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O FETICHE



O FETICHE
  
A revelação surgiu de forma inesperada, a caminho do almoço. Gonçalo deixou cair a confissão: sentia-se atraído por mulheres mais velhas. Os três companheiros de repasto brincaram com o assunto, mas a coisa morreu por aí. Afinal tudo não passava de uma brincadeira. O que eles não imaginavam era a verdade que se escondia por detrás daquelas palavras.
Gonçalo era um jovem de trinta e cinco anos de idade, casado e pai de dois rapazes. Sempre teve uma atração especial por mulheres mais velhas, mas, condicionado pela opinião dos que o rodeavam, casou com uma mulher da sua idade, de quem gostava verdadeiramente. No entanto, a atração por mulheres mais velhas nunca tinha desaparecido. Aquilo que complicava as coisas é que, nos últimos anos, esse desejo vinha crescendo de uma forma, que se tornava cada vez mais difícil ignorar.
Naquele fim-de-semana aconteceu tudo. A mulher estava fora, em trabalho e coube-lhe a ele levar os filhos ao parque. Estava um dia maravilhoso de primavera e já cheirava a verão. As mulheres e as jovens tinham-se libertado dos casacos e exibiam as formas despudoradamente. Isso repetia-se anualmente, mas, para ele, era sentido como se cada ano fosse a primeira vez. As crianças, de seis e oito anos, respetivamente, travaram logo conhecimento com uma menina de sete anos, que estava acompanhada de uma senhora que tanto podia ser mãe tardia, como avó. Devia andar nos quarenta e muitos, quase cinquenta, mas tinha um corpo bem conservado, apesar de não conseguir negar que já não era uma jovem. O rosto era atraente, sem ser belo e os cabelos emolduravam-no de uma forma graciosa. Os olhos castanhos, de amêndoa, pareciam dois sóis a brilhar, cativando quem neles se fixava. Foi o caso de Gonçalo.
«Vejo que os seus filhos simpatizaram com a Maria.» Disse a senhora, com um sorriso aberto.
«Sempre que cá vimos eles conseguem arranjar logo amigos.»
«O meu nome é Catarina e a Maria é minha neta.»
«Muito prazer. O meu é Gonçalo. Ninguém diria que já é avó!» Disse de forma sincera.
Os olhos dela disseram tudo. Tinha gostado do elogio. A verdade é que tinha gostado do Gonçalo mal o viu aproximar-se do parque. Gostava de homens loiros, de olhos azuis e não se importava que eles possuíssem uma barriguinha. Isso era a fotografia de Gonçalo, sem tirar nem pôr. Era apenas uns cinco centímetros mais alto que ela, que tinha um metro e setenta. Estava tudo perfeito!
«A mãe das crianças hoje não veio?»
Gonçalo entendeu perfeitamente a indireta, mas não conseguia mentir. Sabia que ia dar cabo do encanto do momento, quando dissesse que era casado, mas mesmo assim não hesitou.
«A mãe está fora em trabalho, mas amanhã já está de volta.»
«Isso significa que hoje está solteiro. Aproveite para se divertir.» Disse ela, de forma insinuante.
Gonçalo sentiu-se ainda mais atraído por aquela mulher. «Afinal ela não fugiu!» Pensou. A vontade que sentia, de a agarrar e beijar, obrigou-o a cerrar os punhos para resistir. Ele era um homem casado e apesar daquela atração por mulheres mais velhas e em específico por aquela avó, ele amava a esposa. Jogaram mais um pouco de conversa fora e cada um partiu para seu lado. Na hora de sair do parque, hesitaram os dois e acabaram por chocar. Ela segurou-se no bolso do casaco dele, para não cair e desataram os dois à gargalhada.
A meio do caminho, de regresso a casa, Gonçalo recebeu um telefonema dos sogros, a dizer que iriam lá buscar os rapazes para passar a noite com eles. Gonçalo ligou à mulher. Ele não tinha programa para a noite, mas ela insistiu em que ele deixasse ir as crianças. Ele preparou-se para passar um fim de tarde e noite a ler e a ver televisão. Riu-se de si próprio. Era mesmo programa de homem casado! Antes de tirar o casaco meteu a mão no bolso para tirar o telemóvel. Juntamente com o aparelho veio um cartão. O cartão era da Catarina. Tinha a fotografia dela, o nome e o número de telefone. Por baixo de tudo tinha uma palavra: Telefona-me.
