A CEIFA
Valdemar estava muito zangado. Os pais
tinham prometido que a ceifa não seria feita no dia de São João ou na véspera,
mas devido ao anúncio do mau tempo tinham antecipado. O pai, vendo apenas o seu
lado, estava irritado com o mau humor do filho.
«O Valdemar julga que a vida é só farra? Ele tem de ajudar
quando é necessário.» Disse à esposa.
«Quem te ouvir falar vai pensar que não costuma ajudar. Ele já
tinha pedido esta noite, lembras-te?»
«Afinal o que têm de tão especial esta noite?»
«Ele é o responsável pela equipa que vai construir o palanque
dos manjericos. Tu, melhor que ninguém, devias saber o que isso significa, pois
andavas sempre metido nessas aventuras!»
O pai ficou apreensivo. Para além de estar a fazer um mau juízo
do filho, sabia bem o significado de não existir um palanque. Era tarde demais
para voltar atrás. Ele tinha as pessoas apalavradas para a ceifa e não podia
dispensar os três filhos. Precisava de todos os braços e mesmo assim não deviam
terminar antes das duas da manhã. Jantaram em silêncio: Valdemar não estava com
vontade de falar e o pai não sabia como pedir desculpas ao filho. Pura e
simplesmente não fazia parte da sua forma patriarcal de ver a vida.
A ceifa começou às vinte e duas. Não podia começar antes, pois o
centeio estaria muito áspero e para além de se partir, soltaria muito grão para
o chão. Ao todo eram dez pessoas, cinco lá de casa e cinco a rogo. Quando viu a
Célia o rosto de Valdemar transfigurou-se. Era a moça mais bonita da aldeia. O
campo tinha aproximadamente cem metros de comprimento, por trinta e cinco de
largura. O anfitrião mandou colocar as dez pessoas a toda a largura do terreno
e a ceifa começou. Valdemar ficou num extremo e o pai no outro e o sorteio
ditou que a Célia ficasse ao lado dele. Em perfeita sincronização os corpos
dobraram-se e as foices, empunhadas pela mão direita, selecionaram a quantidade
de pés de centeio a cortar. Quase em simultâneo, a mão esquerda abarcou-os,
dobrando-os ligeiramente para a frente, enquanto a foice os cortava. Todos eles
dominavam a técnica na perfeição. Agora era uma questão de ter costas para
quatro horas de trabalho. Ao fim de duas horas Célia, que era a menos
experiente começou a fraquejar. Valdemar, sem dizer nada, começou a ceifar um
pouco da largura do terreno que lhe cabia e ela sorriu-lhe, num agradecimento
mudo. A ceifa também era uma competição. As pessoas eram avaliadas de muitas
formas, na aldeia, mas a sua performance, nas várias atividades agrícolas, era
a principal.
Os gasómetros foram apagados por volta das vinte e três horas,
pois a lua já ia alta e o luar daquela noite de Junho, parecia um sol de prata.
A noite ficou povoada de tons e nuances parecendo um filme a preto e banco, em
que as sombras e os locais iluminados contracenavam, contribuindo para dar cor
à noite. O luar tinha animado o palavrar que foi subitamente interrompido pelo
canto de uma sereia. Célia fez ouvir a sua voz o que era uma coisa rara.
Valdemar já tinha ouvido elogiar esse dote, mas nunca tinha tido a oportunidade
de a ouvir. Ficou especado com a foice encostada à canela e o punho direito
cerrado à volta de um punhado de centeio. Parecia que estava a ouvir um anjo.
Como se ele alguma vez tivesse visto um anjo!
«Ó rapaz vais ficar a noite toda embasbacado? Ainda temos muito
trabalho pela frente.» Gritou o pai do outro lado.
