A JORNALISTA | PARTE II | CAPÍTULO 3 - A
Amante
A
LTCBK estava em ebulição. A imprensa todos os dias
publicava notícias sobre a empresa, com novos factos ou meramente novas
interpretações de factos antigos. Isso Colocava uma grande pressão sobre a
mesma. O ambiente de instabilidade era catapultado pelas diferenças de opinião
entre os vários administradores e pelas desavenças entre os acionistas. Pairava
no ar um ambiente de guerra. O pacto de confiança e não agressão entre os
sócios tinha sido quebrado. Cada um procurava reforçar a sua posição,
fragilizando a do outro e nada melhor para isso do que conhecer os seus
segredos mais negros. Tinha começado uma caça às bruxas!
Jair de Lins,
como sócio responsável pela gestão, tinha tentado evitar esse ambiente entre
eles, mas, quando se tornou um dos alvos, decidiu que era o momento de pensar em
si. Era um homem de origens humildes que tinha feito fortuna de forma duvidosa.
No momento certo da vida, legitimou a sua integração na elite da sociedade com
um casamento. A mulher pertencia a uma família com tanta tradição como dívidas.
Ele comprou a credibilidade com o pagamento das dívidas e sustento da família.
Apesar disso, a mulher amava-o. Tinha-se apaixonado pelo homem que resgatou a
família. Não sendo bonita nem rica não tinha tido muitos pretendentes, por isso
aquele homem alto, bonito e atlético, era tudo o que sempre desejara. Era esse
enquadramento que a tinha levado a fechar os olhos às leviandades do marido,
que, apesar disso, sempre se tinha relacionado com ela de forma respeitosa. A
mudança operada nos últimos meses tinha-a deixado desconcertada. O marido
afastou-se dela e não se coibia de a tratar mal, demonstrando-lhe o quanto a
desprezava. Ela sempre soube que o marido não a amava da mesma forma que ela,
mas nem nos seus sonhos mais negros tinha imaginado que ele a desprezava,
tendo-lhe dado três filhos. Ao longo da vida em conjunto tinha acumulado muitas
provas contra ele, embora sem ter, de forma consciente, pensado em
usá-las. «Talvez
tenha chegado o momento para isso.» Pensou.
Jair
de Lins tinha mandado vir uma das suas amantes do Brasil, fazia alguns anos. A situação confortável em que ela se encontrava
levou-a a nunca procurar legalizar a sua
situação. Era portanto uma turista ilegal. Era uma mulher linda e elegante com
formas curvilíneas, tão típicas das brasileiras, com ascendência africana. Ela
tinha um fetiche: queria fazer amor com ele no palacete de S. Domingos. A
resposta tinha sido sempre negativa. Ela voltou a insistir. O mau estado do
relacionamento com a mulher tornou-o mais dependente da amante, tornando-o mais
receptivo aos seus pedidos. Acedeu. Deu a tarde de folga à governanta e às
empregadas e foi ele próprio a abrir-lhe o portão de homem. Apesar dos seus
cinquenta anos ele estava em muito boa forma. Ela tinha vinte e oito, mas
pertencia-lhe desde os vinte e dois. Tinha-a salvo das garras de dois meliantes
na Favela da Rocinha e tinha-a marcado com o seu ferro: uma pulseira que não
era suposto ela tirar e que permitia saber onde ela estava, graças ao sistema
GPS, embora ela desconhecesse o facto.
O corpo bem torneado e a beleza estonteante deixavam os homens
loucos e Jair de Lins não era exceção. Conduziu-a até à cozinha e num movimento
brusco encostou-a à ilha. Com sofreguidão beberam os beijos um do outro,
enquanto as mãos exploravam os recantos mais íntimos dos seus corpos. A paixão
comandava os seus atos e o desejo consumia-lhes a alma. A roupa de ambos estava
dispersa por toda a cozinha, jogada ao acaso. Ele segurou-lhe o rosto e
beijou-a olhando-o com volúpia. As mãos exerceram pressão sobre os ombros num
pedido mudo para ela se colocar de joelhos. Ela fez-lhe a vontade e
satisfez-lhe o desejo. Jair gemeu, gritou e no fim chorou de prazer. O uso da
boca, da língua e dos lábios era uma arte que ela dominava com mestria.
Gentilmente ele elevou-a e beijou-a na boca. Agarrou-a pela cintura e fê-la
sentar na bancada. Sem pararem de se acariciar e beijar, ele deitou-a de costas
e fez passar as pernas dela por cima dos seus ombros. Beijou-lhe os seios e o
umbigo e depois entregou-se com entusiasmo à satisfação do desejo dela. Saciado
o desejo imediato, ingeriram alguns líquidos e foram para o quarto. Ela ia à
frente e ela abraçou-a por trás, beijando-lhe o pescoço. Ficaram ambos
arrepiados e a manifestação física do desejo de ambos tornou-se evidente. Ele
jogou-a sobre a cama, mantendo-a de abdómen para baixo. Ela já sabia aquilo que
se seguia e o seu corpo antecipava-o, tremendo de excitação. Ele colocou-lhe
uma almofada debaixo das ancas e acariciou as suas partes íntimas, fazendo-a
soerguer-se em sobressaltos de prazer. Aumentou-lhe a lubrificação com óleo
durex, fazendo-a antecipar o momento da união. Fantasiar o momento quando este
estava eminente fazia-a estremecer.
Sem aviso prévio ele sodomizou-a. De forma instintiva ela
retraiu-se, mas apenas por uma fração de segundos, depois relaxou e entregou-se
a ele com paixão. Ele entrou dentro dela, uma e outra vez, ora sodomizando-a
ora penetrando-a, ate que, com os corpos suados pelo esforço, explodiram de prazer, num
clímax simultâneo, que se prolongou até esgotarem o néctar e as forças. Ele
libertou-a do seu peso e rodou para o lado, puxando-a para si. Ela descansou a
cabeça sobre o peito dele, puxou o lençol, cobriu-os e adormeceram.
O toque do telefone acordou-os. Ela tinha colocado um alarme
para as dezassete horas. Estava na hora de partir.
«Eu quero legalizar a
minha situação em Portugal.» Disse ela.
Jair foi apanhado de surpresa. Ele pensava que a tinha sob
controlo, mas enganou-se.
«Não vejo necessidade
para tal. Eu dou-te tudo o que necessitas.»
«Não existe razão para alterar isso. Apenas quero
estar legal para poder andar tranquila.»
Ele
sabia que se não lhe fizesse a vontade a perderia e naquele momento ele
precisava muito dela.
«O que queres que eu faça?»
«Arranjas-me um emprego como secretária,
numa empresa dos teus amigos. Eu fiz um curso de secretariado por isso não te
vou deixar ficar mal. Mas primeiro tenho que regressar ao Brasil e voltar a
entrar para ter um visto de turista válido, quando apresentar o processo ao
SEF.»
Ela
já tinha pensado em tudo. Ele levantou a cabeça e olhou-a com um ar de
surpresa. Acedeu. Dai a dois dias ela partiria para o Brasil.
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