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O PALHEIRO


O PALHEIRO

Ezequiel aos catorze anos tornou-se homem. Embora, apenas bastante mais tarde tivesse entendido, verdadeiramente, aquilo porque estava a passar. Adelaide passava por ali todos os dias, por volta das seis e meia da tarde. Regressava a casa depois de um dia de trabalho: era empregada doméstica, na casa do Dr. João Campos.
Nesse dia, ela desafiou-o para a apanhar e refugiou-se por detrás do poste de telefone. Começaram a jogar ao rato e ao gato. Quando cada um deles estava num dos lados opostos do poste, ela deixava-se apanhar, embora esbracejasse, aproveitado para tocar as partes do corpo dele onde conseguia chegar. Ele fazia o mesmo. Não tardou em ficar excitado, sentindo o volume das calças a aumentar, no baixo-ventre. Ela deixou que ele lhe tocasse os seios e que a segurasse contra o poste, durante alguns segundos, pelas nádegas. Depois escapou-lhe e, agarrando-o pelos pulsos, puxou-o contra o poste, rodando para um lado e para o outro. Ele nem queria acreditar no que lhe estava a acontecer. Parecia que algo estava prestes a explodir dentro dele. O seu membro palpitava de uma forma intensa e sentia uma comichão estranha na extremidade. De repente tudo explodiu numa sensação de prazer, que o obrigou a soltar-se e a encolher-se. Ela fugiu, rindo à gargalhada e ele ficou sozinho. Tinha as calças todas molhadas e não percebia muito bem o que tinha acontecido. Sexo era um assunto tabu lá em casa, por isso foi através das revistas, para adultos, que ficou a perceber o que se tinha passado com ele. Agora entendia porque os homens desejavam tanto o sexo.
Ezequiel pertencia a uma família de pequenos proprietários do distrito de Vila Real. Tal como a sua irmã mais velha e o seu irmão mais novo, estudava na Escola Secundária São Pedro: estava no nono ano de escolaridade. Quando não estava a estudar ou nas aulas, ajudava o pai no trabalho do campo. Todos tinham de colaborar, pois a agricultura era de sobrevivência. O pai tinha uma pequena pensão de invalidez que se revelava uma grande ajuda no sustento da família. Na hierarquia da aldeia eles pertenciam aos proprietários, o que os colocava na parte superior da estrutura da pirâmide social. O pai de Adelaide era um trabalhador agrícola, fazendo-o por conta de outrem. Ela tinha mais cinco irmãs, quatro mais velhas e uma mais nova. Não tinham nem interesse, nem motivação para continuar os estudos, para além da quarta classe. Adelaide juntava a esses dois fatores uma limitação natural. A natureza tinha-lhe dado outros dotes. Tinha um rosto perfeito, emoldurado por uns cabelos loiros e uns olhos azuis, que faziam dela uma mulher muito bonita. Era de estatura média, para mulher e tinha formas redondas e perfeitas: tinha um corpo de guitarra. O facto de ser um pouco forte era a única desvantagem. Adelaide tinha completado dezasseis anos e, apesar de ser mais velha que Ezequiel, tinha interesse por ele: quer isso resultasse do facto de gostar dele ou de pretender subir na pirâmide social, dado que se encontrava na base da mesma.
Ezequiel tinha descoberto a sexualidade e passou a satisfazer-se sozinho. No entanto, a experiência com mulheres não ia além das fotografias que via nas revistas para adulto que o vizinho, seis anos mais velho, lhe emprestava. As conversas e os toques ligeiros com Adelaide representavam um salto de gigante. Com o tempo, ele passou a desejar tê-la nua, a seu lado. Embora não soubesse muito bem o que faria se tal acontecesse. Ela parecia-lhe uma mulher experiente, o que o deixava um pouco intimidado, no entanto, as brincadeiras diárias foram-no deixando mais à vontade e isso deu-lhe coragem.
«Um destes dias levo-te para o palheiro, deitamo-nos sobre a manta e vou fazer de ti uma mulher.»
Tinha lido isso num livro e achou que era a expressão adequada. Ela riu-se dele, mas a possibilidade de ser sua mulher agradou-lhe. Era tudo o que ela queria: ser a mulher dele. Naturalmente que, para além da extensão das palavras de Ezequiel, se esquecia dum aspeto muito importante, ele era demasiado novo para isso. Mas quando o desejo é forte, a decisão é tomada com tudo menos com a razão.
O mês de Julho tinha entrado quente e a terra, alimentada por um inverno e primavera chuvosos, respondia em pleno. Os campos estavam verdes e os pés de milho ostentavam os pendões de polinização, como um estandarte. As árvores exibiam as promessas de fruto com orgulho, prometendo um Setembro rico em odores e paladares. As videiras enfeitavam-se com os cachos de uvas, qual mulher exibindo uns brincos novos em dia de festa. A passarada ensinava as crias, recém-nascidas, a alimentar-se e a evitar os predadores. A natureza soltava, em uníssono, um grito estrondoso de vida!