Valdemar pôs mãos à obra. Teve que fazer um esforço grande para
se concentrar e dar conta do recado. Respirou fundo e deixou que aquela voz
melodiosa lhe entrasse nos ouvidos e ela invadiu-lhe o coração. Isso em vez de
o enfraquecer deu-lhe energia e, de uma arrancada, levou o seu canto para a
dianteira, obrigando as costas dos outros a dobrar-se, num ritmo mais acelerado,
para o acompanhar. Um pouco antes da uma da manhã foi servido uma ceia. A
especialidade da dona da casa eram pasteis de bacalhau, pequeninos e
deliciosos. Mas havia salpicão, vinho e pão de milho. No final da ceifa seria
servido um caldo verde, que tinha ficado à lareira, na panela de ferro.
Valdemar tinha pensado ir ter com os amigos depois da ceifa, mas, deslumbrado
pela Célia, esqueceu completamente do assunto. Quando o caldo verde foi servido
ele estava a conversar com ela ao luar.
«Tinha ouvido dizer que eras uma donzela, que vivia numa redoma
de vidro, mas hoje vi-te dobrar as costas melhor do que muitas mulheres
habituadas à labuta.»
«Não tão bem quanto tu, que fizeste uma parte do meu trabalho.»
Respondeu Célia.
Valdemar sorriu. Estava encantado com ela. Os olhos verdes, em
forma de amêndoa, tinham um brilho intenso e transmitiam um carinho que ele
nunca tinha visto. Ela, ao ver o seu olhar de admiração, sorriu e virou-se, fazendo
que o luar lhe batesse em cheio no rosto. O conjunto era de uma beleza
extraordinária. Os cabelos brilhantes emolduravam um rosto perfeito, onde sobressaía
um sorriso alvo. Valdemar não conteve as palavras.
«Meu Deus! Tu és mesmo bonita!»
«Não digas isso muitas vezes! Olha que eu ainda acredito que, um
homem encantador como tu, está impressionado com uma simplória como eu.»
A verdade é que estava. Célia era de uma família simples e
apenas tinha estudado até ao nono ano de escolaridade, tendo em seguida ido
aprender costura. Era uma costureira dotada: aos dezoito anos já fazia vestidos
e outras peças de roupa, por encomenda. Valdemar tinha continuado a estudar e
preparava-se para partir para Lisboa: ia para a universidade.
«Já alguma vez pensaste em ser cantora profissional?»
«Isso não é para mim. Não tenho nem o enquadramento familiar,
nem geográfico, que permitam essa opção.»
Valdemar ficou impressionado com o bom senso dela. Apesar disso,
acrescentou:
«Sabes que querer é poder!»
Ela olhou-o diretamente. Estava séria e com um olhar penetrante.
Parecia prestes a dizer algo muito importante.
«Cantar dá-me muito prazer, mas não quero fazer vida disso.
Aquilo que eu quero mesmo é ser feliz, mas a felicidade que anseio também
parece estar longe do meu alcance!»
A forma intensa como pronunciou as palavras e como marcou
algumas delas era clara. Ela gostava de alguém que considerava estar fora do
alcance dela. «Quem dera que essa pessoa fosse eu!» Pensou Valdemar.
A sua expressão deve ter denunciado o que lhe ia na mente. Ela
aproximou-se dele e deu-lhe um beijo no rosto. Quando o rosto dela se afastou, ele
segurou-lhe a mão com delicadeza. Célia apertou a mão dele com firmeza e
sorriu-lhe. Estava quase tudo dito!
«Queres namorar comigo?»
«É tudo o que eu quero na vida.» Disse ela.
Valdemar segurou-a pelos ombros e puxou-a para si abraçando-a.
Os corações deles batiam de forma desordenada e as pernas de ambos pareciam
varas verdes ao vento. Olharam-se nos olhos. Apesar de apenas terem falado,
verdadeiramente, um com o outro, naquela noite, parecia que se conheciam desde
sempre. O olhar transmitia um misto de sentimentos e eles dispensaram as
palavras. Era um olhar de ternura, de admiração, de amor e de paixão. Naquele
momento eles tiveram a certeza que pertenciam um ao outro. Não havia obstáculos
que não ultrapassassem, ou barreira que eles não pudessem saltar.
