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CORONAVÍRUS E BOM SENSO


CORONAVÍRUS E BOM SENSO

Vivemos tempos difíceis e estranhos. A humanidade está sob a mira de uma ameaça desconhecida: O coronavírus. Uma ameaça de quem conhecemos o nome, porque a batizamos, mas cuja essência nos escapa. É este desconhecimento que torna os tempos estranhos. A humanidade está sob ameaça, porque quando se espalha pelo mundo uma doença cuja mortalidade média é de 3,5%, mas que pode atingir quase os 7% por cento, dos infetados, como aconteceu em Itália, é assim que a devemos encarar. Não falamos de uma ameaça de extinção da humanidade, mas sim de uma ameaça que tem de ser levada a sério.
Tratando-se de um vírus que ameaça todos os habitantes do planeta e que provou ter a capacidade de se espalhar com uma rapidez alucinante, tem de ser combatido numa frente única. Isso exige a coordenação dos organismos mundiais, regionais e locais de saúde, para que, com o maior consenso possível, se crie a desejável frente única de combate ao vírus. A iniciativa e coordenação das medidas, para que estas sejam eficazes e eficientes, cabe pois a essas organizações e aos governos dos vários países. No entanto, a eficácia de todas as medidas e das decisões que as implementam, depende exclusivamente da ação de cada indivíduo, ou seja, de cada um de nós.
Assim, é fundamental que cada um respeite as regras definidas, ainda que pense que, do seu ponto de vista, estas possam ser exageradas. Nesta equação, cujos parâmetros ainda são desconhecidos, existem dos extremos: o da leviandade e o do excesso de zelo. Na dúvida devemos optar pelo excesso de zelo. O pior que pode acontecer é a tentação de cada um pensar que se for o único a não cumprir não há problema. Para além de isso não ser verdade, porque essa pessoa pode tornar-se num veículo propagador do vírus, existe um risco enorme de serem muitas as pessoas a agir assim, anulando dessa forma a eficácia de qualquer medida.
Neste momento grave é importante que os comportamentos sejam pautados pelo respeito, pela verdade e pelo altruísmo, tudo gerido com bom senso.
O respeito pelas regras e pelos outros. Nem todos os que tossem ou espirram estão infetados, portanto devemos evitar hostilizá-los, mas os que o fazem (tossem ou espirram) devem ter o cuidado de procurar privacidade para o fazer e não ficar ofendidos se os restantes se afastarem. Em simultâneo, devem certificar-se de que não estão efetivamente infetados. As regras de higiene pessoal devem ser cumpridas de forma inexorável, nomeadamente, a lavagem sistemática das mãos e a ausência do toque direto, com as mãos, em superfícies comuns (corrimãos, maçanetas, botões de elevador, etc.). A possibilidade de trabalhar à distância ou o encerramento das escolas, não deve ser encarado como um passe para uma ida ao centro comercial ou à praia. O país e consequentemente todos nós, vai suportar um custo enorme com estas medidas, destinadas a reduzir a possibilidade de contágio. Se as pessoas em vez de estar juntas nas escolas, saírem daí para se juntarem no centro comercial, na discoteca ou na praia, o risco mantêm-se e a eficácia da medida, tão custosa para o país, será nula.
A verdade deve estar sempre presente. Mais do que nunca, cada um de nós, através das redes sociais e a imprensa, falada ou escrita, deve, antes de divulgar qualquer informação passá-la pelas três peneiras de Sócrates (não o nosso ex-primeiro ministro, mas o filósofo): Verdade, Bondade e Necessidade. Vídeos a lançar o pânico porque as prateleiras dos supermercados estão vazias, ou com paragens dos transportes públicos, com afirmações de que foram detetadas pessoas infetadas lá dentro, são contraproducentes. As notícias devem ser transmitidas pelos meios de comunicação de forma educativa. Vejam o exemplo fantástico como as notícias sobre os açambarcamentos foram dadas pelo Rodrigo Guedes de Carvalho, na SIC, ou a rubrica notável, do Nuno Markl, Caderneta de Cromos, do passado dia 12, nas manhãs da Rádio Comercial. Cito apenas dois exemplos, embora existam muitos mais. Infelizmente, também temos imprensa que noticia vítimas mortais do coronavírus, num ato de adivinhação, ou seja, sem que estas tenham acontecido. A existência de informação nos tempos que vivemos é crucial, mas a veiculação de notícias inócuas ou falsas é um contributivo não desejável, que apenas aumenta o medo e, consequentemente, gera o pânico. Precisamos de calma e serenidade e não de pânico. Os primeiros ajudam-nos a enfrentar o problema que vivemos, o segundo apenas ajuda a agravá-lo.
Agir com altruísmo significa pensar primeiro nos outros. É o momento para deixarmos aquele exame radiológico ou análise para outra altura, não sendo o mesmo crítico, pois, de outra forma, estaremos a ocupar recursos que podem se alocados ao combate da pandemia e queremos que o nosso sistema de saúde tenha capacidade de responder às necessidades daqueles que precisam dele para sobreviver. Não é o momento para açambarcar produtos alimentares ou outros, privando as pessoas que vão ao supermercado, fazer compras regularmente e que, devido a este comportamento, correm o risco de encontrar apenas prateleiras vazias. Não é um comportamento aceitável, ainda que existisse um risco real de rotura, mas, nas circunstâncias atuais, não é nem aceitável, nem justificável.
A todos aqueles que lerem estas palavras, não serão muitos, pois apenas tenho a possibilidade de alcançar umas centenas, saibam que partilho as mesmas com grande humildade. Não pretendo dar lições a ninguém, nem demonstrar uma atitude de superioridade. Sou humano e falho como todos vós, se calhar mais vezes do que muitos de vós. Apenas pretendo deixar um apelo sincero e sentido, para que tenhamos todos bom senso, para enfrentar os tempos difíceis que se avizinham. O bom senso, a calma e a tranquilidade devem imperar no nosso dia-a-dia, pensando sempre no bem comum. É o momento para pormos em prática a tão célebre afirmação de John Kennedy: Não perguntes o que o país pode fazer por ti, mas o que tu podes fazer pelo país. Hoje esta frase aplica-se à humanidade!
A todos o meu bem-haja e a minha solidariedade.


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