Era sexta-feira e Ezequiel tinha acabado de regar um dos campos de milho, quando viu aparecer Adelaide, pelo caminho da levada, que separava a zona de regadio da zona de sequeiro da quinta. Apressou-se a ir ao seu encontro. Estava descalço, com as calças arregaçadas até aos joelhos, trazia a sachola às costas e o chapéu de palha na cabeça: era a imagem pura e autêntica de um agricultor. Disseram uns quantos disparates e riram-se deles. A determinada altura ele segurou-a pelo braço, puxou-a para ele e tornou-se sério.
«Amanhã quero que venhas ter comigo, ao palheiro, na hora da sesta.»
 O sorriso morreu-lhe nos lábios. Ele era muito novo, mas a perspetiva de estar com ele fê-la estremecer. Ficou húmida e a consciência desse facto ruboresceu-lhe o rosto. Ezequiel ficou fascinado a admirar o rosto rosado dela. «Meu Deus! Ela é tão bonita!» A inocência da idade e a ignorância do que era uma mulher, tornavam-na ainda mais bonita aos seus olhos. O desejo e a paixão adolescente cegavam-no: ela era a mulher mais bonita do mundo. Como se ele conhecesse alguma coisa de mulheres e do mundo! Mas era essa a realidade do mundo dele. Ela foi-se embora sem dizer nada e ele ficou sem saber o que pensar. Nessa noite dormiu mal. Imaginou mil e uma formas de estar com ela. Viu e reviu as revistas. As fotografias eram uma coisa, mas como seria ao vivo?
No sábado, pegou numa manta e foi para o palheiro dormir a sesta. A irmã não estava em casa e o pai tinha ido à cidade com o irmão mais novo, só devendo regressar ao fim do dia. A mãe tinha-se levantado muito cedo e iria dormir a sesta. Isso dava-lhe tempo para estar com Adelaide. «Será que ela vem?» Interrogou-se. Estendeu a manta em cima dos folhatos e foi até à porta espreitar.  O coração saltou-lhe no peito. Adelaide caminhava apressada, pela levada, olhando para um lado e para o outro. De supetão, entrou para o palheiro e fechou a porta atrás de si. Quando se viu sozinho com ela, Ezequiel ficou sem saber o que fazer e bloqueou: parecia adormecido. Ela segurou-lhe na mão, gentilmente e o toque teve o condão de o despertar. Ele puxou-a para si e beijou-a. Era tudo novo para ele, por isso deixou que ela o guiasse. Ele estava de calções e tronco nu e ela acariciou-o sem reservas, nem pudor. Cada toque dela provocava-lhe estremecimentos de prazer. Ela começou a beijar-lhe o corpo e acariciou-lhe as partes íntimas. Ele deu um salto, tal foi a descarga elétrica produzida pelo toque dela. Ela ensinou-o a desapertar o soutien, mas não deixou que ele lho tirasse. Encaminhou as mãos dele por debaixo da blusa e aconteceu um encontro imediato de primeiro grau. Os seios dela eram macios e sedosos e os mamilos estavam tão rijos, que ameaçavam furar a blusa. Quando a encostou a ele, segurando-a pelas nádegas, com força, os mamilos dela pareciam querer fazer dois orifícios no peito dele. Ela tinha uma minissaia rodada e ele levantou-lha, mas ela não deixou que ele lha despisse. Em compensação retirou as calcinhas e colocou-as na bolsa que trouxera consigo. Adelaide segurou a mão dele e mostrou-lhe um novo mundo. Um mundo húmido e viscoso. Foi um pouco diferente do que tinha imaginado. Ela usou a mão dele ensinando-o a estimular, suavemente, a fonte do prazer. Em simultâneo, introduziu a outra mão dentro dos calções dele. Para Ezequiel, foi como se tivesse entrado no paraíso. Ela limpou gentilmente as pequenas gotas de excreções que ele libertava e isso apenas o fazia libertar ainda mais. Ele estremecia, a cada toque dela e parecia que a força das pernas lhe fugia.
«Calma. Tens de aprender a controlar-te.»
Ela começou a beijar-lhe o umbigo e colocou-se de joelhos em frente dele. Ele arregalou os olhos. Será que ela ia mesmo fazer aquilo? O grito fê-los dar um salto. Ela caiu para trás, ficando com a saia levantada e de pernas abertas. Ele nunca tinha imaginado que ela tivesse tantos pelos, naquela zona. Nas fotografias era totalmente diferente.
«Ezequiel!» Voltou-se a ouvir.
Ele veio à porta do palheiro e respondeu à mãe. Ela precisava que ele subisse e a ajudasse com qualquer coisa. Quando se voltou já Adelaide estava levantada e de bolsa a tiracolo. Ele agarrou-a e beijou-a e ela colou-se a ele, mostrando-lhe o quanto o queria. Era uma pena, mas ele tinha de ir.

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