A JORNALISTA | PARTE V | CAPÍTULO 10 - O Sucessor
Quando a reunião começou, o Presidente da Assembleia verificou
todos os documentos e anunciou que estavam validamente presentes cem por cento
das ações representativas do capital. Eka kodiak não manifestou interesse em
reforçar a posição de trinta por cento que detinha, pelo que Raj Badour se
limitou a igualá-lo. Os restantes dez por cento foram comprados pelo Li Cheng,
que se tornou assim o terceiro acionista na hierarquia, com vinte e cinco por
cento. Jair de Lins ficava na cauda.
Perante a alteração das posições acionistas o Li manifestou a
sua intenção de assumir as rédeas da gestão, tonando-se o novo CEO. Esta
posição tinha sido previamente concertada com Raj Badour o que significava que
tinha garantidos 55% dos votos. Eka até preferia que Jair continuasse à frente
dos destinos da empresa, mas não tinha interesse em comprar uma guerra, pelo
que acabou por secundar a pretensão de Li. Foi de imediato convocada uma nova
assembleia para eleger nova administração e o Chinês sucedeu ao Brasileiro.
Jair estava completamente fora de si e isso fez vir ao de cima o
que de pior havia nele. De forma irrefletida ameaçou a mulher a quem culpava de
tudo. Foi ter com ela ao quarto do hotel e forçou a entrada.
«Tu vais pagar por tudo o que me fizeste.»
«Cuidado com o que dizes, para mais tarde não te arrependeres.»
Disse ela em tom jocoso, pois sabia o quanto isso o irritava.
Ele agarrou-a por um braço e jogou-a para cima do sofá. Tinha
perdido completamente a cabeça.
«Pensas que me vais roubar e ficar-te a rir, mas isso não vai
acontecer. Não vais ter tempo de gozar o dinheiro.»
«Porquê, vais mandar matar-me como fizeste à minha família?»
Disse ela em tom provocador.
Jair estancou. A expressão dele era de espanto e ao mesmo tempo
de admiração. «Como é que ela sabe que o assassinato foi encomenda?»
Interrogou-se. Isso deixou de ser importante. Ele tinha tomado todos os
cuidados e ninguém sabia que estava ali. Ainda bem que tinha calçado as luvas.
Iria estrangulá-la.
«Não mandei matar a tua família, mas a verdade e que agora vou-te
matar a ti. Assim fica o este assunto arrumado.»
Ela tentou ganhar algum tempo.
«Eu posso morrer, mas tu vais ser apanhado.»
«Estás enganada. Ninguém sabe que estou aqui.»
Ela arrastou-se para a outra ponta do sofá, sem deixar de o
olhar e começou a gritar por socorro. Ele colocou-lhe a mão sobre a boca a e
abafou-lhe o grito. Com a outra mão apertou-lhe o pescoço. A coisa não estava a
correr como ela tinha planeado. Não era fácil estrangulá-la apenas com uma mão,
apesar da pressão que fazia esta não estava a surtir o efeito desejado. Bateram
à porta. Ele aliviou a pressão sobre o pescoço dela e refletiu sobre o que
devia fazer. Tapou-lhe a boca com uma camisola e deu um nó para evitar que ela
gritasse, atando-lhe as mãos atrás das costas.
Foi até à porta e tentou perceber o que se passava do outro lado.
Aparentemente não estava ali ninguém. Quando voltava para o sofá, sentiu que
alguém mexia na fechadura e tomou uma decisão rápida. Libertou a mulher e
rasgou-lhe a roupa. A acusação de violação seria fácil de ultrapassar e isso
servia de justificação para a sua presença ali. O responsável da segurança e
chefe da receção entraram de rompante e tiraram-no de cima dela.
«Este homem é um assassino. Matou a minha família e tentou
matar-me.»
«Não digas disparates Maria Eduarda. Estávamos apenas a divertir-nos um pouco, mas, apesar do teu entusiasmo, isso não é razão para delírios.»
«O senhor conhece esta mulher?»
«Sim. É a minha mulher.»
«Mentira! Estamos separados...»
«Estamos num processo de divórcio, mas ainda não estamos
separados. Então Maria Eduarda!» Corrigiu ele.
A calma dele contrastava com a exaltação dela e os homens
ficaram sem saber bem o que fazer. Para clarificar a situação chamaram a
polícia. O agente tomou conta da ocorrência, recolhendo as declarações de
ambos, mas era claro que encarou as dela de forma bastante incrédula.
«A senhora quer apresentar queixa contra o seu marido por
tentativa de violação?»
Ela olhou para o agente como se não acreditasse no que ouvia.
«Sabe que mais! Vá para o inferno!»
O agente encolheu os ombros e abanou a cabeça.
«O senhor Jair faça o favor de se ir embora e deixar a D. Maria
Eduarda descansar. Eu vou registar a ocorrência e os senhores podem vir a ser
contactados para prestar mais declarações.» Disse o agente, antes de partir.
Os homens do hotel
ficaram mais alguns minutos.
«A senhora precisa de alguma coisa?»
«Preciso de segurança. O meu marido vai voltar e vai matar-me!»
Eles olharam um para o outro sem dizer nada. Depois o chefe de
segurança tranquilizou-a.
«Vou destacar um dos meus homens para o seu piso. Se precisar de
ajuda ligue para a receção que nós aturaremos de imediato»
Depois de ficar sozinha Maria Eduarda foi passar água pelo rosto
e ligou para o seu advogado. Era o momento de jogar a sua última cartada.
Estava a jogar um jogo muito perigoso. Ela sabia aquilo de que o marido era
capaz. Quando menos esperasse e no local mais improvável ele chegaria até ela e
da próxima vez seria letal. O medo fazia-a tremer, mas a perspetiva de vingança
dava-lhe força.
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