O beijo aconteceu de forma natural. Foi um beijo desajeitado, um
beijo inexperiente, mas carregado de paixão. Os lábios devoraram-se e entreabriram-se.
O toque acidental das línguas foi eletrizante e eles descobriram o prazer que
isso lhes dava. Os corpos colaram-se um ao outro e as bocas continuaram a
explorar-se, num beijo interrompido, apenas para ser reatado. Estavam noutro
mundo: o mundo deles. Quando regressaram à realidade, a tia da Célia estava
especada ao lado deles. Estava na hora de irem para casa.
O dia de S. João, nesse ano, coincidia com um domingo. O largo
da capela de Nossa senhora da Conceição estava lindo. O Palanque fora montado
durante a noite e os manjericos, que tinham sidos subtraídos aos seus
proprietários, durante os últimos quinzes dias e tratados com todo o carinho,
estavam todos expostos. Era um espetáculo digno de se ver. Todos aqueles que
tinham praguejado, quando perceberam que os seus vasos tinham desaparecido,
estavam, agora, orgulhosos. Apesar disso, pairava no ar algo de estranho. O
Padre João estava possesso. Durante a noite os jovens tinham-se envolvido numa
batalha campal com quatro bêbados, que tinham interrompido os trabalhos e
tinham-nos deixado em mau estado.
«O Valdemar é um dos grandes responsáveis pelos desacatos de
ontem à noite!» Disse o padre, apontado o dedo ao Ti Joaquim.
Apanhado de surpresa o homem não reagiu e foi o compadre, que
tinha entrado com ele, que confrontou o padre. Era um homem pouco ligado à
igreja, ao contrário do Ti Joaquim. Aproveitou a injustiça para descarregar o
fel no padre.
«O Sr. Julga que por ser padre pode falar assim com as pessoas?»
Disse ele, de cima do seu metro e noventa.
Tinha dado um passo em frente e olhava o padre de cima e de
forma ameaçadora. O compadre Joaquim e o sacristão tentaram agarrá-lo e ele
sacudiu-os com violência. O padre, entretanto, tinha-se encolhido, de encontro
à parede e tentava justificar-se.
«O senhor devia saber, melhor do que ninguém, que não se deve
acusar sem provas. Isso é uma atitude covarde, mas vinda de um padre é
inqualificável. O Valdemar esteve connosco na ceifa até às duas e trinta da
manhã e depois estava tão cansado que foi dormir.» Disse o compadre, espetando
o dedo na cara do padre.
Entretanto, o padre passara de pálido a vermelho ao ver Valdemar
entrar na porta da sacristia. Tinham-lhe dado uma informação errada, mas ele
deveria não só tê-la verificado antes de a usar, mas, sobretudo, deveria ter
confiado um pouco mais no Valdemar. Foi com angústia que o viu desaparecer,
pela porta da sacristia, depois de se inteirar do que se passava.
«Isto é o que acontece pelo facto da igreja se julgar melhor que
nós e de pensarem que podem julgar-nos e condenar-nos, mesmo sem nos ouvirem.
Pensei que a inquisição tivesse terminado há muitos milhares de anos!» Retornou
o compadre.
Ti Joaquim levou o compadre para a rua, para que os ânimos se
aclamassem, mas dessa vez os populares estavam do lado dele e o padre em maus
lenções. O padre aproveitou a homilia para fazer o ato de contrição, mas
estragou tudo quando a terminou dizendo que tinha sido enganado, o que, sendo
verdade, não justificava a sua atitude.
Valdemar era o rapaz mais popular da aldeia, isso resultava do
pequeno incidente com o padre, mas sobretudo do seu namoro com a Célia. Quando
saíram do adro, de mão dada, no fim da missa, os populares olhavam-nos com
admiração. Eles eram o casal perfeito. Apenas a velha Alice, avó da Célia,
abanava a cabeça.
