Resposta à carta de amor perdido
Luís,
Faz um ano que recebi a tua carta. O primeiro
impulso foi rasgá-la e deitá-la no lixo. Decidi guardá-la, embora sem a certeza
de algum dia a abrir. Estava cansada de ti e apenas queria distância. Hoje
sonhei contigo. Foi um sonho muito intenso e real, tanto quanto um sonho pode
ser! Tão real que quando acordei tive vontade de ler a tua carta. Li e reli a
carta vezes sem conta e chorei. Chorei de emoção, chorei de arrependimento,
chorei de desespero e no fim chorei mesmo de dor.
Sim chorei!
Chorei de emoção, porque parti deixando para trás
um homem fantástico como tu. Tu deste-me tudo sem eu o pedir, adivinhando os
meus desejos e anseios e eu, de forma leviana, senti-me incomodada por receber
tanto. Hoje tenho consciência do valor que isso tem. Sei o que é pedir e não
receber. Sei o que querer e não ter. Sei o que é viver da angústia da saudade,
pois aquela que sinto por ti teima em querer matar-me. Esta emoção que a minha
alma liberta, sob a forma de lágrimas, são uma mensagem de amor que se liberta
sempre que leio a carta.
Sim chorei!
Chorei de arrependimento, por ter desperdiçado um
amor tão grande e tão profundo quanto o teu. Hoje eu consigo compreender o
quanto tu me amavas e o quanto eu te amava. Na verdade tenho a certeza que
ainda amo. Logo depois de ter iniciado o segundo relacionamento, após ter-te
abandonado, eu comecei aperceber que ainda te amava. Parti na ilusão de que
encontraria um homem melhor que tu, para chegar à conclusão de que tal homem
não existe. Nenhuma das relações funcionou porque, embora sem o saber, eu ainda
te amava, mas também porque nenhum dos homens que tive me amou como tu me
amaste. E como na canção eu peço “Ó tempo volta para trás e traz-me tudo o que
eu perdi…”
Sim chorei
Chorei de desespero porque depois de todo este
tempo tu deves ter encontrado alguém que te ame e te mereça, muito mais do que
eu. Eu não soube compreender-te, não soube aceitar tudo o que me davas e ao
invés de retribuir com amor dei-te desprezo. Nos meus sonhos tu voltas a ser
meu e vivemos momentos de intenso prazer e grande luxúria. Tu possuis-me e eu
entrego-me a ti sem reservas. Sonho com passeios de mão dada à beira rio, com
noites quentes, passadas no alpendre, embalados pelas estrelas. Com beijos
quentes e molhados, em que as nossas línguas se guerreiam por prazer. No
entanto, ao acordar, sou invadida pelo desespero. O desespero de estar só! É um
desespero que me dilacera o corpo e consome a alma.
Sim chorei!
Chorei de dor. Uma dor que me mata aos poucos. Uma
dor que nasce do amor que sinto por ti. Este sentimento que sempre esteve
dentro de mim e que eu ignorei. Jurei a mim própria que não existia, que era
apenas comodismo, para justificar a minha partida. Eu procurava o paraíso e, ignorando que o abandonava, desci ao inferno! A dor dilacera-me o coração.
Rasga-o aos pedaços! Prostra-me perante a vida e perante ti. De joelhos no solo
e cabeça caída rezo pois nada mais me resta que orar! Não tenho o direito de te
pedir nada, mas se o meu amor te puder reconstruir eu estou disposta a dedicar
a minha vida toda a fazê-lo.
Com amor
Patricia
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