Trabalhador ou o dia da Liberdade, por mais importância que se dê aos segundos e vocês sabem bem o quão importantes eles são. No entanto, os homens que nos governam, estando Portugal, em ambas as datas, a viver um estado de emergência, proibiu a celebração da Páscoa, chegando ao extremo de confinar as pessoas aos respetivos concelhos de residência, ao mesmo tempo que celebra e apoia a celebração do dia  25 de Abril e do dia 1 de Maio. Estamos claramente perante uma situação de dois pesos e duas medidas, que devem gerar a revolta do Povo Português. Uma revolta digna de sair às ruas para demonstrar o descontentamento que cada um de nós, isolado em casa, sente. Este governo aproveita-se do facto de estarmos em estado de emergência e de estarem proibidos grandes ajuntamentos, evitando a manifestação do direito à indignação de cada um de nós, para legitimar a celebração pública, igualmente com ajuntamentos, do dia da Liberdade e do Trabalhador. Na mesma linha, questiono qual a razão para continuarem proibidas as missas ou para o Sr. Presidente da República ter dito que não seriam permitidos ajuntamentos como os da peregrinação a Fátima, que deveria acontecer já no próximo dia 13 de Maio. Então agora a saúde já não é uma prioridade? Destruiu-se a economia com o argumento de que estava em causa um bem maior e agora deita-se tudo a perder para permitir a celebração destes dois dias?
Caros concidadãos, estamos a viver tempos difíceis, estranhos e perigosos. Vivemos tempos em que se usa o chavão da liberdade para cortar as liberdades de muitos e favorecer a de poucos. Para aqueles que tiveram a felicidade de ler o Triunfo dos Porcos, de George Orwell, lembrem-se da máxima “somos todos iguais, mas uns são mais iguais que os outros”. Os políticos que nos governam e os que os apoiam, estão em primeiro lugar, não tenhamos dúvidas. A democracia e a liberdade são um bem precioso, mas não me venham com a treta de que não podem deixar de ser celebrados, uma vez que seja. Não é o facto de não se celebrar o dia da democracia que a coloca em causa. O que a coloca em causa, é proibir a maioria da população portuguesa de celebrar a Páscoa e fazer celebrações religiosas, para permitir a uma minoria celebrar o 25 de Abril ou a primeiro de Maio. Sim, porque apesar de todos nós entendermos a sua importância, são meia dúzia os que fazem questão de os celebrar em tempos de pandemia. Talvez esteja na altura da maioria silenciosa, aquela que foi oprimida na Páscoa e que voltará a ser oprimida no dia 13 de Maio, fazer algum ruído.
Pensem nisso e, se estiverem de acordo, partilhem, pois calar é pactuar com a situação!

Existe muita a gente a fazer contas e gráficos por isso em vez de os repetir deixo-vos vários links para que possam consultar.
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