«Eles são de mundos diferentes!» Dizia com um ar sábio, de
experiência feito
Os outros criticavam-na e diziam para ela não ser pessimista e
ela acabou por guardar os pensamentos apenas para si. Talvez fosse melhor assim,
para não agoirar a relação. A neta merecia isso e muito mais. O tempo passou e
chegou o dia da partida. Valdemar e Célia estavam verdadeiramente apaixonados e
não existia nada nem ninguém que os pudesse separar, mesmo a distância. Era um
amor puro. Puro nos sentimentos e nos atos. Apesar de se desejarem, com
intensidade, o contacto físico não tinha ido além dos beijos e de algumas
carícias mais íntimas. Ela queria continuar virgem e Valdemar estava disposto a
respeitar isso. Assim, Valdemar partiu para Lisboa e todas as semanas escrevia
à sua amada. Eram cartas de amor, em prosa ou em poesia, mas um testemunho
verdadeiro do profundo sentimento que os unia. Valdemar veio passar o Natal a
casa e o encontro com Célia foi algo indescritível. A saudade e o desejo foram
faúlhas que incendiaram os seus corpos e quase se entregaram um ao outro. No
último instante Célia vacilou.
«Desculpa amor, mas eu quero continuar virgem no dia em que nos
apresentarmos perante Deus, no altar do nosso casamento.»
Valdemar não insistiu, mas era notório que não aceitava isso da
mesma forma como acontecera durante o verão. As férias do Natal terminaram e
ele voltou para Lisboa. A vida na capital era diferente e as mulheres tinham
uma postura mais liberal. Valdemar era um homem inteligente e interessante
fisicamente. No segundo semestre, tronou-se evidente que seria o melhor aluno
do ano e isso deu-lhe uma visibilidade fatal. No baile do Carnaval, conheceu
uma moça, da faculdade de farmácia, que mudou a sua vida. O primeiro beijo
trouxe consigo o remorso e tentou afastar-se, mas ela não o largava, quer isso
fosse o resultado da bebida ou de uma paixão à primeira vista. As mãos dela
trabalhavam o corpo dele com mestria e não tardou muito encontravam-se no
quarto que ela tinha na residência universitária. Ela era dois anos mais velha
e uma mulher experiente. Ele era virgem. Quando a Júlia percebeu isso sentiu-se
uma supermulher. Foi paciente com ele e ensinou-lhe como tratar uma mulher. Foi
uma noite inesquecível. De manhã, Valdemar acordou ao lado da Júlia e deu um
salto na cama. Vestiu-se antes dela acordar e desapareceu. Dentro dele
desenrolava-se uma luta de titãs. De um lado o amor por Célia e o consequente
remorso, do outro o prazer que Júlia lhe tinha feito viver e que Célia lhe
negava. «Como posso confundir sexo com amor!» Dizia ele, para si próprio.
Esteve com a Júlia mais uma ou duas vezes depois ela desinteressou-se dele. Já
lhe tinha ensinado tudo e estar com ele deixou de lhe dar gozo. Valdemar achou
isso uma bênção. Ele não lhe conseguia resistir, assim não teria sequer de o
tentar fazer. Valdemar estava mudado. Tinha provado algo sem o qual tinha
deixado de ser possível viver. Isso fez com que passasse a olhar para as
mulheres de forma diferente. Elas pareciam perceber isso e retribuíam o olhar.
Apenas o amor que sentia por Célia tinha evitado um novo romance. Tinha de
falar com ela.
Chegaram as férias da Páscoa e Valdemar voltou à sua aldeia. O
encontro com a Célia foi bom, mas existia uma sombra entre eles que impediu o
mesmo de ser maravilhoso. Algo que nenhum dos dois sabia explicar, talvez
Valdemar soubesse, mas não estava disposto a fazê-lo. Valdemar disse à Célia o
que lhe ia na alma. Amava-a mas não estava disponível a esperar cinco ou seis
anos para fazer amor com ela.
«Podemos casar já.» Disse ela.
«Nem pensar. Eu não me caso enquanto não tiver um emprego e uma
casa.»
