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A JORNALISTA | PARTE II |CAPITULO 5



A JORNALISTA | PARTE II |CAPITULO 5 - O Clube

A mulher estava acompanhada de três homens. A forma como o diálogo se desenvolvia demonstrava que era ela quem liderava o grupo. Desde que ele tinha chegado já a tinha ouvido falar quatro línguas distintas. Efetivamente estava impressionado! Jair Lins era um homem com uma capacidade intelectual e um nível de conhecimentos acima da média, mas com uma fraqueza: mulheres com perfil dominador. 
A mulher já tinha reparado nele e percebido a sua admiração, mas, como qualquer mulher que se prese de o ser, brindou-o um ou outro olhar para o fazer perceber que tinha reparado nele e depois simplesmente ignorou-o de forma ostensiva. A tática resultou em cheio. O desinteresse dela funcionou como um desafio mudo para ele. Os companheiros partiram e ela levantou-se e dirigiu-se ao balcão do bar. Procurando ser discreto ele seguiu-a. Fingindo que olhava diretamente para o empregado ela percebeu a aproximação dele pelo espelho que servia de fundo ao bar 
«Desculpe, deixou cair isto da carteira.» Disse ele, entregando-lhe um papel que sabia não ser dela 
Ela ficou a olhar para ele com um sorriso pendurado nos lábiosEra uma abordagem original. Estendeu a mão e pegou no papel, com um gesto suave e gracioso, abriu-o: estava em branco. Tinha uma mão muito bonita. Os dedos longos terminavam numas unhas grandes e bem desenhadas. Eram umas unhas perfeitas.  
«Interessante, uma mensagem codificada...»  
O tom com que pronunciou estas palavras transmitia que tinha percebido que estava a ser abordada e de certa forma aceitava a situação. 
«Perdão. O meu nome é Jair de Lins...» 
A forma como não terminou a frase era uma indicação clara de que esperava que ela se apresentasse. Ela olhou para ele com um sorriso encantador e deixou-o pendurado durante alguns segundos. 
«O meu nome é Cristine Spruit.» 
Ele estendeu-lhe a mão e apertou a dela de forma firme e suave, demorando-se algum tempo no ato, mas sem se tornar deselegante. O contacto foi eletrizante. Uma onda de choque percorreu-lhe o corpo. Ao fim de cinco minutos perceberam que estava hospedados no mesmo hotel. Ele tinha contratado os serviços de um motorista e ofereceu-lhe boleia. Ela aceitou. Quando chegaram ao hotel convidou-a para uma bebida e ficaram a conversar ao balcão. Ela era uma das diretoras executivas da Google e estava a explorar a possibilidade de se mudarem para o Luxemburgo. Ambos tinham posições muito relevantes nos negócios que comandavam, mas estes não tinham qualquer relação entre si.  
A conversa estava interessante e eles combinaram ir jantar os dois. O convite tinha partido dela e isso apanhou-o de surpresa. No entanto, gostou de ser convidado para jantar por uma mulher. Ele gostava de mulheres com iniciativa. Foi um jantar fantástico! O menu de degustação tinha sido escolhido de forma magistral e os vinhos eram extraordinários, quer o branco, quer o tinto. Regressaram ao hotel. Quando subiam no elevador ele aproximou-se dela e ela deixou que os corpos deles se unissem. O beijo surgiu de forma natural. O elevador parou e ela deixou que ele lhe segurasse a mão e a conduzisse até ao quarto 
Jair de Lins, apesar de casado e de ter um amante permanentevia-se com frequência envolvido em aventuras, que muitas vezes lhe traziam consequências desagradáveis, mas nem por isso deixava de se entregar a desconhecidas com quem se cruzava desde que a situação se proporcionasse. A conquista era viciante e a novidade altamente motivadora. Cristine, para além de ser solteira, era uma mulher mais nova que ele. Tinha apenas trinta e oito anos. Ele era bastante mais velho, mas com as mulheres comportava-se como se tivesse vinte.  
