Resposta ao Amor Impossível
Martim,
A tua carta entrou na minha vida no
pior momento possível. Lembro-me perfeitamente de a ter recebido e guardado,
para ler num momento mais calmo. Esse momento tardou em chegar. O processo de
divórcio em que estava envolvida, quando a recebi, consumia todas as energias
que me restavam depois do dia normal de trabalho. Acabei por esquecer a carta
que foi parar ao caixote das minhas coisas pessoais. Depois de colocar em ordem
a minha vida pessoal, era tempo de organizar as minhas coisas. Foi assim que me
deparei com a tua carta.
Depois de teres deixado a empresa
perdemos o contacto, embora saiba que estás bem em termos profissionais. Li a
tua carta várias vezes e hesitei se devia ou não responder-te. Neste momento
sou uma mulher livre e não procuro ativamente uma nova relação. Apesar disso,
decidi responder à tua carta.
Não posso fazer-te uma declaração de
amor como aquela que tu me fizeste, não apenas porque não tenho a mesma arte,
mas porque o meu sentimento por ti não tem a pretensão de ser igual ao que nutres
por mim. Apesar de não o demonstrar, à época, tu não me eras indiferente, a
minha cabeça é que estava ocupada em lidar com o fim de uma relação e não tinha
espaço para pensar no início de outra. Hoje, penso em ti com saudade.
Emocionei-me ao ler a tua carta.
Emocionei-me ao ver que sentias por mim algo tão lindo, tão intenso e tão
profundo. Mas emocionei-me também porque tomei consciência de que isso me
agradava, pois conseguia perceber que eu também sentia algo por ti.
Conhecemo-nos no momento errado! Hoje tu terias toda a minha atenção e
dedicação e quem sabe se não teria nascido, entre nós, um verdadeiro e grande amor.
O amor das nossas vidas! A diferença de idades que nos separa não me preocupa,
pois onze anos não são nada, embora isso não invalide o facto de ser mais velha
que tu. Mas na tua idade os amores vão e vêm muito rapidamente e, um ano depois
de teres escrito aquela carta, imagino que já estejas a viver uma nova paixão.
Eu pertenço seguramente ao teu passado.
Este pensamento martela-me a cabeça e
pesa-me no peito muito mais do que esperava. A sensação de ter perdido a
oportunidade de te conhecer melhor e de eventualmente te vir a amar
angustia-me. Sinto o peito apertado e os olhos humedecem-se sem que eu consiga
conter a emoção. Afinal tu significavas e significas, para mim, mais do que
alguma vez imaginei. Talvez tudo isto seja consequência da minha fragilidade,
mas seja como for eu estaria disposta a tentar fazer com que entre nós pudesse
existir algo mais profundo que uma simples amizade. Provavelmente sorrirás ao
ver esta minha confissão. Sorrirás porque eu já não significo nada para ti: já
tens alguém a teu lado que te dá aquilo que eu não dei. Em relação ao passado
nada podemos fazer. O comportamento de cada um de nós foi força das
circunstâncias que nos rodeavam. No entanto, em relação ao futuro muita coisa
pode ser feita. Deixo-te aqui o desafio: Caso ainda me queiras com me querias,
à data desta carta, eu estou disponível. É importante que percebas que não
procuro ninguém para ocupar um espaço que ficou livre com o meu divórcio. Eu
estou disponível porque sinto por ti algo que não me atrevo a classificar como
amor, mas que me leva a querer estar contigo, a conhecer-te e, quem sabe, a
amar-te um dia!
Com carinho,
Paula
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