«Percebo isso e respeito-o. Mas da mesma forma que tu só casas
nessas condições, eu só faço amor depois de casada.»
«As mulheres hoje não pensam assim.»
Ela acusou o golpe. Suspeitou que ele já tinha provado aquilo
que ela lhe negava, mas não quis ir por aí. Sabia que o perderia e contornou a
situação.
«Não sei que tipo de mulheres tu conheceste em Lisboa, mas eu
sou assim. Se me amas como dizes, então tens de me aceitar como sou.»
Valdemar deixou-se convencer. Ele amava mesmo Célia, tinha de se
refugiar nesse amor e resistir à tentação. Mas isso era mais fácil dizer do que
fazer! Regressou a Lisboa e quinze dias depois conheceu uma mulher fantástica.
Ela não se entregou logo a ele, como tantas outras, mas amou-o sem reservas.
«Serei tua quando tu me amares tal como eu te amo.» Dizia ela.
Valdemar protestava o seu amor, mas sabia que vivia uma mentira.
Ele tinha dois amores. Sim, ele amava a Laura e ao mesmo tempo amava Célia.
Laura não sabia do outro amor, mas intuía que o coração de Valdemar não era cem
por cento seu. Com o tempo e quase sem se aperceber disso esqueceu a Célia.
A carta confrontou-o com a realidade. Normalmente ele escrevia
primeiro e Célia respondia, mas fazia um mês e meio que ele não lhe escrevia. A
carta dela colocava a questão à qual ele tinha, até aí, evitado responder:
Tinha Valdemar deixado de amar a Célia? A resposta era óbvia. Célia era uma
lembrança pálida. Laura preenchia por completo o seu coração. No entanto,
desculpou-se com os exames e escreveu uma carta meio insipida. Célia ficou com
o coração apertado. Ele regressaria dentro de um mês e nessa altura todas as
dúvidas seriam esclarecidas, mas a espera prometia ser dolorosa. Perdeu o
apetite e o seu rosto era o espelho da tristeza. Era o seu coração a antecipar
a realidade com que seria confrontada. A razão argumentava e quando isso
acontecia uma réstia de esperança acendia-se dentro dela. Vivia num limbo. A
questão era se ascenderia aos céus ou desceria ao inferno.
Finalmente, chegou o dia tão esperado. Valdemar estava glamoroso.
Tinha um ar bronzeado, um ar feliz. Célia era exatamente o inverso. Tinha
perdido o brilho. Os olhos transmitiam medo e o corpo reagia em consonância,
encolhendo-se. Isso diminuía-a de uma forma dramática.
As palavras de Valdemar mataram a réstia de esperança que a
fizeram descer as escadas do alpendre.
«Tens a certeza que, amas essa mulher?» Perguntou Célia.
Sem o dizer abertamente ela estava disposta a dar-lhe outra
oportunidade. Seria o perdão em troca do amor.
«Sim. Eu amo a Laura.»
Ela ficou parada a olhar para ele. Tinha que ser forte. O homem
que ela pensara que amava não a mereceria, por isso, não lhe daria a
oportunidade de a consolar. «Meus Deus dai-me forças para sair daqui pelo meu
pé.» Pediu, numa prece.
«Nesse caso Adeus. Desejo que sejas feliz.»
Depois destas palavras ela virou-se e partiu. Valdemar ficou ali
especado. Estava à espera de uma despedida diferente. Talvez que ela tivesse
argumentado ou outra coisa qualquer. Tudo menos aquele virar de costas. Depois
riu-se de si próprio. «Estava à espera de que? A Célia ama-me e eu digo-lhe que
a traí com outra mulher. Ela deu-me uma grande lição.» Pensou. Virou as costas
ao alpendre e partiu. Ao contrário do que tinha pensado não estava aliviado. Se
ao menos Laura ali estivesse. A verdade é que nem isso iria alterar o
sentimento de culpa e remorso que tinha tomado conta dele. Tinha traído a mulher
que o amava e que ele também amava, ou pelo menos tinha amado e a traição era
muito má companheira.
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