A
REUNIÃO
A
reunião tinha sido preparada com antecedência e em ambiente de expectativa. As
pessoas não se conheciam, embora já tivessem trocado emails e telefonemas
suficientes para criarem uma ideia do que poderiam esperar uns dos outros. O
debate seria sobre princípios de consolidação, de acordo com as normas
portuguesas (SNC) e com as normas Luxemburguesas (LUX GAAP) e a adaptações
necessárias para migrar de uma situação para a outra. Era um tema árido mas
fundamental para as duas equipas em confronto. A equipa portuguesa era cem por
cento nacional. Ao invés, a Luxemburguesa que não tinha nenhum elemento local.
Era constituída por uma Espanhola, um Italiano e uma Romena.
A
troca prévia de impressões sobre o tema tinha gerado alguma fricção pelo que se
antecipava uma reunião com algum confronto. Para evitar que se entrasse em
discussões infindáveis onde se assumissem posições estremadas e sem possibilidade
de regresso, a equipa portuguesa tinha pensado em criar algumas interrupções,
tipo tomar um café, um lanche ou outra que pudessem evitar a progressão
negativa da reunião. Existia portanto um clima de alguma preocupação e reserva.
Apesar
disso, o jantar que estava previsto, antecipava um desfecho agradável para a
reunião e para o dia. No entanto, nesta como em muitas outras situações, o
futuro encarrega-se de desmentir os melhores planos. O jantar afinal não podia
acontecer porque um dos membros da equipa Portuguesa apenas podia almoçar.
Ficou tudo baralhado. Em vez de jantar combinaram almoçar e o membro com
impedimento tornou-se também no membro faltoso. A coisa tinha potencial para
correr mal!
As
mudanças nem sempre são para pior e a substituição do jantar pelo almoço foi a
prova evidente disso mesmo. Os portugueses, dois homens de quarenta e cinco e
cinquenta e sete anos de idade, respetivamente, receberam a equipa
luxemburguesa, cuja média de idades era vinte anos mais baixa, com humor e boa
disposição. Isso foi a chave. Durante o almoço criou-se um ambiente de
cumplicidade entre todos, podendo quase dizer-se que tinha sido um almoço de
amigos. A primeira barreira tinha sido vencida. Respirava-se algum otimismo mas
sobretudo uma grande expetativa!
A reunião
foi encarada com o mesmo espírito e embora se tenham discutido assuntos sérios
e importantes, estes foram abordados com a mesma abertura que o almoço e com
uma transparência que permitiu a ambas as partes chegar rapidamente a um
entendimento. Ao fim de duas horas, sem interrupção, tinham discutido todos os
assuntos da agenda e chegado a um acordo, em cada um deles, que permitiu
classificar a reunião como um sucesso.
Nem
sempre o que começa mal corre mal, como nem tudo o que começa bem corre bem. As
circunstâncias influenciam o resultado, mas as pessoas são determinantes na
definição deste. As pessoas, como seres viso, como pessoas e não apenas como
técnicos e profissionais, independentemente do seu conhecimento, competência ou
experiência.
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