Resposta a amor Adiado
Henrique,
Confesso que fiquei
aborrecida quando vi a tua carta. Tínhamos combinado não ter nenhum contacto
durante três anos! O primeiro instinto foi desfazer-me dela, mas deixei-a em
cima do criado mudo. Durante três dias a carta olhou para mim com ar de
censura, ou talvez fosse eu a criticar-me por não a abrir. Depois de a ler fiquei arrasada. O amor que
sinto por ti e que eu vinha recalcando, como forma de conseguir manter a
sanidade, longe de ti, tomou conta de mim. O meu coração palpitou por ti, os
meus olhos choraram de saudade e o meu corpo revoltou-se com a ausência das
tuas carícias.
Aquilo que te
propus deixou de fazer qualquer sentido. Hoje parece-me ridículo que eu tenha
tido a coragem de te propor este tipo de afastamento. A prova de amor que me
deste quando a aceitaste apenas é ultrapassada pela que me dás agora ao ter a
coragem de escrever esta carta. Eu fui abençoada com o teu amor e só Deus sabe
o quanto eu também te amo, mas o facto de eu estar longe não é motivo para não
alimentarmos a chama deste grande amor.
Li a tua carta
várias vezes porque as tuas palavras funcionaram com um balsamo para a dor
deste meu coração atribulado e enquanto a leio sonho contigo. Sonho com os
momentos que passamos juntos. Com os momentos em que os nossos lábios se uniram
num beijo cândido e repleto de amor ou quando se entreabriram para deixar que
as línguas se digladiassem, explorando as nossas bocas em passos de uma dança
guerreira, para depois se entrelaçarem e num valsa ritmada se entregarem a uma
explosão de prazer. Sonho com os momentos em que os nossos corpos se buscaram
na ânsia de satisfazer o desejo que os consumia, para se fundirem num clímax
universal. Revivo os momentos em que, de mão dada, passeamos à beira rio,
usufruindo do prazer da companhia um do outro e, envolvidos pelo manto do amor,
comunicamos esse sentimento, um ao outro, sem necessidade de palavras.
Um amor assim não
pode ser adiado. Um amor assim merece ser vivido ainda que a distância nos
abrigue a adiar o contacto físico. O nosso amor é tão intenso e profundo que a palavra é suficiente, não apenas para
o manter, mas para o fortalecer. Mas, tal como tu eu quero mais. As obrigações
profissionais podem levar-nos a manter a distância, mas a nossa vontade é
superior a isso. Por isso, quero passar as férias contigo, mas sei que tens a
próxima semana livre e nada me daria mais prazer do que ter-te a meu lado.
Vem que os meus
braços anseiam pelos teus como o mar anseia pela praia, para se estender sobre
ela, num contato mimoso, deixando-se sumir numa fusão trespassante, que os une
sem que percam a identidade.
Vem porque mais do
que querer ou desejar o meu ser
precisa do teu para se sentir completo. Para ter forças para sobreviver à
distância que a vida nos impõe.
Sim, vem amar-me e
ser amado. Sim, sou eu que te peço: Vem!
Com amor
Filipa
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