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UMA QUESTÃO DE ORGULHO


UMA QUESTÃO DE ORGULHO 

Foi orgulho e teimosia. O namorado cobrou-lhe o facto de ter de a levar a casa e ela decidiu ir a pé. «Não preciso de ti para nada.» Tinha dito, de forma empertigada. A zona era um pouco erma. Era um espaço de transição entre a cidade e um dos bairros residenciais absorvidos por esta. Olhando à volta ela sentiu-se insegura. «Se calhar isto não foi boa ideia!» Pensou. Ouviu passos. O grupo de rapazes ainda vinha longe mas as vozes projetavam-se até ela. Quando a viram apontaram na sua direção e baixaram o tom. Ela pressentiu uma ameaça e apressou o passo. O corpo tremia de medo e teve de fazer um esforço descomunal para não bloquear e ficar parada. Olhou em frente buscando o homem que tinha visto há uns segundos atrás. Tinha desaparecido. Sentiu-se desesperadamente só. O coração batia acelerado no peito e pela cabeça passaram-lhe os pensamentos mais negros. Correu o mais depressa que podia e virou na primeira esquina. Parecia-lhe que o homem também tinha virado aí. Ele era a sua última esperança. Não sabia bem porque que fugia, apenas sentia que devia afastar-se daquele grupo de jovens o mais rápido possível. Refugiou-se na entrada de um edifício em construção. A zona era escura e eles não a veriam. Os jovens passaram a correr e ela ouviu um perguntar. 
«Onde se meteu o gajo que atacou a tua irmã?» 
Nesse momento ela sentiu um arrepio de medo percorrer-lhe a espinha. Alçou a perna para dar um passo em frente, mas sentiu o gume afiado do punhal encostado à garganta e a mão a tapar-lhe a boca. 
«Se queres viver fica quieta.» Disse a voz, num sussurro. 
Os jovens tinham parado e pareciam indecisos sobre a direção a tomar. Ela tremia de forma incontrolável O medo paralisou-a e ela desmaiou. 

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