A
noite, entretanto, tinha caído e não era fácil encontrar o camião das armas,
na escuridão. Os homens dos GOE entraram nos helicópteros e começou a caça ao
homem. A pesquisa foi feita em círculos tomando como epicentro o local onde se
tinha dado o confronto. Assumindo que o americano tinha partido daí para ir ao
encontro do camião. Mónica Fonseca dispensou a maioria dos homens e acampou no
local, acompanhada de três dos seus homens. Tinham que esperar pela equipa
forense. Dada a gravidade dos confrontos, os GOE deixaram quatro homens a
proteger o local, estrategicamente posicionados.
Mónica
depois de revistar os homens todos começou a passar as carrinhas, ou o que
restava destas, a pente fino. Tudo o que pudesse encontrar e a ajudasse a
concluir a sua investigação seria bem-vindo. Para além disso era importante
encontrar uma pista que ajudasse a encontrar o camião, pois este transportava
uma carga que não podia sair do país: entre as armas encontravam-se misseis,
armas sofisticadas e agentes biológicos que, se usadas por terroristas,
poderiam ter um impacto devastador.
Scott
estava de muito mau humor. Tinha corrido tudo mal. Se aquele carregamento não
chegasse ao destino ele seria um homem morto. Dificilmente conseguiria repor o valor
do mesmo e ainda que o fizesse tinha dúvidas que o deixassem viver. Os homens
com que lidava não brincavam com os negócios e, normalmente, os erros
pagavam-se com a vida. Meteu a mão no bolso para tirar a guia de transporte do
camião que seguia à sua frente e ficou gelado. Tinha perdido o documento. Não
precisava dele para nada, mas isso significava que alguém o podia encontrar e
identificar o camião onde seguiam os contentores com as armas. Pararam na bomba
de gasolina e ele colocou todos os homens no camião.
«Eu vou à frente
para tratar de tudo. Preciso que faças com que o camião chegue a Setúbal.»
Disse para ao chefe dos mercenários.
«Algum problema
que justifique a alteração do porto de embarque?»
«Estou apenas a
ser cauteloso. Depois de tudo o que aconteceu esta noite acho melhor
utilizarmos o porto alternativo.»
«De acordo. Não
te preocupes. Ninguém conhece a carga que levamos. Não vamos ter problemas.»
«Mantém-te fora
da autoestrada.»
Apesar
da tranquilidade das palavras a tensão era visível. Scott nem dessa
tranquilidade comungava, mas não podia partilhar esse sentimento com o operacional.
Partiu e deixou o carregamento a cargo dos seus homens. Quando ficou sozinho
informou os clientes da situação e seguiu para Setúbal. Esperaria à entrada da
cidade. Se tudo corresse bem ele estaria lá para colher os louros caso
contrário não seria apanhado com as armas.
Ao
fim de duas horas de buscas não tinham encontrado nenhuma pista sobre a
identificação do camião. Foram colocadas barricadas em todas as saídas da
autoestrada e à entrada de Sines. Vivia-se um ambiente de apreensão, estando
toda a gente com os nervos à flor da pele. Nenhum camião passava sem ser
devidamente revistado. A verdade é que, à medida que o tempo passava, a esperança de vir a encontrar algo diminuía. O mais
provável era que o americano estivesse a usar um destino alternativo. Mónica
não sabia o que responder aos pedidos de informação, insistentes, do capitão
dos GOE. Ela não tinha nenhuma informação que o pudesse ajudar. Precisava de
pensar. Afastou-se um pouco das carrinhas e embrenhou-se no pinhal que existia
ali ao lado. «Deve ter sido por aqui que o americano fugiu.» Pensou. Como
estava escuro usava uma lanterna para iluminar o caminho. À primeira vista
ignorou o papel, mas depois de ter passado por ele o seu cérebro processou a
informação: aquilo era uma guia de transporte. E se… voltou atrás
apressadamente e recolheu o papel. Tratava-se de uma guia de transporte de
quatro contentores para o porto de Sines. A informação sobre a matrícula do
camião foi de imediato passada aos operacionais. Não devia ser difícil de
identificar pois era um camião com dois atrelados.
A espera
tornou-se desesperante e à medida que as buscas não produziam resultados a
tensão foi aumentando. Na autoestrada e, percorrida uma distância razoável, não
existia nenhum camião com atrelado duplo.
«Verifiquem na direção norte. O plano alternativo pode ser ir para norte.» Disse Mónica.
«Quem disse que
eles tinham um plano alternativo?»
«Ninguém. Mas
temos de assumir isso.»
Nada. O camião parecia ter-se evaporado! Mónica sugeriu que
procurassem as estradas secundárias que levavam a Sines e a Setúbal. Esse era
outro percurso viável para um plano alternativo. Foram encontrados dois camiões,
circulando bastante separados um do outro, mas nenhum dos dois tinha a matrícula
indicada na guia de transporte.
«A matrícula pode ter sido mudada. Sugiro que verifiquem os
dois.» Disse Mónica.
Para evitar que o que circulava mais atrás percebesse alguma
coisa, esse foi o primeiro a ser abordado. O aparato da intervenção foi grande
e as consequências quase desastrosas. O condutor assustou-se com a aproximação
dos helicópteros e quase se despistou. Faltou pouco para o camião se virar a
abalroar alguns carros. Depois uma grande derrapagem e de ter rodado sobre si
próprio, cento e oitenta gruas, o camião imobilizou-se A carga foi analisada e
das armas nem sinal. Tinham abordado o camião errado. Isso significava que só
podia ser o que seguia à frente.
Os homens viram os helicópteros aproximar-se e perceberam tudo.
Abriram fogo sobre estes e aceleraram. A estrada estava vazia pelo que
circulavam a uma velocidade muito acima do aconselhável. A curva que se
apresentava, mesmo antes da ponte sobe uma pequena ribeira, era demasiado
apertada. O condutor ainda tentou reduzir a velocidade, mas quando curvou à
esquerda o camião entrou em descompensação. Os homens saltaram todos com a
exceção do condutor que foi parar dentro da ribeira.
«O camião vai despistar-se. Existe a possibilidade dos agentes
químicos se libertarem?» Perguntou o capitão ao chefe ao especialista com quem
estava em contacto desde que iniciaram a aproximação ao camião.
«Depende da forma como estiverem acondicionados. Sugiro que
mantenham a distância durante algum tempo.»
Os helicópteros ficaram a sobrevoar o espaço,
num compasso de espera para ver se os agentes químicos haviam sido libertados
com o acidente. Aparentemente isso não aconteceu. O grupo armado ainda resistiu
aos primeiros tiros, mas os que não foram mortos com a resposta dos GOE
renderam-se. Quando a situação ficou controlada fizeram a contagem: tinham dois
mortos, três feridos e um homem completamente ileso. Trataram dos feridos e
começaram a interrogar o ileso. O homem recusava-se a falar. No entanto, quando
foi confrontado com o facto de enfrentar uma acusação de terrorismo, em função
da carga que transportavam, ele mostrou-se mais colaborador. Foi assim que
ficaram a saber que, no armazém que tinham alugado, estavam guardados mais dois
carregamentos de armas.
Comentários
Enviar um comentário