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A JORNALISTA | PARTE V | CAPÍTULO 1



A JORNALISTA | PARTE V | CAPÍTULO 1 – A sentença

O local era paradisíaco. Tinham ficado num bungalow de madeira, construído em palafita, que fazia parte de um núcleo de seis. Para se chegar até eles passava-se por uma ponte de madeira, o que criava uma sensação de isolamento que era, simultaneamente, repousante e desconcertante. Eles eram seres terráqueos e viver sobre as águas criava um certo suspense. A primeira noite não tinham dormido muito bem, mas depois de acostumados o resultado tinha sido maravilhoso.
Eram as suas primeiras férias em conjunto e nem tudo tinha sido como esperavam. No fim da semana Perestrelo começou a interrogar-se se não se teriam precipitado. Anabela era uma mulher extraordinária, mas talvez não fosse a mulher da sua vida. «Tens que te dar uma oportunidade a ti próprio. Não podes estar a comparar pessoas reais com um ideal que criaste na tua cabeça. A Anabela, como mulher, é o sonho de qualquer homem!» Disse para consigo próprio.
«Está quase na hora de fecharmos as malas. Estes dias, a teu lado, foram maravilhosos.» Disse ela com um ar completamente apaixonada.
Ela tinha tido algumas dúvidas sobre a relação deles. Isso ainda a incomodava um pouco, quando se relacionavam profissionalmente. No entanto, assim que colocou os pés na ilha, o trabalho ficou para trás e, liberta disso, entregou-se a ele sem reservas. Nesses momentos ela tinha a certeza do seu amor por ele.  Vê-la assim, bronzeada e com aquele olhar doce e meigo, mexeu com ele. Semideitada sobre as almofadas da cadeira de verga, ela mostrava uma parte interior das coxas, por entre a saída de praia, que ainda tinha vestida. Apesar de conhecer bem o corpo dela, isso excitou-o. Aproximou-se dela, com um ar galante e, segurando-lhe o queixo, depositou nos lábios dela um beijo, suave, mas carinhoso. Ela puxou-o para si, fazendo com que ele caísse desamparado em cima dela. Rodou. Adorava sentir corpo dele, musculado, por baixo da pele macia. Acariciou-o. Sentada sobe as ancas dele sentiu, de forma clara, o efeito das suas carícias e isso deu-lhe ainda mais prazer. Ele tentou colocar-se por cima mas ela impediu-o.
«Fica quieto! Queres que tire isto?» Disse ela soltando a saída de praia, com um ar libidinoso.
Os seios estavam rijos e entumecidos. Ele empinou o corpo, encolhendo o ventre e colocou-os numa posição ainda mais saliente. Perestrelo exibia uma expressão de êxtase. Ela colocou as palmas das mãos sobre o peito dele e mexeu as ancas devagarinho, para trás e para a frente, de encontro ao sexo dele. Aquilo era bom demais! Perestrelo precisou de todo o seu autodomínio para se conter. Ela rodou e deitou-se de costas sobre o peito dele, ao mesmo tempo que levantava as ancas e se libertava da última peça de vestuário. Ele segurou-a pelos seios, acariciando os dois em simultâneo. Por alguns instantes, ela deixou-se ficar naquela posição, roçando as costas no peito dele. Os poucos pelos que ele tinha no peito, criavam pequenos sulcos nas costas dela, provocando uma sensação de prazer profunda e excitante. Ela fechou os olhos e gozou o momento. À beira de perder o controlo, soltou-se dele e virou-se para o beijar, esmagando os seios contra o seu peito. Foi um beijo devorador! A mensagem era simples: desejo-te com todos os poros do meu corpo. Aquele beijo eletrizante tornou os movimentos dos corpos febris e descontrolados. Ela libertou-o dos calções de banho e sentou-se em cima dele. As ancas de ambos rebolaram em movimentos circulares, ora sincronizados, ora desconcertados, prolongando o prazer durante alguns minutos. Os corpos, em convulsões, anunciaram o culminar do momento, num clímax que os deixou satisfeitos e extenuados.
Partiram para o aeroporto. Anabela lançou um último olhar ao local. Tinha sido muito feliz ali. Fixou Perestrelo e disse-lhe isso com o olhar. Ele acariciou-lhe o rosto com ternura. O avião partiu a horas e o voo decorreu sem qualquer novidade. O táxi que os levou, aos dois, deixou primeiro Anabela e seguiu para a morada de Perestrelo. Absorto em reflexões sobre a última semana, foi surpreendido pelo toque do telemóvel.
«Não me digas que já estás com saudades minhas!»
«A meu escritório foi assaltado!» Disse ela, num tom alarmado.
«Mas tu já estás no escritório!» Disse ele.
«Não. Eu tenho, no computador de casa, um sistema que me alerta quando o computador do escritório for violado.»
«Queres que vá até lá contigo?»
«Não. Depois de deixares a mala em casa vai ao teu escritório para ver se também te assaltaram.»
Tinha sido um regresso duro à realidade! O mais provável era que tudo estivesse ligado ao caso da jornalista, pois os restantes casos tinham um perfil bem mais tranquilo. Ambos os escritórios tinham sido assaltados. Era óbvio que para além de entrarem no computador, tinham aberto o cofre, portanto, tinham tido acesso a toda a informação com exceção dos dossiers que cada um tinha em casa. Decidiram comunicar o assalto à polícia e falar com a Mónica Fonseca. Ela não atendeu o telefone, nem retornou a chamada.
«Bom dia Dra. Anabela. Achei mais prudente falar consigo apenas depois da leitura da sentença.» Disse Mónica, à entrada do tribunal.
«Bom dia.» Retornou Anabela.
Por momentos pensou em dizer-lhe que o telefonema nada tinha a ver como caso do seu cliente, mas a verdade era que a probabilidade de estar tudo ligado era grande.
A sala de audiências estava repleta de gente. Mónica perscrutou a assistência procurando o Sr. Lins. Estranhamente ele não estava presente. O burburinho era intenso, criando um zumbido semelhante ao de um enorme enxame de abelhas. A entrada dos juízes, acompanhados dos jurados, fez com que se fizesse silêncio. O juiz presidente olhou para a sala durante alguns instantes, como que gozando aquele instante de paz, que mais não era que a manifestação do poder daquele coletivo. Um sorriso muito suave aflorou-lhe os lábios e ele aclarou a garganta e deu a sessão por iniciada. Depois de cumpridos todos os procedimentos legais, iniciou-se a leitura da sentença que, apesar de não ser muito extensa, tinha algumas páginas. Quando o Juiz terminou Anabela exibia um sorriso do tamanho do mundo e o Chef Walker chorava de emoção. Ele não tinha imaginado aquele desfecho: Tinha sido declarado inocente de todas as acusações. Era a segunda vez que um tribunal o fazia.
Mónica e Anabela encontraram-se no exterior, no meio da confusão gerada pelo esvaziar da sala e rodeadas de jornalistas. Apenas Anabela falou com estes, tendo sido muito breve e reforçando que a sentença era um único desfecho possível, dada a inocência do seu cliente. Enquanto isso, Mónica aguardava a um canto.
Quando soube do motivo do telefonema arrependeu-se de não ter atendido a chamada, pois gostaria de ter enviado os técnicos forenses da polícia judiciária ao local, antes do mesmo ser contaminado pela polícia. Ainda assim, pegou no telefone e deu a instrução. Também ela pensava que existia uma ligação entre o assalto e o caso do Chef Walker, o que não deixava de ser irónico, dado que este acabava de se inocentado.

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