Gonçalo ficou sem saber o que fazer. Andou às voltas pela casa e mentalmente começou a fabricar cenários. O que aconteceria se ele ligasse, como seria a Catarina, que desculpa daria à mulher para sair de casa, etc. Apesar de ainda não ter tomado consciência disso, ele já tinha tomado a decisão. Telefonou-lhe. A voz de Catarina era muito sensual ao telefone. Quando ele se identificou, tornou-se doce e sedutora. O encontro foi em casa dela. O marido dela viajava muito e ia estar quinze dias fora. Gonçalo tremia quando tocou à campainha. A forma simples e desinibida como ela o mandou entrar deixou-o um pouco mais à vontade. Sentaram-se os dois no sofá, não muito longe um do outro e conversaram um bocadinho.
«Vou colocar um filme para vermos antes do jantar.»
Já estavam ali há algum tempo e ele não a viu levantar-se para tratar da refeição. Sendo um homem que gostava de comer estava curioso. O filme era uma deixa bem direta. Tratava-se de um filme para adultos. Quando ele se virou já ela estava em cima dele, beijando-o e acariciando-o. Foram-se libertando das roupas e tornou-se claro que o corpo dela já tinha vivido melhores dias. No entanto, possuía ainda um grande encanto, as dobras que aqui e ali adornavam o corpo, deixaram-no verdadeiramente excitado. Era incrível como ele estava a adorar o momento. Ela pressentiu o quanto o excitava e isso deixou-a louca. Estremecia de prazer em antecipação e as gotas que desciam pela coxa, tornaram isso visível. Mostrou-lhe o caminho para a sua nascente e ele não se fez rogado. Beijou-a e deleitou-se com o néctar dela. Fê-lo com tal entusiasmo que a levou à loucura, mas continuou até ela parar de tremer de prazer. 
Catarina puxou-o para cima dela e rodou sobre ele. Beijou-o nos lábios, provando o sabor do seu próprio néctar. Desceu lentamente, explorando cada centímetro do corpo dele. Queria dar-lhe todo o prazer do mundo. Quando chegou ao baixo-ventre ele estava com uma ereção descomunal. Tomou-o nas mãos e deliciou-se beijando-o e acariciando-o. Depois fê-lo desaparecer na boca. Era como se ela o estivesse a envolver com seda quente e húmida. Era um misto de sensações, em simultâneo, que o fizeram perder o controlo. Soltou um urro e libertou o líquido fecundador de forma ininterrupta. Era como uma nascente no fim do inverno.
Depois do jantar mudaram-se para o quarto e ela ensinou-lhe a utilidade de uma série de instrumentos. Ele usou-os nela, uma e outra vez e aquele corpo ganhava vida. Uma vida que faria inveja a qualquer jovem. Isso deu-lhe tanto prazer que atingiu o clímax mesmo sem outro contacto físico. Foi uma noite inesquecível! No que dizia respeito à arte do prazer, a idade enriquecia. Nessa noite, ele percebeu a razão porque tinha aquele fetiche!


Comentários

  1. Uau!!
    Adorei o texto. Bastante entusiasmante como excitante.
    Bom trabalho, boa continuação.

    Os Piruças

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado pelo vosso comentário (assumo que estou a falar com duas pessoas). Obrigado por lerem. Escrevo fundamentalmente por mim, mas qualquer incentivo constitui aquele adicional que nos faz ir um passo mais além. Mais uma vez obrigado.

      Eliminar
    2. Boas Manuel.

      Presume e bem, está a falar com duas pessoas.

      Desejamos uma boa continuação.
      Beijos e abraço.

      Os Piruças

      Eliminar

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