A noite foi indescritível. Cristine era uma mulher que sabia como dar e sentir prazer. Não existiam limites nem barreiras. Aceitou todos os desafios que ele lhe propôs e foi muito para além disso. Experimentaram diversas posições e locais distintos, ao mesmo tempo que exploraram o corpo um do outro. Ela levou-o para além daquilo que ele pensava ser o seu limite e ele correspondeu com zelo e entusiasmo. Quando ele se rendeu, exausto, ela propôs-lhe que ele ingerisse um estimulante e ele acedeu sem hesitar. A partir desse momento perdeu totalmente o controlo e a noção daquilo que se estava a passar.  
O som do telemóvel ecoou na sua cabeça como um gongo num templo chinês. Acordou sobressaltado. Cristine tinha partido sem se despedir. Talvez a encontrasse ao pequeno-almoço ou então ao fim do dia. Recordava-se que ela também iria ficar mais um dia no Luxemburgo. Tinha que atender o telefone. Pegou no aparelho e olhou as horas. Já passava das dez. Ele já devia estar no escritório dos advogados desde as oito. Do outro lado da linha o Chef da equipa do projeto Stark falava de forma rápida e concisa, mas era demasiada informação para ele absorver, no estado em que estava. Algo de muito grave tinha acontecido. 
«Luís dá-me cinco minutos e já te ligo de volta.» Disse ele, ainda meio a dormir. 
Foi até à casa de banho e tomou um duche rápido. Depois de refrescado procurou por as ideias em ordem. A sua mente trabalhava agora, rapidamente, para tentar entender o que se tinha passado. Pediu o pequeno-almoço no quarto e ligou ao Luís. Tinha acontecido uma hecatombe. A contraparte da operação Stark tinha retirado a proposta e exigia falar exclusivamente com eleDepois de uma longa conversa ele percebeu que tinha falado demais durante a noite. «Como pude ser tão ingénuo?» Interrogou-se 
A nova equipa do vendedor não era apenas diferente, tinha uma postura completamente distinta. Eles sabiam o trunfo que tinham na mão e isso tinha um preço: um aumento de quarenta e por cento da proposta. Jair de Lins utilizou um dos seus truques favoritos. Simulou um nervosismo que não sentia e no meio ingeriu uns frutos secos aos quais era alérgico. Ele sabia que quando tomasse a medicação voltaria ao normal no espaço de uma hora, mas precisava de ganhar tempo. Quando a ambulância arrancou, com ele deitado na maca, ele disse logo ao médico que o acompanhava o que precisava e quando chegou ao hospital regressou ao hotel pelo seu próprio pé. Entretanto, a reunião foi adiada dois dias. Isso devia ser tempo suficiente para ele encontrar uma solução. Decidiu investigar a vida de Cristine Spruit e ficou a saber que ela tinha uns quantos esqueletos no armário. Mas precisava de algo muito forte pois o que ela sabia dos negócios dele era muito perigoso. Ao início da tarde do dia seguinte, depois de enumeras tentativas, descobriu uma saída. Ela tinha uma ligação a uns negócios de lavagem de dinheiro através de um circuito complexo de off shores, que era autêntica Kryptonite.  Estava salvo! 
Os advogados arranjaram forma de ele ficar a sós com Cristine e ele mostrou-lhe um conjunto de documentos que a fizeram ficar de várias as cores. Depois disso ficaram os dois em silêncio. Apesar do que Cristine lhe tinha feito ele só tinha vontade de voltar a estar com ela. Definitivamente, no que dizia respeito a mulheres, ele era totalmente desconstruído.  
«O que queres como moeda de troca para não divulgar os documentos?» 
«Quero voltar ao negócio original.» 
«Isso já não é possível. Proponho uma subida de dez por cento do nosso preço. Isso ainda vos permite uma margem de trinta por cento.» 
Jair de Lins ponderou a proposta. Era uma proposta razoável, considerando tudo o que se tinha passado. Uma hora depois o negócio estava fechado. 
Sentado no avião, já de regresso a Lisboa, ele refletia sobre o que se tinha passado. Tinha de começar a ter mais cuidado pois um destes dias fazia uma asneira que não conseguia consertar e isso podia ser o fim da sua carreira. Recostou-se e adormeceu. 

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